Um passeio pelas igrejas de São João Del Rei em Minas Gerais
Uma das cidades mais antigas de Minas Gerais, São João Del Rei mantém vivas as lembranças do Brasil colonial
Um passeio pelas cidades históricas de Minas Gerais pode ser, para os menos atentos ou não tão interessados em história, mais do mesmo. Para os curiosos pelos fatos passados, é uma oportunidade extraordinária de conciliar diversão e conhecimento.
Onde mais seria possível encontrar uma hospitalidade estupenda, uma cozinha deliciosa, cenários fotogênicos e, ainda por cima, tesouros históricos?
A cidade de São João Del Rei, berço de Tiradentes e Tancredo Neves, reúne tudo isso, como boa cidade mineira que é. Arraial fundado em 1701 e tornado vila 12 anos depois, teve seu apogeu com a expansão do ciclo do ouro em Minas Gerais.
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Como toda cidade próspera do período colonial brasileiro, evoluiu tendo como pilares a extração e venda do ouro e também a onipresença da igreja católica.
Em todos os cantos se veem igrejas, catedrais, casas paroquiais e conventos, quase todas cobertas com o metal precioso. Se à primeira vista elas parecem todas iguais, com o tempo percebemos que elas servem justamente como pontos de referência histórica, social e até racial.
Estes locais servem como aglutinadores de determinados grupos: há os templos frequentados pela nobreza, pelos comerciantes abastados, camponeses ou exclusivamente pelos negros. Cada um deles foi construído e é administrado por uma determinada ordem religiosa (carmelitas, franciscanos etc).
Por isso, há tantas igrejas em uma mesma cidade, mesmo que ela seja minúscula.
Uma boa forma de começar o passeio em São João Del Rei é visitando a Igreja de São Francisco de Assis. Isso porque ela está distante das demais (os outros grandes templos estão do outro lado do rio, em uma mesma rua, muito próximos uns dos outros).
Cercada por uma ampla praça, é envolvida por algumas construções do século 18, mas a maioria dos prédios é mais recente: foram erguidos nos séculos 19 e 20, formando uma miscelânea de estilos.
De dimensões imponentes, tem como destaque os entalhes na porta principal, obra de ninguém menos que Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No interior do templo, algumas curiosidades, como o fato de os púlpitos e alteres laterais estarem “crus”, sem revestimento em ouro e apenas com gesso aparente.
Isto porque estes trabalhos foram concluídos quando o ciclo do ouro já estava em decadência na região e a Ordem Terceira de São Francisco de Assis não tinha mais recursos para concluir a obra.
Ouro e beleza
O ouro que falta nessa igreja sobra nas demais. É momento de cruzar o rio, subir uma breve ladeira e entrar num túnel do tempo. A rua Getúlio Vargas é forrada de um casario antigo, belíssimo e muito bem preservado.
Em alguns pontos, não se vê nenhuma construção que não seja ao menos centenária. Não fossem os carros, seria possível se imaginar nos áureos tempos coloniais.
A primeira igreja é a de Nossa Senhora do Rosário, construída pelos negros, seus devotos. Sem posses, os escravos construíram o tempo com o próprio suor e algumas doações, história que se repete nas outras cidades da região. A imagem da Santa foi esculpida em cedro pelo mestre Luiz Pinheiro de Souza, que também fez o retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis.
Um pouco mais à frente, surge o Museu de Arte Sacra, instalado em um dos casarões antigos da rua.
Seu riquíssimo acervo inclui não somente peças em ouro e prata, mas também vestimentas e utensílios utilizados por padres e bispos do período colonial. Também são encontrados objetos pertencentes aos fiéis e exibidos nas procissões, o grande evento social da época.
Seguimos para o templo dedicado a Nossa Senhora do Pilar, que começou a ser construída em 1721. Sua fachada tem estilo neoclássico, mas o que realmente interessa está lá dentro. A igreja é toda forrada de ouro e seu altar brilha com uma intensidade espantosa, mesmo com luminosidade reduzida.
Continuando a caminhada, a rua fica mais estreita e vemos ao final dela uma grande igreja. Esta surge de repente, estrategicamente instalada em um ponto onde causa um forte impacto visual.
Trata-se da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, com suas torres octogonais típicas do século 18 (cem anos antes, os carmelitas preferiam torres retilíneas). Em julho, os sinos soam chamando a população para as missas em louvor de Nossa Senhora do Carmo.
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