Pantanal é emoção pura em um zoológico a céu aberto
Quatro horas da manhã, esse foi o horário que saímos da pousada na cidade de Poconé rumo à Transpantaneira. Nós dois nosso carro e a escuridão. Assim que entramos nessa estrada que corta o Pantanal mato-grossense, nossos faróis refletiram pequenos olhinhos arregalados no meio da estrada. A freada foi brusca e nós ficamos paralisados, sem saber o que fazer. Jacarés estavam atravessando a estrada e também paralisaram ao ver nossos faróis. Desligamos os faróis por alguns segundos, em uma escuridão total, até que os jacarés se sentissem mais seguros e terminassem a travessia. Essa foi a primeira das dezenas de surpresas que tivemos nessa incrível aventura.
Como um zoológico a céu aberto, na Transpantaneira os animais vivem livres e em harmonia com a natureza. Já tínhamos ouvido e lido diversos tipos de experiências de pessoas que foram ao Pantanal, mas a maioria das experiências tinham a ver com passeios de barco ou safáris bem turísticos pela região. Nós queríamos algo bem peculiar e que pudéssemos ter nossa própria interação com os animais. E foi de uma dica que tivemos de uma agência de viagens lá da Chapada dos Veadeiros que descobrimos a possibilidade de fazer um “safári” independente pela Transpantaneira.
A Transpantaneira é uma estrada que corta o Pantanal do estado do Mato Grosso, inicia na pequena cidade de Poconé e segue por 180 km de estrada de terra, com mais de 120 pontes, até chegar na inóspita Porto Jofre. A aventura começa já na entrada da estrada, e se tem a possibilidade de ver todo tipo de animal selvagem. E no decorrer destes 180 km temos uma surpresa atrás da outra. Iniciar a aventura ainda na escuridão da madrugada possibilita uma interação ainda maior com os animais que, ao início dos raios do sol, andam de um lado para o outro, sem medo ou risco.
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Após sermos recebidos pelos jacarés logo na entrada da estrada, seguimos pelo caminho o mais lentamente possível, com os olhos bem atentos a qualquer movimento, sombra, barulho que pudesse ser de um ser vivo. Deparamos-nos com dois filhotes de Gato do Mato, Lobos Guarás, Capivaras, Veados, uma variedade imensa de aves como as araras-azuis, periquitos, tuiuiús, garças, carcarás, tucanos e a cada nova área alagada mais e mais jacarés.
Após percorrermos os 180 km de estrada, em mais de 5 horas de uma lenta viagem, chegamos à Porto Jofre. Um pequeno vilarejo às margens do rio Cuiabá, que é onde finda a Transpantaneira do lado do Mato Grosso, do outro lado do rio já está o estado de Mato Grosso do Sul. Neste vilarejo há poucas casas, um hotel de luxo e uma pousada de aventura. E foi nesta pousada simples que fomos para nos informarmos sobre os passeios de barco pelo rio. Além de tudo que havíamos visto pelo estrada, a grande “cereja do bolo” de nossa viagem de aventura mora na mata às margens do rio, a onça-pintada, e é no passeio de barco que a chance de vê-la aumenta.
Há chances, mas os organizadores dos passeios de barco deixam muito claro que é pura “sorte”. As onças do pantanal são selvagens, alguns têm a sorte de conseguir avista-las e outros não. Não há como interferir nisso, então pagar pelo passeio (e pagar relativamente caro) não é garantia de ver a onça. Entendemos isso e decidimos ainda sim pagar para ver. O passeio de uma tarde nos custou R$ 500, isso porque estávamos apenas nós dois e sem mais outros turistas para dividir a conta. Como já estávamos ali, e queríamos uma imersão completa no Pantanal, decidimos fazer o passeio. Esperamos dar 13h e seguimos pelo rio Cuiabá.
Sabe aqueles desenhos em que se veem olhinhos para fora da água? Foi desviando destes olhinhos que nosso passeio pelo rio seguiu pelas próximas cinco horas. São tantos jacarés nadando ao lado que o medo até passou, pois parecia que eles já estavam acostumados com nossa presença. Estávamos tensos e ansiosos para ver a onça, mas depois de mais de duas horas navegando pelo rio até o barqueiro já estava nervoso e desesperançoso. Quando já não tínhamos mais esperanças, resolvemos parar de focar na onça e falamos para ele que estávamos interessados em curtir o passeio e ter a oportunidade de ver outros animais. Vimos capivaras nadando com seus filhotes, e outras tomando sol como se estivessem na praia.
Chegamos bem pertinho de uma cobra sucuri, entrelaçada entre a mata às margens do rio. Jacarés de todos os tamanhos e idades e até uma assustadora Ariranha se alimentando.
De repente o rádio do barqueiro tocou e veio a informação de que a onça estava às margens do rio com dois filhotes. Fomos direto para o local informado e lá já estavam outros pequenos barcos, de outros turistas, esperando a onça beber água. Após uns 20 minutos de olhos vidrados nas margens do rio, um filhote se debruçou a beber água, poucos minutos depois a onça mãe e mais um filhote vieram fazer o mesmo. Foram cerca de 5 minutos de pura adrenalina para nós e todos que estavam ali. Um espetáculo da natureza ali, diante de nossos olhos e com apenas alguns metros de rio nos separando. Se a onça poderia vir nadando em nossa direção? Sim, ela poderia. Mas o espetáculo foi tão incrível que ninguém pensou no perigo. E imagino que ela percebeu que ficamos tão extasiados com sua presença, que não seriamos nenhum perigo a ela e seus filhotes.
Após esse espetáculo, saímos pelo rio para continuar nosso passeio agora com sorriso de orelha à orelha. Sim vimos a onça, e, além disso, ela tinha dois filhotes, foram três onças ao mesmo tempo. Com certeza fomos presenteados com o que vimos e a sensação e imagem da onça iremos guardar pela vida toda. Ao navegarmos de volta ao lugar de saída, fomos curtindo o entardecer e, de repente, nosso barqueiro para o barco, aponta para a mata e grita “Puma caçando”. Quando olhamos era uma onça enorme, segundo ele um macho caçando. Foi muito rápido, pois em segundos ela correu para a mata, mas foi mais uma imensa emoção, para fechar com chave de outro esse passeio incrível pelo Pantanal. Voltamos para o porto deslumbrados. Aos poucos turistas e trabalhadores que estavam na pousada, repetimos várias vezes, “vimos a onça”, e vimos quatro delas!
Decidimos voltar pela Transpantaneira mesmo sendo noite. Isso porque a pousada, mesmo essa simples de onde saiu nosso passeio de barco, era caríssima Queriam nos cobrar R$ 560 para dormir ali, esse valor era inviável. Até entendemos que ali não há nada, a energia é por gerador, tudo é longe, mas para nossa viagem esse seria um gasto impossível. Fomos voltando pela estrada, agora já conhecendo um pouco mais do caminho, e curtindo agora o anoitecer do Pantanal. Acompanhando muitos pássaros e outros animais voltando para seus lares. Após já termos andado mais de 100 km, lembramos de uma pousada que havíamos pesquisado que tinha um preço um pouco melhor e resolvemos passar a noite ali. Foi ótimo, pois o dia foi realmente intenso.
No dia seguinte, muito felizes e realizados, seguimos viagem para nosso próximo destino. O Pantanal é um dos lugares mais incríveis que visitamos. E queremos voltar em breve, levar a família e os amigos. Uma experiência como essa tem que ser compartilhada com as pessoas que amamos. Todo mundo deve ter a oportunidade de fazer essa imersão em meio à natureza. Uma sensação de liberdade e de êxtase, de harmonia com a natureza e os animais. Ver os animais vivendo assim, livres, nos deu uma imensa alegria e sentimento de gratidão. Gratidão por fazermos parte de uma natureza tão perfeita e sermos tão abençoados de poder estar ali e usufruir de tudo isso.
Como chegar: o Pantanal Mato-grossense fica no estado do Mato Grosso. Saindo de Cuiabá, capital do estado, a cidade de Poconé fica há cerca de 100 km. De carro é muito tranquilo de chegar.
Onde ficar: nós optamos por dormir a primeira noite em Poconé, no hotel Skala, muito simples, mas bem localizado e com funcionários muito simpáticos e solícitos. Agradecemos a atendente, que nos ajudou muito a compreender onde poderíamos achar o passeio pelo rio e opções de pousadas pelo caminho.
O que fazer: a Transpantaneira é uma estrada de terra de 180 km, com mais de 120 pequenas pontes. A melhor época de ir é na seca, entre os meses junho e outubro, fora desse período existe o risco da estrada estar quase que intransitável de carro. Apenas sendo possível de jeep ou mesmo de barco pelas áreas alagadas. Na época de seca, é possível transitar de carro, mesmo de carro comum, pois a estrada é razoavelmente boa. As pontes estão sendo reformadas, então tudo tranquilo. Esse trajeto também é feito por agências de turismos, que chamam de “safáris”. Mas se quiser fazer o trajeto como nós, pode sair de madrugadinha de Poconé e seguir a Transpantaneira tranquilamente, mas tenha calma e paciência, trafegue devagar isso garante que verá mais animais e não colocará nem sua vida nem a dos animais em risco. Tenha cuidado, pois eles atravessam a rua e podem ser atropelados por você.
Imperdível: o passeio de barco saindo de Porto Jofre é caro, mas é imperdível. É lá que tivemos a oportunidade de ver animais como jacarés do ladinho do barco, ariranhas, sucuri e a onça pintada. Ali há a opção de dia inteiro e meio dia, e se for em grupo, o valor cai pois é dividido entre todos.
Relato por Luciana de Paula, do blog Minha Viagem Perfeita