Caminhão + contêiner = teatro
Projeto Teatro a Bordo coloca o caixote em um caminhão, o transforma em palco e exibe peças gratuitas para a população; próxima parada será em Osasco
Quem conhece, pelo menos um pouco das características da Baixada Santista, sabe que faz parte da paisagem da cidade a chegada e partida de contêineres pelo Porto de Santos. Mas, pouco provável, seria transformação dele em um palco de teatro itinerante. É exatamente este caixote – a bordo de um caminhão – que poderá ser visto na cidade de Osasco, entre os dias 26 e 29 de novembro, com entrada Catraca Livre. As apresentações mostram pitadas da cultura brasileira, em tons de humor e palhaçadas, através do projeto Teatro de Bordo, originalmente criado na cidade de Santos.
“Ele [o contêiner] tem uma decoração que parece com as carroças da ‘commedia dell’arte’”, comenta a idealizadora do projeto, Talita Berthi, 27. Em cartaz, serão apresentadas ao público quatro peças. Uma delas, batizada de “Boi Viramundo”, conta a história de dois palhaços – Lelé Lamparina e Belinha Bonitinha. A lenda maranhese do bumba meu boi acaba aterrissando em um cenário sulista.
Ela conta a história que a dupla começa a fazer diversas viagens pelo Brasil e, quando chega no Rio Grande do Sul, se depara com o Boi Bumbá, morto logo após a conhecer o churrasco gaúcho. Os dois, então, se empenham em diversos rituais para ressuscitar o animal. Tudo isso, é claro, em meio a um processo lúdico bonecos de luva e ajuda de quem assiste.
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Pensar em apresentações cujos temas circundam a cultura popular é, para Talita, uma forma de aproximar a plateia das peças apresentadas. Trata-se, portanto, de uma linguagem de fácil entendimento. Ela ressalta, também, a importância de as pessoas recuperarem suas próprias histórias, através das encenações. “Já houve casos que, depois de assistir ao espetáculo, a mãe começou a contar mais sobre sua própria história para o filho”, lembra.
Formada em Ciências Sociais, Talita acredita que o Teatro a Bordo consegue, passando de cidade em cidade, catalisar sua proposta de aproximar o público, cada vez mais da cultura. Ela enfatiza sim o tom da cultura popular, mas não descarta a possibilidade de inserções de cultura erudita na arte que faz, como parte de suas apresentações. Tanto que, em algumas cidades pelas quais ela e sua trupe passaram, muitas Bandas Sinfônicas locais fizeram seus espetáculos.
Palco e bastidores
Em processo de revés com três grupos teatrais – Abaréteatro, de Itanhaém; Circo Navegador, de São Sebastião e De Quatro no Ato, do Rio de Janeiro – os atores usam o máximo que podem do espaço do contêiner. Quando a caixa não é usada como palco, é lá que ficam guardados os 300 banquinhos da platéia, além de o figurino, cenário e iluminação. Quando o caixote se transforma num palco, é dali mesmo que ele se surge um camarim.
O contêiner foi comprado no ano passado, com a verba do Programa de Ação Cultural (Proac), do Governo do Estado. O caminhão, por ora, é alugado pelo projeto. Pela rota dos atores, a capital paulistana não entrará no circuito das apresentações. Mas, caso um dia isso aconteça, Talita quer se apresentar em pontos periféricos do município. “São em bairros distantes do Centro, que a população precisa de mais acesso à diversidade cultural”, conclui.