Quase aos 80: Viajando por conta própria pela Europa

Jornalista Mariuccia Ancona Lopez dá dicas sobre viajar sozinha depois dos 70

Quando vi a escadinha do avião para embarque no vôo SK 609, da Scandinavian Airlines (SAS), minha conexão de Copenhague (Dinamarca) para Zurique (Suíça), de onde voltaria para o Brasil, pensei: este é meu “gran finale” de uma viagem para quem (se tudo correr bem) no ano que vem, chega aos 80!

É que, diferente de outros aviões, este equipamento –um Bombardier CRJ 900– não recebe escadinhas do aeroporto mas dobra sua porta para fora, onde estão os degraus. Resumo: a altura dos degraus é muito maior do que aquela das escadas habituais e mais estreitas. E meus joelhos septuagenários, os mesmos de sempre.

Longas distâncias são percorridas nos aeroportos, como em Guarulhos (SP)
Créditos: Mariuccia Ancona Lopez
Longas distâncias são percorridas nos aeroportos, como em Guarulhos (SP)

Num rápido cálculo vi que seria impossível subir carregando a maleta de mão (dessas com rodinhas) porque precisaria dos dois corrimões para vencer os degraus maiores. Olhei para cima e a sorridente aeromoça rapidamente desceu e a carregou para mim.

De resto foi subir e festejar silenciosamente a alegria de ainda poder viajar por conta própria.

Uma hora e meia depois, pousamos na Suíça e então, a experiência foi absolutamente oposta. Meu retorno ao Brasil, via Swiss, foi em Business, a dita Executiva, num feliz e surpreendente upgrade.

Espaço, o melhor de tudo da Classe Executiva
Créditos: Mariuccia Ancona Lopez
Espaço, o melhor de tudo da Classe Executiva

Com certeza você já viu muita postagem sobre Classe Executiva. Ou já entrou na aeronave passando pelos assentos da Business em que os passageiros tem o privilégio extra de embarcar antes e recebem seu copo de champanhe de boas vindas enquanto os demais (com uma baita inveja) se acomodam avião adentro.

Porém, mais do que o champanhe, mais do que o cardápio (com excelente menu e que você escolhe) servido com tolha de linho, o que os donos de pernas e joelhos com mais de 70 apreciam de fato é o espaço maravilhoso proporcionado pelas cadeiras amplas que se transformam em camas, para descansar durante a longa travessia do Atlântico.

Champanhe de boas-vindas da Classe Executiva
Créditos: Mariuccia Ancona Lopez
Champanhe de boas-vindas da Classe Executiva

Isso tudo mais o silêncio daquele grupo que, com tanta comodidade dorme tranquilo. E não se agita, nem faz barulho. E mais: sob os cuidados de uma equipe bem treinada, delicada e atenciosa, como foi a do meu voo LX092, que me trouxe de volta ao Brasil.

Bom seria se todos nós pudéssemos viajar em Executiva, não é? Mas como isso não é possível, não vamos deixar de viajar porque nosso orçamento não permite. Eu mesma, nessas férias de julho fui de Econômica, na mesma Swiss. E cheguei feliz da vida para as três semanas de folga. O espaço menor exige alguns cuidados, é verdade. O primeiro é pedir sempre assento no corredor para poder, de vez em quando, levantar e andar, evitando que os joelhos “travem” por permanecerem longas horas na mesma posição.

Alguns cuidados que ajudam para voar na Classe Econômica
Créditos: Mariuccia Ancona Lopez
Alguns cuidados que ajudam para voar na Classe Econômica

Importante também, viajar sempre com meias de compressão para evitar o inchaço das pernas e pés e até problemas circulatórios tão comuns em longos trajetos aéreos e calças moles, com elástico na cintura e sapatos sem amarração, sem salto, fáceis de tirar e por, caso a inspeção exija.

Outras medidas que ajudam na comodidade da viagem: maleta de mão com rodinhas para evitar pesos em excesso nas longas caminhadas nos aeroportos e, se possível , com aberturas externas para tirar ,com agilidade, o saquinho plástico com líquidos, nas inspeções de raio X.

Roupas e acessórios para a comodidade da viagem
Créditos: Mariuccia Ancona Lopez
Roupas e acessórios para a comodidade da viagem

A bolsa de mão deve ser pequena, de preferência dessas molengas, que possa ser +acomodada no bolsão da cadeira defronte à sua. Assim seu passaporte, cartão de crédito e pequenos valores estarão com você e, maiores valores, sempre na cintura, nos chamados “guarda-dólar”. Remédios de uso contínuo –esses para controle da pressão, por exemplo– devem ficar na sua bolsa de mão, mesmo durante o voo: assim não será preciso abrir bagageiro durante a viagem onde sua maleta de mão poderá estar “soterrada” por mochilas e pacotes de outros passageiros.

Prioridade para idosos, um privilégio somente no Brasil
Créditos: Mariuccia Ancona Lopez
Prioridade para idosos, um privilégio somente no Brasil

Importante saber também que em voos dentro do espaço europeu não há refeições inclusas. Há serviço a bordo, mas tudo é cobrado e pago somente com cartão de crédito. Então, se quiser fugir desses custos, é preciso se precaver levando alguma barra de cereal ou sanduiche para comer durante o voo. Só não é permitido consumo de bebidas alcoólicas trazidas a bordo.

Assim, foi uma grata surpresa nessas férias voar com a Austrian Airlines, de Copenhagen (Dinamarca) a Veneza (Itália). Serviço impecável oferecido por uma equipe bem treinada, garrafa de água gelada e chocolate distribuídos a todos os passageiros (em voos internos na Europa outras companhias costumam cobrar nada menos do que € 3 (R$ 16) por 500 ml de água) e pontualidade, outro fator fundamental para quem depende de conexões.

E vale ainda lembrar que, prioridade para idosos, só mesmo no Brasil. Pela Europa, prioridade mesmo só para quem, idoso ou não, tenha problemas de mobilidade. Os demais entram na categoria adultos. Porque, na verdade, é isso que somos: adultos há mais tempo.