1º passeio turístico realizado pelos coletivos das periferias de Santo André acontece neste sábado
O Vila Mundo é uma iniciativa do Instituto Acqua em parceria com a Catraca Livre
O ‘Batucadas na Beira do Campo – Samba e Futebol de Várzea’ será o 1º passeio turístico realizado pelos coletivos das periferias de Santo André. O evento tem o objetivo de valorizar a cultura e fortalecer a economia local e ocorrer neste sábado (15/04) às 8h. Os ingressos custam de R$20 à R$30 e estão à venda pelo Sesc.
Nada como curtir o fim de semana conhecendo lugares diferentes e aprendendo algo novo. Viajar, para muitos é essencial na lista de prioridades e ao contrário do que muitos pensam, nem sempre é preciso muito investimento, o desconhecido pode estar bem próximo à sua casa. Você já ouviu falar no Turismo de Base Comunitária? Voltado para quem busca um turismo consciente, o TBC preza pela valorização da cultura da região, fortalecimento da economia local, que tem como característica a autogestão, cujos protagonistas são os próprios moradores.
Da parceria com o Sesc Santo André, os coletivos Cozinha do Gueto, Bateria Ritimonstro e Escola de Samba Palmares realizarão seu primeiro passeio turístico: Batucadas na Beira do Campo – Samba e Futebol de Várzea, que acontecerá, nas comunidades do Jardim Santo André e Vila Suíça.
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Cconduzido pelo guia de turismo e articulador cultural, Neri Silvestre, o roteiro oferecerá uma vivência no Campo do Colorado, acompanhada ao som das batucadas da bateria, logo depois, uma parada na cozinha, onde terá a venda de comidas típicas nordestinas e a feira livre de de artes dos trabalhadores autônomos, baseado na economia da cultura.
O diferencial desses passeios está na oportunidade em que o turista tem ao se conectar com a parte da história que não está escrita nos livros, mas sim nas memórias que esses moradores carregam de geração em geração. Também na tranquilidade em saber que estarão contribuindo com a valorização da cultura, preservação ambiental e a geração de renda, que diferentemente do turismo tradicional, que na maioria da vezes, não elabora estratégias para que todos se beneficiem do turismo, o TBC está mais preocupado com uma gestão compartilhada, autonomia coletiva e crescimento local.
Neri enxerga as culturas periféricas como capazes de enriquecer a visão cidadã: “Quando juntamos as culturas periféricas em rede, tomamos outras dimensões da cidadania, da arte e da cultura e a microeconomia é elevada à potência. Com isso, surgem novos atores antes escondidos: donas de casa, moradores locais, agremiações e os visitantes passam a interagir entre si, ampliamos os olhares, a visão muda. Quem é da periferia entende que é importante o visitante, e o visitante tem a oportunidade de mudar sua visão diante do novo, conclui.
O auge do passeio será a vivência com a Bateria Ritimonstro, formada por moradores do Jardim Santo André, embora, com apenas sete anos de existência, tem como mestre o Nunuca Oliveira, 60, que vive o samba na essência, desde a sua adolescência, entoando a música deixada por seus ancestrais, em escolas de São Paulo, Rio de Janeiro, onde, em muitas foi intérprete de samba enredo. Juntamente com a presença do mestre Robson Batuta, apresentando a lendária Escola de Samba Palmares, de Santo André, que com quase meio século, não sucumbiu em meio ao desmantelamento da festa tradicional na cidade, o carnaval, que resiste como os versos deixados de Nelson Sargento: “Samba, agoniza, mas não morre”.
Surgido na década de 80, o time de futebol de várzea Esporte Clube Colorado, é o reflexo da resistência de um povo, que além de enfrentar o período do regime militar, vivia outras ditaduras, muitas que perduram até hoje: a da pobreza, a do desemprego, a da fome e para driblar, o jeito era o jeito malandro, não o preconizado pela sociedade que está em sua bolha, mas o que faz uso das sabedorias advindas de seus costumes e cultura. É comum pensar a periferia com a imagem de miséria, no entanto, repartir é um hábito cultural nas comunidades, motivo pelo qual o time permanece, esse era o modo de se fortalecer contra as injustiças: extravasando a alegria inerente das culturas negras e periféricas.
Os jogadores dos campos de várzea sempre driblaram esses adversários, da mesma maneira, a Cozinha do Gueto, nasce num campo adverso, onde mãos negras produzem alimentos típicos, diferentes dos pratos gourmetizados, a comida preparada é feita por alguns dos primeiros moradores da região, migrantes nordestinos que construíram sua sorte nos morros, trazendo no matulão sabores e no peito a saudade.
O mais velho da cozinha, seu Francisco Silva, acalentou vários momentos no preparo da comida baiana com seu samba de roda, cantos de terreiro e histórias. Partiu, deixando seu legado. A Cozinha do Gueto não é um lugar de saudades, mas de lembranças, cujas vivências e os ensinamentos dos seus mestres e griots sempre são lembrados, e o Nordeste, deixado um dia pela sua gente, é reverenciado através do alimento e das sementes de juazeiros, plantadas pelos primeiros que chegaram e sabem a importância do abrigo da sombra aos que vêm da lida que é a travessia entre o sertão e a cidade grande.
O passeio é antes de mais nada um convite à reflexão, da referência do que se compreende por centro, que pode não estar mais na cidade, mas nas bordas dela, um convite a furar a bolha e se desafiar a novos atravessamentos, que promovam encontros de mútuo respeito e valorização no que é está no outro.
Neri acredita que as culturas periféricas podem colaborar com a autonomia das pessoas, através da economia do turismo: “Podemos afirmar que as agremiações têm muito a contribuir com a cultura e a economia local, o Time do Colorado, a Bateria Ritimonstro, a Cozinha do Gueto e a Escola de Samba Palmares são conexões entre os periféricos e periféricas, são nossos laboratórios, são nossos hubs de criatividade e economia criativa.”, finaliza.
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