Tecer Cultural reinaugura Cozinha do Gueto com comida típica nordestina neste sábado

O VilaMundo é uma iniciativa do Instituto Acqua em parceria com a Catraca Livre

Neste sábado (27/11) a  partir das 10h, será reinaugurada a Cozinha do Gueto, localizada no espaço Tecer Cultural, entre as periferias da Vila Suíça e Jardim Santo André, em Santo André, o propósito é oferecer um ambiente que proporcione momentos onde se mate a saudade da cultura e culinária nordestina. Com mesas, horta comunitária, ao som de música regional, o lugar arejado é ideal para saborear a refeição, desde que se respeite os protocolos de segurança contra a Covid-19, outra opção é a retirada no local e entrega em domicílio. Todas as vendas serão antecipadas para uma maior organização.

Vendas somente antecipadas para saborear os pratos no local ou em casa. Foto: Lab Urbe.
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Vendas somente antecipadas para saborear os pratos no local ou em casa. Foto: Lab Urbe.

Com o aumento do desemprego, que marca 14, 8 milhões no Brasil, com dados do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), de 2021, a retomada da cozinha veio pelo empenho dos próprios moradores que, pensando em novos caminhos para conter os impactos da crise econômica, aplica o princípio da economia solidária como uma missão. Baseado na autonomia e participação democrática, em que os recursos gerados são distribuídos igualitariamente, a feira artesanal, voltada para trabalhadores e artistas autônomos, abrange essa noção, que visa a diminuição das desigualdades sociais, a potencialização da comunidade, onde mais atores estejam envolvidos. Alternativo Sttyle,­­­­­­­­­­­­­ Artesanato Feitiço, Sônia Lessa Horta Orgânica, são alguns nomes confirmados.

Surgida em 2018, a Cozinha do Gueto é parte de um projeto mais amplo, por integrar a pasta de ações sociais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que teve efeito satisfatório na intervenção em outros núcleos habitacionais, como Serra do Mar, Pimentas, Pantanal, em virtude dos programas de recuperação de áreas de interesse social, mediante a pesquisas, mapeamento e trabalho de base juntamente com os moradores, fomentou às potências locais, favorecendo a implementação do TBC (Turismo de Base Comunitária), no entanto, com o corte de verbas, as ações sociais da CDHU, promovidas pelo projeto Social Lab Urbe, junto ao núcleo de Santo André, foram paralisadas, com o agravante da pandemia, que fez crescer o desemprego e a fome, as comunidades vulneráveis foram as mais afetadas.

Segundo dados da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), mais da metade da população brasileira, 55,2%, passa fome ou vive um grau de insegurança alimentar.
Formada por esses griôs e aprendizes da região, outras missões da cozinha são, antes de mais nada, encorajar a soberania alimentar, promovendo o protagonismo de moradores do entorno, evidenciar e valorizar os costumes locais,  resgatando a cultura alimentar do território – marcado pela presença da população negra e nordestina – que se consolidaram ao longo da história, seja no batuque do samba, nas batidas do funk ou na gastronomia.

A baiana Eritânia Bispo, 54, moradora do Jardim Santo André, uma das integrantes da Cozinha do Gueto, desde o começo, tira parte da sua renda das vendas de marmitas, diz que é através da curiosidade, “passando de um para o outro” que o restaurante vai se tornando conhecido, fala ainda, que para além  do seu sustento, a importância de um espaço como esse está no gosto que ela cultiva em preparar os pratos típicos que ela cozinhava na Bahia. ” Eu passo informações do que eu sei para os colegas os colegas transmitem para mim”, completa.

Os griôs não são apenas os membros mais velhos da sua comunidade, são indispensáveis para a continuidade dela e reconhecidos por ela por transmitirem as sementes de conhecimento. É no dia a dia que ensinam os rezos, a cura das moléstias por meio das ervas medicinais, saberes passados através da corporeidade e pelo poder da fala – amálgama do que é feita a cultura popular brasileira. Herdada dos negros africanos que foram trazidos no período da escravidão, os griôs, compreendem grupos, nações, famílias, todas baseados na tradição oral, que podem carregar outro nome em outras etnias, a exemplo, as indígenas, que reconhecem a relevância dos griôs no papel social e político em seu território. Elas não possuem o livro como referencial, pois são consideradas bibliotecas vivas, em que a palavra é o pilar.

Seu Francisco Silva é o mais velho da Cozinha do Gueto, depois Dona Maria Helena Neves e Eritânia Bispo do Santos, três baianos que detém a culinária que não está em livros de receita, nem no rol da alta gastronomia preconizada nas universidades, mas têm grau elevado, visto que vieram de uma raiz ancestral, cruzando as águas que fluíam as naus de um continente ao outro, por isso, Neri Silvestre, Fabiana Lima, Amanda Abreu e Cristiane Abreu, o restante do grupo, são apenas aprendizes, cuja escuta atenta, observação, fala são elementos fundamentais desse ritual de encantamento com os alimentos.

O projeto
O espaço Tecer Cultural promete ser um polo cultural e laboratório de políticas públicas gerido pelos próprios moradores,  que além de comportar a Cozinha do Gueto, abriga outros projetos, como o Retece, formado por mulheres que trabalham com costura sustentável; o coletivo Sarau Literalmente Favela e Sarau na Quebrada, que tem ações voltadas à arte e cultura.

Esse retorno é o impulso inicial para estabelecer novos projetos que já estão engatilhados: biblioteca comunitária, cineclubes, saraus, formações de audiovisual, comunicação comunitária, educação sexual. Várias dessas ações já foram realizadas nesse lugar, chegando a sediar a 1º Mostra Cultural e Gastronômica da comunidade, produzida pelo Projeto Social Lab Urbe, que contou com a presença de artistas da região, exposição de produtos, arte, cultura, lazer e o tour das artes a céu aberto, além de tendas dos projetos sociais da CDHU dos núcleos habitacionais Pantanal, Pimentas e Serra do Mar.

Com a volta das atividades presenciais, respeitando as normas de segurança contra a covid-19, o objetivo do Tecer Cultural, para além de incubadora de projetos, é a recomposição do plano inicial da CDHU, de tornar o Jardim Santo André um polo de Turismo de Base Comunitária (TBC). A ideia vai além de um mero empreendimento, mas perpassa pela concepção da autonomia da comunidade, descentralização e valorização do território, preservando sua diversidade cultural, tendo os moradores como protagonistas.

Cientes dos desafios, sem financiamento, contam com parcerias que se alinhem aos valores e ideais, que são bem vindas, tanto para o evento do dia 27, com doações de alimentos, e a estruturação da cozinha, que por ora conta com um fogão pequeno, como para a continuidade e permanência do projeto.

Serviço:
Valor: R$ 25 ( vendas somente antecipadas). Com a taxa de entrega adicional: R$ 5 até 5km, ademais, R$10

Cardápio: Galinha caipira, polenta de ora pro- nobis, feijão fradinho e um mix de salada, opção vegana, moqueca de banana da terra, polenta de ora pro- nobis, feijão fradinho e um mix de salada. Suco – valor à parte.

Pix: cozinhadoguetosantoandre@gmail.com

Pedidos pelo WhatsApp: 11 98467-7791 / 11 96326-8063

Local: Rua Hamurabi,  375, Vila Suíça

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