Com 56,4% de crianças analfabetas no país, escritor independente forma leitores e surpreende com vendas

O Vila Mundo é uma iniciativa do Instituto Acqua em parceria com a Catraca Livre

Por VilaMundo
04/06/2023 18:00

 

Eduardo Kaze vendeu 2 mil  títulos  no ano passado. Ele  relata retorno de pessoas que nunca haviam lido um livro inteiro e encontraram, na narrativa curta, incentivo para começar.

 

 

O Brasil enfrenta um grave problema de analfabetismo entre crianças do 2º ano do ensino fundamental, segundo levantamento divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta quarta-feira (31). O índice de crianças não alfabetizadas subiu para alarmantes 56,4% em 2021, contra 39,7% no ano anterior. Este cenário preocupante demonstra a importância do incentivo à leitura e ações que fomentem a literatura, em especial, de autores independentes capazes de atingir uma camada diferenciada da população.

Incentivar a leitura desde a infância é uma das diretrizes da lei nº 13.696, de 12 de julho de 2018. Essa mesma lei afirma ainda, em seu parágrafo 5, que fica estabelecido “o reconhecimento das cadeias criativa, produtiva, distributiva e mediadora do livro, da leitura, da escrita, da literatura e das bibliotecas como integrantes fundamentais e dinamizadoras da economia criativa”. Tais figuras da cadeia criativa, no entanto, afirmam que tal reconhecimento chega apenas na condição de editais e concursos, não de políticas públicas efetivas.

Para Eduardo Kaze, escritor independente que publica e comercializa o próprio catálogo, tanto artistas quanto o governo devem se mobilizar, cada um à sua maneira. “Acredito que da parte dos autores, é necessária uma readequação das publicações, como venho fazendo, com contos e obras divididas em capítulos publicados de forma impressa, que mesmo na era da internet é um diferencial importante para a conquista de novos leitores; da parte do governo, precisamos, nós artistas independentes, de ‘fôlego’, e isso significa investimento em políticas permanentes de incentivo a nossa arte, não apenas programas sazonais, como são os editais”, afirma Kaze.

Leitura é escassa também entre adultos

Uma parcela significativa dos brasileiros, já na fase adulta, apesar da fluência de leitura, têm um hábito muito abaixo da média mundial e praticam a escrita apenas de maneira formal, jamais criativa.

De acordo com a última edição (2020) do estudo “Retratos da leitura no Brasil”, feito pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, apenas pouco mais da metade da população (52%) tem hábitos de leitura, com a Bíblia e os livros religiosos dominando a preferência.

Essa realidade é vista também por Kaze, que em 2022 vendeu a preços populares aproximadamente 2.000 exemplares, entre seus nove títulos. “Escrevo, imprimo e comercializo meus próprios livros, o que me dá uma margem de vendas mais alta, pois posso trabalhar vários títulos sob demanda e atingir pessoas que têm pouco hábito de leitura, já que vendi em bares, casas noturnas e até no farol. Essas pessoas, por não terem o costume de ler,  não querem investir em obras caras e, muitas, retornam dizendo que foi ‘o primeiro livro que leram até o fim’. Eu diria que pelo menos 1% delas, o que é significativo num universo tão pequeno de análise. Por isso, com incentivos permanentes do governo, certamente nós autores independentes poderíamos trabalhar com mais margem,  produzir mais e, assim, formar mais leitores”, finaliza o escritor.

 

Sobre Eduardo Kaze

Eduardo Kaze – Nascido em Santo André, Kaze é autor de nove títulos, dentre eles, três romances: O Enigma do Cordeiro (2013), Paris 20 (2016) e Senhor Solitário (2020) – todos lançados de maneira independente e tendo, como cenário, o território andreense. Kaze é formado e pós-graduado em Ciências Sociais pela Fundação Santo André (FSA) e atualmente dirige a Redatoria Gonzo, responsável pela editoração de seus livros.

Em 29 de julho, no Festival de Inverno de Paranapiacaba, Eduardo Kaze realiza bate papo sobre o conto, este gênero textual fundamental para qualquer artista proponente às letras, explorando técnicas textuais, desenvolvendo atividades e contando sua experiência no gênero e possibilidades de mercado para escritores – iniciantes, ou não. Na ocasião, o último trabalho de Kaze, O Poderoso DIGBY, será distribuído aos presentes. Site: https://kz-zine.wixsite.com/o-que-conta-o-conto

 

Leia mais

 

Sabina abre inscrições para oficina que ensina a fazer robô com sucata

DicaVilaMundo: Quer ficar por dentro de mais iniciativas culturais, sociais e sustentáveis? Siga o Instituto Acqua no Facebook e Instagram