A minha experiência na verdadeira casa da Anne Frank
Luana Lôpo, do blog Viagem e Cura, conta como foi vivenciar experiência incrível; o local não é aberto à visitação
Uma viagem à Amsterdã não será completa sem antes de visitar a casa que serviu de esconderijo para a família de Anne Frank. O local está entre os pontos mais visitado da Holanda.
Todos os anos, milhares de turistas –de todos os cantos do mundo– visitam a “casa museu” para conhecer o local onde Anne Frank ficou escondida com sua família durante a 2º Guerra e escreveu o famoso diário.
No entanto, o que poucos viajantes sabem, é que a verdadeira casa de Anne Frank fica em outra região de Amsterdã. O local não é aberto ao público e poucos turistas têm o privilégio de conhecer o imóvel.
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A baiana Luana Lôpo é uma das sortudas. Em 2018 ela visitou o local e conta os detalhes desta experiência incrível mais abaixo, além de um roteiro por Amsterdã.
Luana é paciente fibromiálgica (doença crônica) e costuma viajar sozinha pelo mundo e compartilhar as vivências e experiências no blog Viagem e Cura.
Tive a oportunidade de ser uma das poucas pessoas no mundo a poder entrar e conhecer pessoalmente a verdadeira casa de Anne Frank. Não o Museu Casa Anne Frank que fica situado no bairro Jordaan e era o “anexo secreto” em que a família Frank se escondeu durante os horrores nazistas, mas a casa que viveram felizes antes da Segunda Guerra.
E não, a casa não é aberta ao público para visitação! Ou seja, pouquíssimas pessoas já estiveram ali pessoalmente.
Chegando em Amsterdã
Eu sempre fui uma leitora voraz e desde muito nova tive como um dos meus livros favoritos o Diário de Anne Frank. E exatamente por esse motivo, um dos lugares que sempre sonhei conhecer foi Amsterdã.
Primeiramente, eu gostaria de compartilhar aqui com vocês que depois de muito procurar passagens aéreas baratas, encontrei em 2018 a oportunidade perfeita para finalmente conhecer Amsterdã e o Museu Casa de Anne Frank.
Museu Casa de Anne Frank
Logo no meu primeiro dia de viagem, eu tive a oportunidade de conhecer o Museu Casa de Anne Frank e conhecer pessoalmente tudo aquilo que eu já tinha imaginado por anos, desde a minha adolescência, ao ler o diário de Anne Frank.
Foi um sentimento incrível e ao mesmo tempo super triste. Estar ali no mesmo local em que eles viveram em seus últimos momentos como uma família, tentando se esconder dos horrores nazistas. Chorei de forma copiosa por diversos momentos durante a visita, mas é um local que recomendo a todos visitar.
Se você está indo para Amsterdã, não deixe de incluir o local no seu roteiro de viagem.
Bairro de Rivierenbuurt
Contudo, eu já tinha ido à Amsterdã com a certeza que eu não queria conhecer tão somente a versão dos dias sombrios de Anne e sua família. Eu queria conhecer o bairro que ela morou, o Rivierenbuurt.
Assim, eu queria sentar e tomar um café no Cafe Blek tentar imaginar Anne e a sua irmã Margot brincando por aquelas ruas. Eu queria ir até a livraria Jimmink e adquirir um exemplar do livro o “Diário de Anne Frank” lá, mesmo já tendo outras versões em casa.
Dessa forma, meus planos para meu segundo dia em Amsterdã era flanar pelas ruas do bairro de Rivierenbuurt, ir na livraria Jimmink e sentir o bairro.
Chegando na praça Merwedeplein
Logo ao chegar no bairro de Rivierenbuurt, fui direto para a praça Merwedeplein, tirar uma foto com a estátua de Anne, no local em que ela vivia feliz.
Ao chegar na praça tinham dois caras sentados em um banco, passei e os cumprimentei (Hi, good morning – Oi, bom dia), tal qual fazemos quando cruzamos com alguém na rua e segui até a estátua.
Contudo, ao perceberem a tentativa de selfie, eles vieram até a minha direção e ofereceram ajuda. Os rapazes perguntaram se eu não queria que eles batessem uma foto minha e falaram que tinham ficado felizes com o meu cumprimento, os fizeram se sentir em casa, uma vez que é costume dos países europeus, principalmente os países nórdicos, cumprimentar aqueles que você não conhece.
Conversamos mais uns minutos ali mesmo perto da estátua e fui convidada para tomar um café exatamente onde eu já tinha planejado, no Cafe Blek. De pronto eu aceitei, apesar de todas recomendações de minha mãe de não falar ou aceitar coisas de estranhos, segui a minha intuição.
O Café Blek
Depois de alguns cafés e muitas conversas, eu descobri que eles eram curdos. Para quem não sabe, os curdos são um povo sem país e estão espalhados pela região mesopotâmica (Turquia, Iraque, Irã e Síria).
E nesse instante eu já sabia que eu estava tendo uma experiência de viagem única na vida. Eu estava em Amsterdã, local que eu sempre sonhei conhecer, com pessoas que eu nunca imaginei poder ter a troca de ideias, de informações e de vivências como eu estava tendo ali naquele momento.
São pessoas inteligentíssimas e que tinham uma bagagem de vida que já renderia um outro texto inteirinho.
Em resumo, para não expor muito esses que se tornaram amigos queridos: eles eram exilados políticos do governo turco (país onde nasceram), em grande parte por perpetuar a cultura curda, escrever, falar em curdo, ser resistência contra a tirania do governo.
A livraria Jimmink
Em seguida, fomos até a livraria Jimmink, local onde Otto Frank comprou o diário de capa vermelha que se tornaria uma importante peça da história mundial.
Como uma leitora contumaz e voraz, eu fiquei embriagada com aquele lugar e com o que ele significava.
Além disso, é claro que adquiri mais uma edição do Diário de Anne Frank para mim. Afinal de contas, é uma edição comprada no mesmo local onde o diário original foi comprado (cada doido com a sua mania).
Merwedeplein 37-II: a verdadeira casa de Anne Frank
Logo após, quando eu já achava que não havia possibilidade alguma daquela experiência se tornar ainda melhor, recebi um convite inusitado: você quer conhecer a minha casa? Eu moro na Merwedeplein 37-II.
Foi nesse exato momento que eu gelei e provavelmente perdi a capacidade de respirar por alguns segundos, tamanho era o choque. Ao me centrar e realmente perceber que aquilo era real e estava acontecendo agradeci ao universo (Deus, a Deusa, Buda ou outra entidade religiosa que você acredite) pela oportunidade que me foi dada.
Caso vocês não saibam o porquê de tanto alvoroço em torno de um endereço, Merwedeplein 37-II é justamente o endereço da família Frank nos anos antes da guerra. Eu estava recebendo um convite para visitar pessoalmente a “verdadeira casa de Anne Frank”.
Naquele instante, eu não sabia se ria, chorava ou pulava de emoção.
A casa não é aberta ao público. Ela pertence a uma ONG, que restaurou a casa ao estilo dos anos 30, e passou a oferecer como abrigo para escritores que são perseguidos em seu país de origem, como o amigo que eu recém tinha feito.
Saber que eu estaria diante do local que Anne teve uma vida feliz com seus pais e sua irmã (o que eu esperava sentir e vivenciar indo até o bairro) e que eu era uma das poucas pessoas no mundo inteiro que teria aquela oportunidade foi algo enorme para mim.
Ao entrar na casa, lembro que experimentei sensações que nunca tinha vivenciado antes da vida, em nenhuma das muitas viagens que já havia feito. Ver o quarto de Anne, ainda da forma que ela habitava, tomar um café na varanda são experiências únicas na minha vida.
Provavelmente, é a experiência mais incrível que já pude vivenciar em toda a minha vida de viajante. Eu sou uma das poucas pessoas no mundo que já entrou e viu pessoalmente a verdadeira casa de Anne Frank.
Amsterdã: uma viagem única na minha vida
Além de conhecer a verdadeira casa da família Frank, ainda tive a oportunidade de conhecer e ficar amiga de pessoas incríveis (que eu mantenho contato e guardo um carinho muito especial) e que puderam me guiar por Amsterdã nos dias restantes da minha viagem.
E curiosamente, se pararmos para pensar, toda essa vivência única começou por um simples gesto de bom dia, em uma praça, antes de uma selfie. Foram sequências de acasos que me levaram até ali.
Por isso, eu sempre digo a todos quando me pedem para contar coisas sobre minhas viagens, planejamentos, organização: planejar e organizar são extremamente importantes, principalmente porque você consegue economizar para viajar mais, por exemplo ao aprender a como ganhar milhas aéreas.
Contudo, nós precisamos viajar abertos ao inesperado, ao novo, viajar aceitando os presentes que podem surgir na estrada ao longo do caminho. Pela minha experiência, como vocês puderam ler aqui, eles valem muito a pena.