Beto Daniel: O padre excomungado por defender homossexuais

Padre Beto Daniel fez declarações sobre temas considerados polêmicos como união entre pessoas do mesmo sexo, divórcio e mudanças na Igreja

Roberto Francisco Daniel, conhecido como “Padre Beto”, foi excomungado pela Igreja Católica em processo realizado pela Diocese de Bauru (SP) em 2013. Na ocasião, o padre fez declarações sobre temas considerados polêmicos pela instituição como união entre pessoas do mesmo sexo, divórcio e a necessidade de mudanças na estrutura da Igreja Católica.

Padre Beto Daniel foi excomungado pela Igreja Católica em 2013
Créditos: Arquivo pessoal
Padre Beto Daniel foi excomungado pela Igreja Católica em 2013

Desde sua ordenação em 1998, sua maior preocupação sempre foi justamente a temática que o fez ser expulso da doutrina:  o diálogo entre sexualidade e religião. “Sou feminista, a favor de uma sociedade igualitária e dos Direitos Humanos, mas a questão de sexualidade e religião é minha maior causa, até porque isso virou uma questão ideológica dentro das religiões que, através de interpretações próprias da bíblia, construíram questões sobre a sexualidade que mais levam ao sofrimento do que à felicidade. Acredito, que a partir do momento em que as pessoas sejam bem resolvidas sobre sua sexualidade, muitos outros problemas sociais também são solucionados, pois as pessoas passam a ter uma outra visão de mundo”, afirma.

“Jesus seria mulher, pobre, negra e lésbica nos dias de hoje”

Nascido em Bauru em 1965, em uma família católica bastante atuante, acabou se engajando na Pastoral da Juventude em um momento em que as pautas do Concílio Vaticano II ainda estavam muito em voga. O Concílio Vaticano II foi uma série de conferências realizadas entre 1962 e 1965 que teve como objetivo modernizar a Igreja e atrair os cristãos afastados da religião com pautas como os rituais da missa, os deveres de cada padre, a liberdade religiosa e diálogo com outras denominações cristãs e religiões não-cristãs.

“Na época em que comecei a me engajar religiosamente, nos anos 70 e 80, a igreja não era como hoje em dia. Se tratava de uma instituição muito mais voltada a questões sociais. Era uma igreja que estava respondendo ao Concílio Vaticano II que tinha causado uma renovação muito grande com ideias muito progressistas. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) era totalmente voltada a questões humanas e sociais, não se falava em questões morais. A igreja pregava uma realidade igualitária onde todos teriam direito a uma vida em abundância. Foi neste ambiente que eu cresci”, conta.

Formado em Direito e História, aos 27 anos ele decidiu se tornar padre após ter contato com a morte em suas relações familiares. Este episódio o fez refletir sobre sua própria existência e, depois de muitos questionamentos, o levou a adentrar ao sacerdócio. “Fiz alguns retiros inacianos e aos poucos fui entendendo que, se eu não podia ter uma ação política clássica para uma transformação da estrutura social, eu podia contribuir através da igreja para uma transformação da mentalidade através de atendimentos individuais e coletivos – com as missas”, explicou.

Após anos estudando teologia na Alemanha, na Universidade Estadual da Baviera Ludwig-Maximilian, em Munique, ele voltou em 2001 com a intenção de contribuir para a modernização do catolicismo com um discurso contra o tradicionalismo. Questionador e muito diferente dos religiosos tradicionais, se deparou com uma igreja já bastante conservadora, o que lhe causou muitos problemas até culminar com o episódio de sua excomunhão em 2013 sem direito a defesa.

Sete anos após a pena eclesiástica que o afastou de sua atuação dentro da igreja católica, ele ainda é requisitado e conhecido como Padre Beto e não abriu mão de sua vocação de sacerdote. Para isso, fundou uma nova igreja sem doutrinas, a Humanidade Livre, onde realiza missas e também celebra casamentos – incluindo de pessoas do mesmo sexo. Agora, embora ainda sofra pressão da Igreja Católica e receba críticas de quem não o considera um religioso, mas um herege, ele segue em sua missão de acolher a quem precisa, especialmente elucidando e tranquilizando sobre questões morais que afligem tantas pessoas ligadas à igreja.

“Se rebeldia é pensar, ser crítico, raciocinar e enxergar a realidade, então sou rebelde. Mas na verdade não me vejo desta forma, mas como um padre lúcido que deseja que as pessoas sejam felizes. O que aconteceu comigo foi uma certa desobediência civil. Não obedeci cegamente o meu bispo quando ele me mandou pedir perdão, mas por que, para mim, pedir perdão por ter defendido os homossexuais, seria muito errado”, finaliza.