Torres del Paine é o destino mais desejado pelos aventureiros
Não há ritmo lento de viver um dia após outro no Parque Nacional Torres del Paine, no Chile. Ninguém imagina o que é um trekking nessa região. Entenda-se por caminhadas não apenas as que se valem das dores musculares, e sim as que provocam profundamente nossa imaginação e fantasia.
O prêmio de um dos lugares mais desejados pelos aventureiros da natureza o parque já levou. Porque é impossível alguém por lá não se deixar cativar pelo fascínio da transitoriedade das paisagens, do desconhecido, do misterioso e do improvável a cada curva e a cada visão. São vales abraçados pelas escarpas rochosas dos três “Cuernos”, ou das três “Torres” que caem abruptamente sobre rios ou lagos em tons prateados ou verdes, dependendo da época do degelo dos cumes nevados.
Além das estepes monocromáticas cortadas por cachoeiras e riachos caudalosos cujo sons junto com os ruídos do vento me lembrou na hora das músicas eletrônicas de Jean-Michel Jarre. Exagero! Então vá lá e identifique essa sonoridade. E, mais: os guias garantem que você pode ter no mesmo dia de um trekking em Torres del Paine, as quatro estações do ano.
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A natureza dali também privilegia a fauna e flora. Bandos de guanacos e vicunhas pastoreiam as encostas das montanhas, deixando sempre um deles de vigia para um ataque de surpresa de algum puma faminto. Raposas (zorros), nandu (pequeno avestruz), podem ser vistos com facilidade, além das águias e condores que cruzam o céu patagônico.
Os microclimas existentes no parque geram uma interessante diversidade de vegetações: bosques magalhânicos, deserto, matas e estepes andinas.
Nosso projeto de três dias de trekking em Torres del Paine incluía uma boa hospedagem, não só para termos um merecido descanso entre uma atividade e outra, mas também para curtirmos a gastronomia patagônica. Os alojamentos variam dos básicos aos luxuosos. Nossa escolha recaiu no “Tierra Patagonia Hotel & Spa”, às margens do Lago Sarmiento com uma bela visão dos “Cuernos”.
São muitos os roteiros de trekking apresentados no hotel. Preferimos começar, no dia seguinte, com um de meio período, conhecido como “Mirador Cuernos”, com 4 horas de duração, só para aquecer os músculos e a alma, deixando as caminhadas de dia inteiro para depois. Há um circuito de sete dias chamado “Macizo Paine”, com 93 quilômetros, que resolvemos tentar numa próxima vez, ou …vida.
Uma fina névoa dissolvia o perfil dos “Cuernos” quando iniciamos nossa jornada em direção ao ‘Mirador Sarmiento’ e ao ‘Mirador do Lago Nordenskjold’. Ela criava uma atmosfera encantada –que parecia pertencer a um tipo de viagem fantasmagórica. À nossa frente sempre a visão majestosa dos famosos ‘Cuernos del Paine’ que dependendo dos humores do clima gerava sombras gigantescas, escurecia o céu e clamava por ventos que não davam tréguas.
Nada abalava minha vontade de me aproximar de um dos lugares mais privilegiados do Parque Nacional –o Salto Grande, que ladeia as águas turmalinas do Nordenskjold.
O trekking escolhido para o segundo dia era o de maior resistência, ‘Base de Las Torres’, com oito horas de caminhada para um percurso de 18 quilômetros. Vai chover? Vai nevar? O vento vai parar? O sol não vai dar refresco? Foram algumas das perguntas no decorrer dessa caminhada.
Enquanto avanço pelas trilhas que bordeiam o rio Ascencio para chegar al ‘Paso de Los Vientos’, avanço também nos pensamentos. Não fiz o ‘Caminho de Santiago’, mas a sensação de leveza, de um lugar místico, e a vontade de enfrentar os desafios de meu dia a dia se fortaleceram nesse trekking graças à força dessa natureza que recarregou minha energia vital, talvez semelhante àquela que conseguiria no caminho espanhol.
O roteiro do terceiro dia ‘Paso de Agostini’, com pernadas para sete horas num percurso de seis quilômetros atrai pelo forte impacto visual. As trilhas são entrecortadas por lagunas e as Torres del Paine, realçadas pela luz que escorre sobre os rochedos, parecem ameaçadas por imensas nuvens altocumulus lenticulares. Tive a sensação de ser um outsider na Terra Média, do escritor J.R.R. Tolkien, tal a invencione das paisagens que me rodeavam.
Algumas delas davam a impressão de terem saído de um livro de pintura zen de artista japonês, pela delicadeza da atmosfera bucólica. Outras, me carregaram para um apocalipse anunciando o dia do Juízo Final.
Deixo Torres del Paine que nesses três dias de trekking cravou em minha alma esse lugar que é um elogio ao poder fantástico da aventura.
Onde ficar: Tierra Patagonia Hotel & Spa”: www.tierrahotels.com