Largo do Boticário: lembranças e mistério no Cosme Velho
Um passeio do "O Que Fazer no Rio" pelos cantos da Cidade Maravilhosa!
O Largo do Boticário, no Cosme Velho, é uma vila com alguns casarões, situada no final de um beco, pouco depois da entrada do Cristo Redentor.
O lugar já teve sua fase glamourosa outrora quando tinha como moradores nomes importantes da sociedade brasileira. Hoje, porém, dá seus últimos suspiros de “sobrevivência”, embora para muitos – inclusive eu mesma – seja esse o charme do local. Admirar o casarão central em ruínas e a piscina, que jaz solitária no jardim, traz um misto de sensações sobre algo que foi tão estonteante em outra época.
O que pouca gente sabe é que nesse ambiente tão peculiar e envolto desse charme melancólico mora uma mulher chamada Rosineide. Imaginem meu susto ao ouvir alguém me chamar enquanto tirava umas fotos. “Entra aí, vem cá!”, olhei pra Suzanne e foi quase um susto simultâneo. É que a gente morre de medo de fantasma e definitivamente não estávamos preparadas para atravessar a luz naquele dia.
Boquiabertas, aceitamos o convite da moça e fomos adentrando o espaço que fora residência de famoso boticário Joaquim Luis da Silva Souto. Rosineide questionou se éramos estudantes de arquitetura, já que muitos deles passam por ali diariamente. Ao entrar, novo susto. Não havia mais do que um colchão mofado, uma geladeira velha, umas latas de café e roupas rotas estendidas. Na parte dos fundos nos deparamos com a mata exuberante que avança cada vez mais de encontro aos escombros que virou o belo casarão. É de arrepiar o tamanho da floresta! Na pequena escada na relva, fragmentos de azulejos de 1831 resistiam bravamente ao tempo.
A nossa personagem misteriosa Rose nos confidenciou que era da família da antiga governanta e agora mora ali com o irmão, um menino que não tinha nem 20 anos de idade, e sobrevivendo de doações das pessoas que passavam por lá. Qualquer que seja a real história, a verdade é que as condições de vida deles são muito precárias. Achei a história meio mal contada e, ao procurar na internet sobre o lugar, nada consta sobre Rose e sua família, apenas sobre o projeto de revitalização que há dois anos não sai do papel, o que me levou a pensar que ela ocupou a casa.
De qualquer forma, a história me comoveu, o casarão me comoveu e a natureza imponente do lugar me comoveu. O Rio nos traz tantas histórias surpreendentes que até mesmo um lugar em franca decadência, que de longe seria apenas pra fazer uma boa foto, consegue tocar fundo na alma.
Hoje o Largo do Boticário abriga alguns eventos no ano, é muito procurado para sessões fotográficas e aguarda investidores que estejam dispostos a fazerem as restaurações e manutenções necessárias.
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