A origem de sambas inéditos e desconhecidos de Ismael Silva
Em “São Ismael do Estácio – O Sambista Que Foi Rei”, de Maria Thereza Mello Soares, a autora conta a origem de alguns sambas inéditos de Ismael Silva. Entre eles, “Aventuras Amorosas”, “Como É Que Eu Posso Acreditar?” e “Surpresa”, sendo que os dois últimos nunca foram gravados.
“Nem mesmo em casa
Eu consigo me livrar
Das aventuras amorosas
Me roubando a paz
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O telefone até parece um azar
E assim mesmo há quem diga que isso tudo é cartaz
É no teatro, no cinema, em qualquer parte,
Até mesmo na igreja
Não é exagero
Por mais que eu queira
Passar desapercebido
Sempre sou surpreendido por um olhar interesseiro
Das aventuras, a pior é com a Otília
Diz que comigo iria até pro infinito
Mesmo enganando-se o chefe de família
Mas como é chato a gente ser bonito”
Certa vez, em um ônibus, Ismael ouviu um senhor responder para uma moça que lhe pedia informações: “Como é chato ser bonito”. Ficou com a frase na cabeça e fez um samba em torno dela.
Como É Que Eu Posso Acreditar?
“Como é que eu posso acreditar
Que tu não és de mais ninguém?
Eu mesmo é que ouvi falar
Entre outras coisas
Que tu beijas muito bem
Te abandonei sem te avisar
Para evitar complicações
Foi bem melhor me separar
Sem barafunda e sem discussão”
Ismael dizia que tinha chegado até a ficar noivo de uma estudante que morava no Estácio. No entanto, alegava que ela o traía e, por isso, terminou o noivado. Esta moça seria Diva Lopes Nascimento, uma passista com quem Ismael teve um romance e uma filha que nunca assumiu.
“Suspresa”
“Quando acabei de cear
Que queria pagar
Tive uma surpresa:
Disse o garçom com a voz gaga
Que já estava paga a minha despesa
Juro que não esperava
Mas lá se encontrava
Alguém conhecido
Por falta de sorte a minha
Era quem já tinha a mim pertencido”
Esta composição foi encontrada nos manuscritos de Ismael Silva. De acordo com Maria Thereza, “quem a mim já tinha pertencido” referia-se a uma mulher – não se sabe se isso é uma fantasia ou vaidade – que pagou a conta para ele. O tema “Surpresa” indicaria a posição machista, de que o homem paga a despesa.