MASP é primeiro museu brasileiro a ter uma curadora indígena
Em seus trabalhos, a antropóloga Sandra Benites tem a missão de dar visibilidade principalmente às mulheres das aldeias
O MASP – Museu de Arte de São Paulo está fazendo história. Depois de um ano dedicado às histórias afro-atlânticas e outro focado nas artistas mulheres, o museu se tornou o primeiro do Brasil e ter uma curadora indígena.
A antropóloga, arte-educadora e artesã Sandra Benites, da etnia Guarani Nhandeva, foi anunciada como curadora adjunta de arte brasileira do MASP. Doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atualmente sua pesquisa explora a forma como os guaranis enxergam o corpo feminino.
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Embora seu trabalho no MASP já tenha começado, é em 2021 que sua atuação ganha mais destaque. Isto porque será o ano em que toda a programação do museu está voltada às histórias indígenas ao redor do mundo.
De acordo com dados do IBGE, no Brasil existem cerca de 900 mil indígenas divididos em 305 etnias e que falam 274 línguas – além dos que vivem nos espaços urbanos. Por isso, Sandra considera que um dos seus grandes desafios será criar projetos que contemplem a realidade de todos esses povos.
Nascida na aldeia Porto Lindo, no Mato Grosso do Sul, a antropóloga pretende sugerir projetos relacionados às tradições aprendidas com seus familiares. Isso significa uma forte presença de canto e dança no MASP, principalmente porque são atividades utilizadas pelos indígenas como instrumentos de transformação independente do momento sociopolítico.
Visite o MASP sem sair de casa e aproveite uma super programação!
Sua entrada no mundo das artes aconteceu em 2017, quando foi convidada para ser uma das curadoras da exposição “Dja Guata Porâ: Rio de Janeiro Indígena”, no Museu de Arte do Rio de Janeiro. Este ano, além de integrar a equipe do MASP, ela é uma das responsáveis por “Sawé”, uma mostra no Sesc Ipiranga prevista para abrir ainda neste semestre sobre lideranças políticas indígenas, que também destaca o papel das mulheres na luta pela defesa dos territórios.
Sandra é uma guerreira. Aprendeu português na escola, em uma época em que as escolas ainda não eram bilíngues, só ensinavam a “língua dos brancos”. Depois, aos 16 anos, casou e teve que abandonar temporariamente seus estudos, quando mudou-se com o marido para o Espírito Santo.
Quando conseguiu concluir o ensino fundamental, aproveitou para fazer um magistério direcionado para professores guaranis. Assim, entre 2004 e 2012, foi coordenadora pedagógica na Secretaria de Educação em Maricá, no Rio de Janeiro, auxiliando escolas indígenas, e deu aula para séries iniciais.
A paixão pelo conhecimento a levou ainda mais longe, para Florianópolis (SC). Em 2015, formou-se em Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica na Universidade Federal de Santa Catarina.
Com suas pesquisas, Sandra espera manter viva a história feminina dos povos indígenas, ouvindo, documentando e disponibilizando para consulta as histórias das mulheres das aldeias.
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