Por que eu não sou mais o mesmo depois que fui viajar?
Relato por Leo Bosso, chef (e ex-publicitário)
O fato de aprender uma coisa nova sempre me encantou. Ainda criança, gostava de dar uma espiada nas panelas do fogão da minha avó. Sempre borbulhando e exalando cheiros que me encantavam. Do barulho da panela de pressão até o sabor do mais raro feijão. Mais tarde fui atraído pela publicidade. Eu era curioso por saber sobre tudo o que envolvia a comunicação humana. As palavras, a fala, os gestos, a linguagem não verbal e os discursos inspiradores. Durante esse tempo, eu já cozinhava em muitas casas, por prazer. Pela satisfação de reunir amigos e ver o sorriso na cara das pessoas.
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Foi assim que, por conta de viver novas emoções, aprender sobre novas culturas e talvez para saber o que as pessoas fazem do outro lado do mundo, tomei a decisão de embarcar numa viagem e mudar de uma vez por todas o rumo da minha história.
Eu precisava me encontrar. Os dias de trabalho como publicitário já não estavam tão inspiradores quanto cozinhar pra um monte de amigos. Viajei pra me experimentar. Pra me encontrar. Pra saber até onde eu ia. E assim, descobri que eu posso ir muito mais longe do que imaginava. Entre voos e caminhos desconhecidos, era eu comigo mesmo. E com isso em mente, desembarquei na Irlanda.
A minha vontade em aprender a língua me ajudou a trabalhar em três diferentes restaurantes e a minha vontade de explorar o mundo me levou a conhecer um total de 10 países. Era um sonho realizado e a certeza de ter descoberto o que eu mais gostava de fazer: cozinhar, conhecer novos lugares, pessoas e paisagens naturais. Eu sabia que isso era só o começo e que eu ainda tinha muito a aprender. Mas a cada dia que passava eu tinha mais fome de cozinhar e sede de aprender, sobre tudo. Aprendi novas receitas, técnicas, fiz cursos e conheci pessoas incríveis que também me ensinaram sobre culinária e cultura.
Após um ano vivendo em Dublin, voltei ao Brasil com a certeza de continuar cozinhando e reunindo pessoas ao redor do mundo. Percebi que eu podia me expressar cozinhando e tudo fez sentido. Os dias foram passando, agora em São Caetano do Sul onde sempre vivi.
A criatividade que adquiri com a publicidade, somado à presença de bons amigos, me ajudaram a promover eventos em restaurantes, jantares a domicílio, festivais de caipirinhas exóticas, workshop de culinária saudável para diaristas que cozinham para crianças e até grandes eventos. Aprendi mais e mais a cada dia pilotando fogões e fazendo encontros gastronômicos até que, por um magnetismo universal (ou como gosto de falar, pelas forças das águas do mar), fui parar em um hostel em Florianópolis.
Através do Worldpackers, uma plataforma que conecta viajantes que compartilham suas habilidades em troca de estadia, trabalhei de Chef de cozinha em toda a temporada de verão 2014/2015. Foram três meses de pura imersão cultural e mais de 700 pratos servidos pra pessoas de diversas nacionalidades. Era a minha culinária finalmente conectando pessoas do mundo todo. Aprendi a me comunicar e apresentar os meus pratos em espanhol, vivendo em um cenário de natureza exuberante e mergulhando todos os dias nas águas daquela ilha mágica. Um prato cheio para as minhas inspirações e, como não poderia deixar de ser, mais aprendizado.
E o mais incrível disso tudo? A conexão entre as pessoas que a cozinha proporciona. O ambiente da cozinha é capaz de conectar pessoas de diferentes lugares para viver uma só experiência, juntos. A alimentação é uma necessidade básica humana capaz de misturar culturas, conectar pessoas e criar momentos de plena felicidade. Melhor que isso, foi a possibilidade de poder colaborar com outras pessoas (no caso, a equipe do hostel) pra poder gerar experiências inesquecíveis pra todo aquele mar de gente. E é por momentos assim que eu faço da cozinha a minha conexão com o mundo, pois agora além de tudo, ela me dá a chance de viajar por ele.
Por Worldpackers