Uma visita inusitada ao ‘mundo dos mortos’ em Paris

Por Ricardo Maluf, do programa “Destino Incomum”

Paris não estava em nossos planos, mas uma mudança de conexões nos obrigou a permanecer na capital francesa por cerca de 7 horas. Nosso destino era Chernobyl, mas como não devemos nunca perder uma oportunidade de conhecer algo inusitado, aproveitamos a ocasião.

Normalmente quando se fala em visitar Paris imagina­-se fazer um tour com os ônibus “car rouge”, subir na Tour Eiffel, explorar o Museu do Louvre, visitar a Notre Dame ou mesmo a basílica de Sacré Couer.

Como a cidade é espetacular e com infinitas possibilidades de programas, resolvemos explorar algo que há muito nos intrigava e que consumiria boa parte de nosso tempo na capital: as catacumbas parisienses.

Ainda no aeroporto Charles De Gaulle vimos no mapa onde ficava a entrada e pegamos o metrô para lá. Descemos na estação Denfert­Rochereau, e logo vimos a pequena fila que já se formava na entrada. Foi bem rápido, apesar do acesso restrito à um determinado números de visitantes por vez (200). Provavelmente por chegarmos cedo não levou mais do que meia hora para entrarmos.

As catacumbas Parisienses, como hoje é conhecido o espaço, é uma complexa mina de pedra, com quase 400 km de túneis, explorada desde a época da ocupação romana na cidade.

É incrível pensar que apenas alguns metros abaixo de uma das mais importantes cidades do mundo há uma outra cidade quase tão grande quanto.

Antes de começarmos a descida fomos informados que a saída era por outro local, e que andaríamos a cerca de 20 metros de profundidade apenas no subsolo, por diversos túneis devidamente identificados. Estes foram escavados, ao longo de séculos, e posteriormente foram adaptados para ser a última morada de milhares de parisienses. Devido à superlotação dos cemitérios das igrejas, principalmente o “des Saints­Innocents”, ocorrida no século 18, as autoridades parisienses optaram por transferir os restos mortais de alguns cemitérios para os túneis, já desativados, por questões de segurança e saúde pública.

A quantidade de material em decomposição era tamanha, à época, que a população vizinha estava ficando doente. Desde então diversos outros cemitérios foram fechados e transferidos para este local, e atualmente acredita-­se que a necrópole possua entre cinco e seis milhões de “moradores”.

Ao todo o percurso aberto à visitação estende-se por cerca de 4 ou 5 kms e apenas uma parte possui ossadas, mas a sensação que se tem ao caminhar por entre crânios organizados em diversos formas é surreal.

Já havíamos vivido uma experiência semelhante, ao visitar a Capela de Ossos de Évora, em Portugal, mas não há como comparar uma pequena capela com uma necrópole inteira.

São dezenas de capelas, centenas de nichos e milhões de ossos delicadamente (e um tanto quanto macabramente) empilhados, formando desenhos como corações, cruzes, círculos, etc.