Uma viagem reveladora pelos oásis de Omã
Por Heidi Conrad
Com guias omanis, possuidores de grande cultura, parti a bordo dos indispensáveis off-roads para a travessia –espetacular, mas assustadora– dos maciços de Hajar. Que aventura!!! Seus cumes alcançam 2.890 m de altitude! Na estrada de terra, ladeada por traiçoeiros precipícios, fiquei grudada no assento vendo aqueles desfiladeiros intermináveis. Só ousei perguntar se já haviam feito essa rota anteriormente…
Se a primeira parte da viagem foi de aventura e atiçou a adrenalina, a seguinte me tocou na alma de tanta alegria. Ao lado de um oásis, as ruínas das duas vilas de Birkat Al Mawz, mostram como o passado continua presente no sultanato. Contratei um guia local para caminhar pelos campos verdes e conhecer os cultivos das tamareiras e os sistemas de irrigação. Construídos há 2.800 anos, funcionam até hoje, e pela sua importância é listado como patrimônio cultural da Unesco.
O uso da água, escassa por aquelas bandas, é regido há séculos por um sistema feudal de revezamento entre as famílias. Cada proprietário de lote de tamareiras tem direito de desviar a água para seus canais apenas uma vez por semana. Também fiquei sabendo que como bons comerciantes os omanis possibilitam, caso seja seu interesse, alugar uma ou várias tamareiras por estação! Pensei seriamente em ter minha tamareira, mas não era época da colheita …
Sigo viagem para Nizwa, cidade histórica e antiga capital de Omã. Para mim que adoro fotografar, o mercado de animais, que acontece de madrugada, foi prato cheio. Passei horas numa rotatória onde circulam cabras e cabritos, e me encantou ver vendedores e compradores que fazem caras, caretas, e gestos para ver quem leva a melhor naquela espécie de leilão.
Os homens com suas dishdashas (túnicas quase sempre impecavelmente brancas), turbantes coloridos, feições típicas, em um vozerio incompreensível, mas amistoso. E, eu só pensava uma coisa: que bom que levantei cedo. Uma viagem a Omã –sem transitar por esses mercados– é não sentir a verdadeira cultura dos árabes.
Novamente na estrada. Nos trajetos sempre me surpreendeu que no meio de região totalmente árida, miragens se confundem com oásis reais e plantações em forma de terraços. E, foi num deles que acampei. Se posso dar uma dica de viagem, essa é uma delas. São vários camps, e todos muito bons. O meu foi o Arabian Oryx. Ali, além de montar e passear de camelo, presenciei baita pôr do sol, mas o prazer maior foi fazer uma caminhada descalça pelas dunas … que paz, que silêncio! Aqui deu para entender, e muito, porque os padres do deserto escolhiam esses areões para meditar.
Minha grande aventura estava chegando ao fim, mas quero citar outra experiência que foi fundamental nessa viagem. Uma jornada para o Wadi Shab entre rochedos enormes. Wadi é a denominação árabe para um rio que só existe na época das chuvas. No fim da trilha acompanhando o riacho se chega, só nadando, em água turquesa e cristalina, à uma gruta esplêndida, desculpe adjetivar, mas é realmente. Dentro d´água, com aquela natureza ao redor, vivendo intensamente o momento, senti que minhas energias estavam totalmente recarregadas para voltar ao mundo ruidoso e apressado da cidade.
Omã ainda é pouco visitado pelos viajantes. Encantador e original, preserva suas características e autenticidade.
Quero destacar ainda algumas construções de rara beleza arquitetônica construídas pelo sultão na capital Mascate: o Palácio Real, a Mesquita, a Ópera e o Museu Nacional. Impressionantes. Por fim os hotéis. Tanto faz se sua escolha recair entre luxuosos ou mais simples. Neles, como em todo o país prevalecerá a simpatia e a hospitalidade dos omanis, outro ponto forte desse sultanato que me marcou a alma.
Aos guias Said, Tariq e Mohammed, um enorme “Shukran” (obrigada)!
“Ismi” Heidi