Mônica Salmaso explora lado caipira de Cartola em novo álbum
A malandragem urbana frequenta o imaginário dos sambistas desde os primórdios desse gênero musical, mas muitos esquecem da associação do samba com o universo rural. Xangô da Mangueira, Wilson Moreira, Toniquinho Batuqueiro e Cartola são nomes cujas obras foram fortemente influenciadas pela sonoridade rural e interiorana.
Em seu último lançamento, “Caipira”, Mônica Salmaso imprime suas percepções e ressalta a alma caipira presente em todos nós e, ainda, honra a sonoridade rural presente no samba. “O disco traz o olhar de uma intérprete paulistana sobre esse universo de uma maneira ampla e muito respeitosa. Sou uma pessoa da cidade, mas acima de tudo, uma brasileira com essa vontade de entender quem nós somos”, revela Mônica em entrevista exclusiva ao Samba em Rede.
O novo trabalho acumula 14 faixas produzidas por Teco Cardoso e pela própria Mônica com composições de autores como Paulo César Pinheiro, Sérgio Santos, Roque Ferreira, Gilberto Gil, Rafael Alterio e Cartola. O universo caipira foi a principal inspiração para o trabalho, solo de um Brasil profundo onde se descortinam as verdadeiras origens da música brasileira. Escute o álbum completo aqui.
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Bem cercada por instrumentistas da estatura de Nailor Proveta no clarinete e sax tenor, Toninho Ferragutti no acordeon, Robertinho Silva na percussão, André Mehmari no piano e Neymar Dias na viola caipira, baixo acústico e arranjos, Mônica apresenta um repertório selecionado a partir de pesquisa de repertório sertanejo para a composição do roteiro do show “Casa de caboclo”, apresentado pela artista em 2003 em série de espetáculos temáticos promovidos pelo Sesc de São Paulo.
Entre os destaques do disco estão “Caipira”, parceria de Breno Ruiz com o veterano Paulo César Pinheiro, que intitula e abre o 11º álbum da cantora; “Saracura Três Potes”, parceria de Candido Canela com Téo Azevedo e interpretada junto com Rolando Boldrin; “Água da Minha Sede”, de Dudu Nobre e Roque Ferreira – gravada também por Zeca Pagodinho e Roberta Sá – e “Bom Dia”, parceria de Gilberto Gil e Nana Caymmi.
Além de exaltar a herança deixada pelo mestre do samba em “Feriado na Roça”, uma composição pouco conhecida de Cartola, Mônica também se propôs valorizar os costumes, tradições e trejeitos que sobrevivem há gerações nas entranhas do país. Em “Alvoradinha”, a cantora rememora tradições orais do grupo Caixeiras do Divino do Maranhão; e em “Leilão”, dos experientes Hekel Tavares e Joracy Camargo, narra um triste episódio do sistema escravista brasileiro.
Com 11 discos na bagagem e mais de 20 anos de carreira, a cantora despontou no cenário musical nos anos 1990 com uma participação no álbum “Eduardo Gudin & Notícias dum Brasil”. Em 1995, com “Afro-sambas”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, Mônica fez sua opção definitiva pela música tornando-se uma das principais intérpretes da cena contemporânea.
Na entrevista, Mônica ainda comenta sobre sua relação com o mercado musical e a necessidade e a urgência que geraram “Caipira”. Ainda, em primeira mão, revela que pretende homenagear nomes como Edu Lobo e Dorival Caymmi em trabalhos futuros, além de realizar parcerias com a Escola Portátil de Música, do Rio de Janeiro.
Ouvindo as histórias contadas pela intérprete, nos damos conta da imensa dívida do país com os seus artistas populares, criadores e herdeiros de tantos hábitos que constituem a nossa cultura. Em “Caipira”, a artista definitivamente traduz todo este legado e dá continuidade a linhagem musical da qual faz parte: a brasileira.
Confira a entrevista completa: