Viciado em celular? Conheça destinos para se desconectar
Confesso que é difícil não estar conectada. Checava meu e-mail, Instagram, Facebook e WhatsApp a todo instante. Agora estou tentando dar uma maneirada, mas antes era direto. Quando percebia já estava com o celular na mão e lá se ia uma hora e meia da minha vida sem eu nem ver em que.
Uma das coisas que me fez perceber esse vício foi viajar para lugares sem conexão alguma com internet. Por isso, selecionei alguns destinos que, além da beleza cênica, podem te ajudar a viver um detox do mundo virtual e te levar a uma vida mais equilibrada.
1 – Monte Roraima, Venezuela
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Além da trilha pesada, do paredão de tirar o fôlego, das paisagens de outro planeta e da população acolhedora, a viagem ao Monte Roraima ainda iria me proporcionar outra experiência única: ficar cinco dias sem celular, televisão, computador, rádio… Nada!
Nem com reza braba para todos os santos da montanha você consegue sinal por lá. Durante toda a trilha você não tem escapatória. Não vai dar like em nada, match com ninguém, nem dar bom dia no grupo do whatsapp (graças a Deus). É um detox completo.
Nos primeiros dias você estranha, gostaria de saber o que está acontecendo no mundo lá fora, compartilhar o que está vendo, saber a previsão do tempo ou procurar no google o nome daquela cidade que você foi e tá contando pro seu parceiro de trilha como é lá é bom. Mas depois você se acostuma e começa a ver que não importa muito se não olhou a caixa de e-mail. É uma sensação libertadora, só aquele momento importa. Não tem mais nada. É só você, aquelas pessoas, aquela paisagem e pronto.
Passei cinco dias sem conexão nenhuma com o exterior. Era o processo de começar a olhar pro que tem aqui dentro e que por tanto tempo eu tenho tentado evitar. Eu uso o celular muito como muleta, pra matar o tempo. Logo o tempo, que é uma coisa tão valiosa.
Quando voltei para a cidade e me conectei novamente vi que não tinha perdido nada. Nada mesmo. Quer saber como ir para o Monte Roraima? Dá uma lida aqui.
2 – Transiberiana
Que tal passear por 9.300 quilômetros dentro de um trem, por cenários nada convencionais, sem qualquer conexão e onde quase ninguém fala sua língua? Bem desafiador, né? Meu amigo Diogo Alcântara entrou nessa fria, literalmente, em 2015. Foi para um dos cantos mais frios do planeta se aventurar pela Transiberiana.
Ele me explicou que a Transiberiana é uma rota de trem que originalmente sai de Moscou e para em Vladivostok, no extremo leste da Rússia. Mas existem vários braços desta linha de trem. Ele optou a que sai pela Mongólia pois é a que apresenta paisagens mais diversas.
E lá vem os desafios. O que é bom, afinal… quem conhece detox fácil? A viagem é belíssima, existem locais onde a parada é obrigatória, seja pelos atrativos naturais ou pelos pontos históricos. De acordo com o Diogo é maravilhoso ver a paisagem mudando, estepe virando deserto, ver a diferença da Mongolia quase inabitada para China com sua superpopulação e ainda ver a Sibéria pela janela do trem.
Mas tem horas de pura monotonia, imagine 9.300 km de trajeto, no total seis dias e meio dentro de um trem. Ele fez sozinho e avisa: pode ser apavorante para algumas pessoas. Desafiante para outras. É aprender a conviver com você mesmo, o que pode ser ruim para muita gente. Tem horas que você lê, escuta música, pensa na vida, olha a paisagem. Mas tem horas que não tem nada para fazer e até isso pode ser uma oportunidade de aprendizado.
Você pode até ter sorte e encontrar alguém que fale inglês, mas muitas vezes só tem russos que não falam nada além da língua deles. O Diogo até tentava mímica com alguns deles. Mas na maior parte do tempo, era ele com ele mesmo. Nada de facebook, instagram, sites de notícias, besteirol na internet ou vídeos do youtube para passar o tempo. Nada!
Apesar de não ser confortável em alguns momentos, ele garante que é uma viagem incrível. É um momento de autoconhecimento, livre da vida lá fora. Segundo o Diogo, é o divisor de águas na vida de quase todo viajante.
3 – Expedição pela Patagônia
Quem também saiu da zona de conforto para curtir sem pressa paisagens belíssimas foi o Leandro Discaciate. Em janeiro de 2013 ele fez uma viagem pelo Chile, saindo de Santiago e indo parar no extremo sul do País. Enquanto planejava essa viagem descobriu que poderia fazer um trecho de barco. Seriam quatro dias dentro de um ferryboat percorrendo a costa chilena até chegar a Puerto Natales, ponto de entrada do Parque Nacional Torres del Paine, uma das principais atrações da Patagônia.
Logo que começou a pesquisar sobre a expedição viu que metade das pessoas amava e a outra odiava a viagem e percebeu que o sucesso dependia de dois fatores. O primeiro é sorte: o tempo pode estar completamente fechado, o que vai te impedir de ver as geleiras, os lagos e os animais da região. O segundo é a expectativa do viajante: é uma travessia de barco, tudo é bem simples e não tem tv, internet ou aquelas mil e uma atrações dos cruzeiros luxuosos.
Ele decidiu arriscar e acabou vivendo umas das melhores viagens da vida dele. O tempo colaborou e ele teve a chance de ver geleiras caindo, picos nevados, animais como golfinhos e aves marítimas. A simplicidade do barco, que pode ser um problema para algumas pessoas, para ele foi a oportunidade de ter contato com outros viajantes. Ele contou que as amizades mais duradouras que já fez viajando foram feitas naquele passeio. Alguns dos amigos do barco ele acabou reencontrando em outras viagens.
Fica uma dica: Interagir com outros viajantes faz mesmo parte da alma dessa viagem. Tanto é que é comum todo mundo levar uma bebida ou comida para compartilhar no barco com os demais. Ele mesmo levou algumas garrafas de bebida e fez a festa da galera por lá.
Outra sugestão! Na viagem ele foi lendo o livro “Na Patagônia”, de Bruce Chatwin. O livro é um clássico da literatura sobre viagens e é o resultado de seis meses de viagem do escritor inglês pela região. Ele estava insatisfeito com o trabalho dele e mandou um telegrama para o chefe: “Fui para Patagônia”. O resultado dessa experiência virou o livro.
4 – HaLong Bay, Vietnã
Na outra ponta do Mapa Mundi, mais um destino para ajudar quem quer fugir de tecnologia. A dica agora é do Guilherme Rosa, que foi para o Vietnã em abril de 2013. Halong Bay é um dos principais destinos turísticos do país. Significa “Baía onde o dragão desceu” e é um arquipélago com cerca de 3000 mil pequenas ilhas.
A ação dos ventos e do mar fez com que pedras calcárias emergissem das águas formando um cenário único no mundo. Foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, em 1994. A maior parte das ilhas não está habitada, o mar é verde esmeralda e a vegetação nas rochas é de deixar qualquer um de queixo caído.
O Guilherme contou que existem passeios de um dia para lá a partir da capital Hanoi, mas que o bom é ficar mais dias pela região para aproveitar a paisagem e o sossego que o lugar trás. Ele explicou que não há sinal de internet, tv ou telefone em nenhum canto das ilhas.
Para quem quer se desconectar, mas não aguenta ficar parado, essa pode ser uma boa opção, já que os pacotes por lá podem incluir passeios de caiaque, aulas de culinária, trilhas, expedições em cavernas, pescarias ou visitas às comunidades locais. O Guilherme mesmo sentiu falta de internet só no começo, depois até esqueceu que estava desconectado.
5 – Trilha pela Costa Verde do Rio de Janeiro
Essa nossa dependência de redes sociais e internet é tão grande que tem empresa se especializando em criar roteiros para um detox virtual. Ano passado minha amiga Márcia Lage foi convidada a acompanhar, como observadora, um desses grupos e me explicou que é uma experiência e tanto para quem é viciado no mundo virtual.
Para começar é um detox de mente e corpo, já que envolve longas caminhadas. E nestes passeios o detox é tanto que nem câmera eles puderam levar. Você tem que estar presente mesmo! O que mais surpreendeu a Márcia foi a dependência de algumas pessoas, logo no início do passeio todos aparelhos eletrônicos são recolhidos e entregues só depois dos dois ou três dias de caminhada, nesse momento teve gente que tremeu nas bases!
A empresa contratou um professor de yoga para tentar relaxar o grupo. No primeiro dia eles passaram por cachoeiras e praias intocadas na costa de Paraty: Praia do Sono, Antigos, Antiguinhos, Galhetas (Praia e cachoeira) até Ponta Negra, uma vila de pescadores sem luz elétrica mas que possui um orelhão ao qual algumas pessoas, assim que chegaram na vila, correram para fazerem suas ligações.
No dia seguinte, outra trilha até o Saco Bravo, uma cachoeira que deságua numa pedra à beira mar, criando uma piscina natural de borda infinita. Neste momento ela sentiu um pouco de angústia pelo fato de não poder fotografar. Mas ela contou que, dessa forma, deu pra olhar melhor, ouvir, sentir, refletir e meditar naquele local . Ao final do passeio, quando os celulares foram devolvidos, todo mundo voltou ao vício. No entanto, mais conscientes da necessidade de se afastar dele pelo menos nos fins de semana, para ver o mundo com outros olhos.
Bem, estes são alguns dos destinos possíveis, existem inúmeros. Aposto até que você não precisa ir muito longe. Tem sempre uma área rural pertinho, onde você pode fugir de qualquer wi-fi. E tem outra! Que tal pegar aquele fim de semana e conhecer sua própria cidade deixando o celular em casa??? Já fez algo parecido??? Compartilha aqui!!!!
Serviço
Tickets para Transiberiana (pass.rzd.ru)
Empresa que faz a viagem detox em Paraty (www.paratyexplorer.com.br)
Empresa de Ferry Patagônia (www.navimag.com)
Por Bárbara Lins, do blog Descobertas Barbaras