Uma lição de honestidade: mochila perdida é recuperada na Ásia

Devia ser algo normal, que não nos causasse espanto ou merecesse aplausos

Devia ser algo normal, que não nos causasse espanto ou merecesse aplausos, mas receber sua mochila de volta, após perde-la com dinheiro, passaporte e equipamentos, no meio do nada, em uma estrada de Myanmar, às 2h, realmente faz você refletir e ter um pouco mais de fé na humanidade. Veja um pouco dessa nossa saga nesse vídeo que filmamos no dia e leia nosso relato abaixo. Se quiser acompanhar nossa viagem, acompanhe no Instagram, Facebook ou no YouTube:

Depois de alguns dias em Yangon, capital de Myanmar, decidimos viajar de ônibus para Bagan, uma região histórica do país, com incríveis templos budistas, em uma paisagem encantadora. Todos que já estiveram por lá nos diziam que o lugar era imperdível pelo patrimônio histórico e principalmente pelo povo do lugar, que ainda conserva uma característica muito local e fortemente influenciada pelo budismo.

Compramos as passagens para um ônibus noturno, ainda com um pouco de medo, apesar de não termos tido nenhum tido de ocorrido que pudesse justificar a apreensão de viajar pelo país. Porém, sabe como é, erroneamente, acabamos sempre tendo a visão de que o sudeste asiático é perigoso e que Myanmar, por ser desconhecido, guarda sempre alguma surpresa ruim.

Nosso ônibus saiu às 22h, para chegar às 5h no destino e na primeira parada para um lanche, 1 da manhã, o restaurante ficava no meio do nada, era bastante “rústico” e estava lotado de viajantes locais. Compramos um café, sentamos em uma mesa e deixamos a mochila do lado. Saindo para voltar ao ônibus, esqueci ali, no meio daquela multidão de pessoas. Tudo que tínhamos de valor material estava ali dentro. Tinha dinheiro, cartões de crédito, um MacBook, um Osmo (equipamento de filmagem), dois HD’s com todas as imagens de quase um ano de viagem.

O nascer do Sol em Bagan, Mianmar, Sudeste Asiático

Depois de uma hora viajando, precisamos do fone de ouvido e aí nos demos conta da falta da mochila. Um desespero!!! Já dávamos por perdida a bolsa. Vontade de chorar. Tentamos conversar com uma comissária que acompanhava a viagem e ela falava quase nada de inglês. O motorista não falava nada. Nessa levamos um tempo para fazê-la entender o ocorrido. Sabendo da gravidade, ela liga para o chefe, as duas da manhã e o coloca ao telefone comigo, pois ele entendia inglês. Cinco minutos de conversa e ele diz que vai solucionar. Manda o motorista parar e esperar nova ordem.

Parados no meio do absoluto nada em Mianmar, entre Yangom e Bagan, ficamos todos ali, aguardando o chefe. O mais incrível é que todos os viajantes tranquilos e sem reclamar o atraso que estávamos provocando na viagem. Os locais ficaram dormindo no ônibus e os gringos conversando e fumando no acostamento.

Nova ligação do chefe, para dizer que acharam a bolsa e que ela seria enviada a mim no próximo ônibus da companhia. A nova ordem era esperarmos ali mesmo. Nessa passou uma hora e meia até a chegada. Mochila na mão, o motorista do outro ônibus desce sorridente e me entrega. Tudo perfeito, tudo dentro, nada mexido. Acho até que nem abriram para ver o que era. Não sei como seria no Brasil, mas acho que em algum país da Europa seria provável chamarem uma equipe ante bombas para analisar aquela mochila preta deixada em uma cadeira no meio da multidão.

Não sei se o caso merecia esse relato, mas fato é que “Andamos tão desencantados que ser decente parece virtude, ser honesto ganha medalha e ser mais ou menos coerente merece aplausos.” Lya Luft