Viajar sozinha: por que não?

Mulheres viajantes vão inspirar você a sair por aí na própria companhia

O Brasil está entre os cinco países com mais mulheres que viajam sozinhas. De acordo com dados do MTur (Ministério do Turismo), na pesquisa “Sondagem do Consumidor – intenção de viagem”, divulgada no ano passado, 17,8% delas preferem viajar dessa forma, superando o número de homens (11%). Em um momento em que muito se fala sobre a importância do empoderamento feminino, elas mostram que estão se sentindo cada vez mais independentes e com mais coragem para fazer aquilo que desejam. E isso inclui, é claro, viajar!

Eu, Mariana Bueno, do blog MarianaViaja, já considero a prática comum. Viajei sozinha pela primeira vez em 2013, para Cuba, lugar que eu tinha muita vontade de visitar, mas não conhecia ninguém que também quisesse. Senti medo, mas fui com medo mesmo…

“Estou sempre buscando incentivar mais mulheres a também viverem essa experiência”
Créditos: LuMattos Fotografia
“Estou sempre buscando incentivar mais mulheres a também viverem essa experiência”

Acho que, como eu já morava sozinha e longe da minha família há um tempo (sou de Minas Gerais e vivo no Rio de Janeiro), não foi tão estranho assim, porque eu já estava acostumada a fazer algumas coisas sem companhia. Mas foi uma oportunidade diferente de aprendizado, crescimento e autoconhecimento. Depois disso já fui a vários lugares do Brasil e do exterior. É tão natural que às vezes até me esqueço de ver se alguém quer fazer a mesma viagem que eu e acabo planejando tudo sozinha mesmo. Adoro a liberdade de poder fazer as coisas do meu jeito, no meu tempo. E sempre volto transformada!

Por isso estou sempre buscando incentivar mais mulheres a também viverem essa experiência. No meu blog (marianaviaja.com), além das dicas de viagem que sempre publiquei, abri um espaço para poder falar mais sobre isso. Conto minhas histórias e também de outras viajantes, para mostrar que viajar sozinha não é nenhum “bicho de sete cabeças”. Claro que envolve uma série de expectativas, medos, e até julgamentos, porque ser mulher já não é fácil nem no quarteirão da nossa casa, sozinha pelo mundo é mais difícil ainda. Mas, ao deixar de fazer algo que você sonha só porque não tem uma companhia naquele momento, você só tem a perder.

Em Trancoso, na Bahia
Créditos: LuMattos Fotografia
Em Trancoso, na Bahia

E o mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, quando tanto se fala sobre formas de empoderarmos cada vez mais, é uma boa oportunidade para falar novamente desse tema. Então conversei com outras três blogueiras…

Amanda Trintim, do blog As viagens de Trintim (asviagensdetrintim.com), que viaja sozinha desde os 17 anos, concorda que não dá para deixar de ir só porque não tem outra pessoa para te acompanhar. “Não ter companhia para viajar não me impede de desbravar novos lugares, a vontade de ver novidades fala mais alto e, quando percebo, lá estou eu, de novo sozinha, esperando o embarque para uma nova aventura. A primeira vez que cruzei as fronteiras do Brasil desacompanhada foi para um intercâmbio na Inglaterra e, de lá para cá, não parei mais. Foi encarando o mundo com um pouco de coragem e muita curiosidade que pude conhecer boa parte da América do Sul e Europa”, conta.

Amanda Trintim, do blog As viagens de Trintim
Amanda Trintim, do blog As viagens de Trintim

Ela diz ainda que, ao contrário do que possa parecer, uma viagem solo não é sinônimo de solidão. “Na verdade, trata-se de praticidade, independência e descobrir em si mesma a capacidade de solucionar problemas e lidar com situações adversas, afinal de contas, sua satisfação em uma viagem assim depende exclusivamente de você. E quando bater aquela saudade basta conectar-se ao wi-fi, a tecnologia pode e deve ser uma aliada. Apenas no fim de uma viagem sem acompanhantes que percebo quantas histórias vivi, quantos amigos fiz e o quanto a minha vontade de fazer tudo isso outra vez persiste”, relata.

Para quem quer se aventurar, mas ainda não criou coragem para ir muito longe, uma boa dica é começar a fazer passeios na própria cidade, como conta Karilayn Areias, do blog Kari Desbrava (karidesbrava.com.br). “Viajar sozinha ou sair sozinha pela minha própria cidade, uma bandeira que defendo, para mim não é problema nenhum. A minha independência nesse sentido começou de forma natural. Queria fazer trilhas, ir a museus, rodas de samba, viajar e não tinha companhia, pois meus amigos não curtiam os mesmos programas que eu estava afim de fazer. De primeira fiquei chateada por ninguém querer ir comigo, mas depois pensei: ‘Por qual motivo não vou sozinha?’. Como acho inadmissível não me fazer feliz por conta dos outros comecei a encarar o desafio me divertir na minha própria companhia e não é que peguei gosto pela coisa?”, diz.

Karilayn Areias, do blog Kari Desbrava
Karilayn Areias, do blog Kari Desbrava

Para ela, sair ou viajar sozinha significa apreciar a própria companhia, desenvolver autoconfiança, estar aberta (ou não) a novas amizades e se aprofundar em um autoconhecimento, já que nesse tempo sozinha às vezes rola uma autoanálise. “Com base nessa experiência, já fiz um vídeo no canal do blog no Youtube chamado ‘Três dicas para perder o medo de sair sozinha’, que é o mais visto do canal, além de textos incentivando as mulheres a perderem o medo e desbravarem esse mundão”.

E se engana quem pensa que esse tipo de viagem faz parte somente da vida das solteiras. Um exemplo é Dayana Lole, do blog Lolepocket (lolepocket.com.br). Casada, ela algumas vezes também viaja sozinha. “Estar num relacionamento não precisa nos fazer perder a nossa individualidade. Seja pela falta de interesse do parceiro num determinado destino ou pela impossibilidade de conciliar as agendas, viajar sozinha se torna uma oportunidade. Não é melhor, nem pior que estar acompanhada. É, apenas, diferente. Devemos prestar mais atenção na escolha dos roteiros, o famigerado ‘pau de selfie’ é mais usado, conversamos com mais pessoas e, mais que tudo, redescobrimos o prazer da própria companhia”, afirma.

Dayana Lole, do blog Lolepocket
Dayana Lole, do blog Lolepocket

Para ela, o mais importante nesse caso é perceber que esse não é um “tempo da relação”. “Bem pelo contrário: de vez em quando até faz bem. Quando voltamos, estamos felizes e com muitas saudades. É ótimo para os dois lados”, diz.

Esses exemplos são amostras de como o comportamento feminino vem mudando, o que tem a ver com algumas mudanças pelas quais a sociedade também vem passando, com meninas cada vez mais sendo criadas para serem fortes, enfrentarem seus medos, se sentirem capazes e, quem sabe um dia, conquistarem o mundo! Porque lugar de mulher é onde cada uma quiser!

* Por Mariana Bueno, do blog MarianaViaja