Regra que dificulta obtenção de cidadania italiana avança

A ex-deputada ítalo-brasileira e advogada Renata Bueno afirma que a comunidade brasileira será uma das mais atingidas

16/05/2025 18:35

Péssima notícia para os brasileiros que estão em busca da cidadania italiana. O Senado da Itália ratificou nesta quinta-feira, 15, decreto de lei que altera profundamente as regras para o reconhecimento por descendência (ius sanguinis).

O Decreto-Lei nº 36/2025 foi aprovado por 81 votos a favor e 37 contra. Assinado pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, o texto segue agora para votação na Câmara dos Deputados, com prazo até 27 de maio para conversão definitiva em lei.

Regra que dificulta obtenção de cidadania italiana avança
Regra que dificulta obtenção de cidadania italiana avança - Divulgação

A medida afeta diretamente milhões de descendentes de italianos pelo mundo, principalmente os cerca de 30 milhões de ítalo-brasileiros. “O decreto tem gerado intensa controvérsia, tanto pelo mérito quanto pela forma apressada de sua aprovação”, diz Renata Bueno, ex-parlamentar italiana e advogada.

Principais mudanças nas regras da cidadania italiana

Segundo Renata, o decreto modifica a Lei nº 91/1992, incluindo o novo artigo 3-bis, com alterações drásticas:

  • Limitação geracional: Apenas filhos e netos de italianos nascidos no exterior terão direito à cidadania automática.
  • Vínculo territorial: Filhos de italianos nascidos fora da Itália só terão direito automático se ao menos um dos pais tiver residido legalmente no país por dois anos consecutivos antes do nascimento.
  • Centralização e aumento de taxas: A partir de 2026, os pedidos serão processados diretamente pelo Ministério das Relações Exteriores. A taxa será reajustada de €600 para €700.
  • Prazos e suspensão de novos processos: Pedidos protocolados até 27 de março de 2025 às 23h59 (horário de Roma) seguirão sob as regras antigas. Novas solicitações estão temporariamente suspensas.

Durante o debate no Senado, foram apresentadas 106 emendas — a maioria rejeitada. O governo ameaçou recorrer ao voto de confiança (voto di fiducia), limitando alterações no texto.

Os ítalos-brasileiros serão os mais afetados

A advogada Renata Bueno diz que a comunidade ítalo-brasileira será uma das mais atingidas. “Muitos brasileiros descendem de imigrantes que chegaram ao país no século 19 e início do 20, o que os coloca fora do novo limite geracional. Além disso, boa parte dos antepassados naturalizou-se brasileiro, o que agora poderá impedir seus descendentes diretos de obter a cidadania.”

Os ítalos-brasileiros serão os mais afetados
Os ítalos-brasileiros serão os mais afetados - Divulgação/Nostrali Cidadania Italiana

Mais do que um passaporte, para muitos brasileiros a cidadania representa um resgate da própria identidade. Como afirma a associação Nacionalitália: “Não se trata apenas de ter mais um documento europeu. É uma questão de pertencimento e legado familiar.”

E agora, como fica a nova regra para cidadania italiana?

O desfecho agora depende da Câmara dos Deputados italiana, que tem até o dia 27 de maio para aprovar ou rejeitar o decreto. Caso não seja convertido em lei dentro desse prazo, o Decreto-Lei 36/2025 perderá validade. No entanto, mesmo se aprovado, já há movimentos jurídicos e políticos em preparação para contestá-lo judicialmente, tanto na Itália quanto em tribunais internacionais.

Enquanto isso, organizações de apoio a descendentes de italianos, especialistas em cidadania e lideranças políticas ligadas à comunidade ítalo-brasileira se mobilizam em busca de alternativas. “Como defensora ativa dos descendentes italianos no exterior a luta pelo reconhecimento da cidadania italiana por descendência está longe de terminar — e a pressão internacional pode ser decisiva para o futuro do ius sanguinis”.