Grupo teatral As Malecuias estreia Monstro em duas sessões no Sesc Santo André

O Vila Mundo é uma iniciativa do Instituto Acqua em parceria com a Catraca Livre

Por VilaMundo
08/03/2023 08:20

Realidade e ficção andam juntas na encenação, que mescla elementos diferentes do drama clássico, do teatro e da literatura moderna.
Realidade e ficção andam juntas na encenação, que mescla elementos diferentes do drama clássico, do teatro e da literatura moderna. - Foto: Divulgação.

 

Texto inédito de Karen Sacconi, Monstro terá duas únicas apresentações no Sesc Santo André, dias 9 e 10 de março, às 20h. O espetáculo, encenado pelo grupo As Malecuias, revisita a estrutura da tragédia grega e algumas de suas imagens servem a um propósito: ao mesmo tempo em que impõem certo distanciamento estético, refletem o momento de pessimismo dos últimos anos e a prolongada catarse social recentemente vivida, produzida pela convivência com um inconcebível número de mortes diárias conjugada com uma liderança nefasta.

 

Na trama, sob a influência de um líder recém-chegado ao poder, uma mulher passa a levar seu cachorro a uma rinha de cães, defendida pelo novo líder como prática e símbolo dos novos tempos, representando a supremacia do mais forte e o culto à violência. Com a morte de um faxineiro que fazia a limpeza da carnificina, a rinha é colocada em xeque, deixando a mulher e sua mãe em lados opostos. O título da peça, Monstro, remete sobretudo à deformidade moral da concepção de justiça da barbárie, que leva a um desfecho fatal.

 

A concepção dramatúrgica da montagem se assenta em dois modelos. O primeiro é o da tragédia grega, referência não só enquanto estrutura formal, mas também como parte de um diálogo intertextual. Não por acaso, Karen Sacconi é formada em grego clássico pela Universidade de São Paulo e doutora em Letras Clássicas, pela mesma instituição, na área de teatro grego. O segundo fundamento da concepção dramatúrgica do texto é a combinação de dois elementos típicos do teatro e da literatura moderna: o duplo e a metamorfose da personagem em animal, cujos precedentes literários e dramatúrgicos mais conhecidos são A metamorfose, de Kafka, e O Rinoceronte, de Ionesco.

 

A ação principal é entrecortada por cenas que, se no início parecem compor uma ação paralela com a finalidade de respiro cômico, aos poucos, vão se conformando em uma espécie de coro trágico, cuja função é refletir e comentar os eventos da ação dramática principal num registro mais poético.

 

A diretora do espetáculo, Milena Faria, foi apresentada ao texto em 2020, em meio à pandemia. “Sozinha, no meu apartamento, sem ver amigos e família, li e chorei. Gritou-me, por meio do texto, a nossa realidade. Não era a pandemia da Covid-19 o nosso maior problema, era a epidemia de um discurso de ódio se alastrando pelos quatro cantos do país, minimizando dores, exaltando torturadores, discurso esse cujo espalhamento se deu mais rápido do que a variante Delta. Ao mesmo tempo em que me senti impotente, arrebatada por saber que realidade e ficção nunca caminharam tão juntas, tive a impressão de estar vivendo um momento muito especial, que é daqueles quando nos deparamos com uma obra de arte”, conta ela.

 

Sinopse

Influenciada por um líder recém-chegado ao poder, Silvana passa a levar seu cachorro, Glock, a uma rinha de cães. A rinha é defendida pelo novo líder como prática e símbolo dos novos tempos, representando a supremacia do mais forte e o culto à violência. Sob o olhar entusiasmado do pai, e reticente da mãe, a jovem Silvana adere a essa versão distorcida de meritocracia. Na rinha, ela encontra um rapaz encarregado de implementar as ordens do líder: incentivar a luta dos animais e administrar o trabalho dos faxineiros, incumbidos de se livrar dos corpos dos cães mortos. O momento de inflexão se dá com a morte de um faxineiro, atacado pelo cão enquanto fazia seu trabalho de limpeza da carnificina. A morte de uma pessoa coloca em xeque a rinha e fará com a mãe de Silvana, antes condescendente com a prática, se oponha à continuidade da luta de cães. Mas Silvana escolhe defender a rinha, a nova ordem imposta pelo líder, e radicaliza sua visão de que os divergentes devem ser tirados do caminho.

 

Ficha técnica:

Dramaturgia: Karen Sacconi. Direção: Milena Faria. Figurino e cenário: Milena Faria. Trilha original: Anselmo Ubiratan. Atrizes e atores: Anselmo Ubiratan, Eliete Faria, Marcos Suchara e Milena Faria. Designer de luz: Adriana Dhan. Operação de luz: Reynaldo Thomaz. Operação de som: Karen Sacconi. Produção de figurino: Silvia Chaves. Cenotécnico: Rodolfo Valentino.

Sobre As Malecuias

Fundado em 2015, a partir da necessidade de novas estratégias de incentivo à leitura, As Malecuias é um grupo de contadores de história e atores que constroem suas próprias dramaturgias e linguagens cênicas. Em 2018, o grupo ampliou sua formação e deu início a um trabalho de pesquisa em literatura grega para leitura e discussão de diversos autores clássicos, desde Hesíodo, passando por Homero, até chegar aos tragediógrafos do século V a.C. e a Aristófanes.

 

Serviço:

 

Monstro

Com As Malecuias

Duração: 60 minutos.

Não recomendado para menores de 16 anos – Autoclassificação.

Acesso para pessoas com mobilidade reduzida.

Recomenda-se o uso de máscara durante todo o espetáculo.

Realização: Ministério da Cultura e Fundação Bienal de São Paulo, com apoio institucional do Sesc

 

Sesc Santo André

Dias 9  e 10 de março, quinta e sexta, às 20h.

Rua Tamarutaca, 302, Vila Guiomar, Santo André. Tel. 4469-1200. Capacidade: 302 lugares. Ingresso – Grátis – distribuição a partir do dia 1º/3 em www.sescsp.org.br e presencialmente nas Bilheterias da Rede Sesc SP. Estacionamento para o espetáculo – R$6,00 – portadores de Credencial Plena válida e R$11,00 – público geral

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