Como é viver a vida viajando

11/02/2015 14:51 / Atualizado em 06/05/2020 18:45

 
 
Resolvi escrever esse post em resposta às dezenas de pessoas que me perguntam sobre como é viver viajando, sem endereço fixo, apenas com o necessário dentro de uma mochila, pegando carona e ainda por cima trabalhando.

No dia primeiro de maio de 2014 eu deixei minha vida rotineira para viver na estrada, de cidade em cidade, em busca da cultura da cerveja artesanal com o projeto Viajante Cervejeiro pelo Brasil.

Eu costumo dizer que a verdadeira coragem está em tomar a decisão do que propriamente ir viajar. Depois que você tomar a decisão terá que arcar com as consequências e geralmente é disso que as pessoas têm medo. Viajar é a parte prática, é viver, é planejar e executar. O difícil mesmo é tomar a bendita decisão que pode mudar sua vida.

No meu caso, a partir do momento em que decidi sair da famosa zona de conforto, largar minha rotina e viajar pelo Brasil procurando e provando cervejas artesanais, eu já imaginava que não seria fácil, apesar de saber que valeria cada esforço e minuto vivido e que toda experiência adquirida seria mais satisfatória do que qualquer percalço no caminho.

Depois da decisão, o primeiro passo foi marcar uma data de partida. A partir do momento em que você estipula uma data, postergar deixa de ser opção e você precisa agir, caso contrário estará boicotando a você mesmo, e o pior, jogando seu sonho na lata de lixo.

Com a data estipulada, o próximo desafio foi trabalhar o desapego. Não o desapego material, esse é o mais fácil, difícil mesmo é desapegar da rotina diária, por mais aborrecida que ela seja. Das comodidades. Daquele seu sofá em frente à televisão em um domingo preguiçoso de chuva. Da sua cama grande e confortável. Difícil é trocar o certo pelo duvidoso e acreditar que o improvável não existe e que você pode tudo.

Esse exercício começou antes mesmo de cair na estrada. Fiz uma lista do que realmente precisaria para viver, e o que sobrou fui vendendo para amigos, na internet e em brechós. É impressionante como nessa hora percebemos que acumulamos e guardamos mais coisas do que precisamos. Depois de um longo trabalho de desapego, minha mochila ficou assim:

– 7 camisetas
– 7 cuecas
– 4 bermudas
– 3 pares de meias
– 1 calça
– 1 par de chinelos
– 1 par de tênis
– 1 touca
– 2 blusas
– 1 necessaire com produtos de higiene pessoal
– 1 máquina fotográfica
– 1 notebook
– 1 celular
– 1 barraca
– 1 saco de dormir
– 1 livro
– 1 caderno de anotações

Com alguns meses de viagem me desfiz de uma blusa de frio, da touca, da barraca e do saco de dormir. O livro quando termino de ler doo para alguém e geralmente ganhou outro em troca. As roupas vou lavando toda semana e se ganho uma camiseta, pego aquela mais usada e passo pra frente. A ideia é ter roupa para uma semana. Não gosto de carregar muito peso, e às vezes é preciso andar muito com a mochila nas costas, então quanto mais leve, melhor.

Mochila pronta, data definida, é hora de cair na estrada. Minha viagem tem um objetivo percorrer o Brasil visitando bares em cidades onde a cena da cerveja artesanal já é uma realidade, e divulgar esses bares para que todos possam encontrar boas cervejas para beber. Essa é a essência do meu trabalho. Ok, mas como conseguir dinheiro para fazer isso?

Antes de pensar em como conseguir dinheiro, pensei em como minimizar custos durante a viagem.

 
 

1) HOSPEDAGEM: Durante essa viagem eu nunca pago hotel,  pousada ou hostel. Vou me hospedando na casa de amigos, pessoas que vou conhecendo no caminho e normalmente na casa de desconhecidos. Como? Usando o Couchsurfing, pedindo pouso para amigos e para amigos de amigos, além de colocar na página do meu projeto o local para onde estou indo. Lá mesmo, muitos que me acompanham, acabam me oferecendo hospedagem. Eu deixo sempre muito claro que estou procurando um lugar para dormir e não tenho receios de pedir.

2) TRANSPORTE: Alugar um carro para viajar o país inteiro sairia muito caro, de avião também, ir de ônibus seria um pouco mais barato, mas ainda assim inviável para o meu budget inicial. Foi então que decidi deixar a viagem ainda mais emocionante. Viajar de carona! Pesquisei na internet por pessoas que já viajavam assim, escrevi pra essa galera, fui conhecendo, tirando dúvidas e criando coragem. Informação é tudo e fazendo isso expulsei vários fantasmas da minha cabeça e percebi que era muito mais simples e divertido do que eu imaginava. Fato comprovado, hoje estou viciado em viajar de carona. Com o tempo você vai aprendendo onde se posicionar, como pedir, como abordar, e vai percebendo que essa é uma parte muito importante da viagem porque conhece todo tipo de gente, nas mais diversas situações. Mas não é perigoso? Meu amigo, ir na padaria perto da sua casa pode ser perigoso. Eu mesmo não conheço nenhuma história de gente que sofreu algo ruim por dar carona a alguém, mas conheço um punhado de gente que foi assaltado dentro da cidade onde vive. Risco existe, claro. Viver é arriscado, mas não são esses medos irracionais que vão me manter dentro de casa.

3) CONTAS: Água, luz, aluguel, condomínio, IPTU, seguro do carro, IPVA, e todas as contas mensais que não temos como fugir poderiam ser um problema. Então o que eu fiz? Vendi meu carro e saí da casa onde eu morava de aluguel. Me tornei um “sem teto”. Assim baixei meu custo mensal a praticamente uma conta de celular, custos do blog e alimentação. A sensação de não ter uma casa fixa é fantástica. Me sinto em casa em cada lugar por onde passo. Geralmente chego na casa de quem vai me hospedar e as pessoas me perguntam, “Mas onde você mora?”. E eu de pronto, respondo, “Hoje eu moro aqui!”, e abro um sorriso. Com isso já quebro o gelo e mostro que estou à vontade.

Custos minimizados. Agora eu preciso pensar em como fazer dinheiro para continuar a viagem até alcançar meu objetivo. Depois de pensar e pensar e pensar percebi que poderia promover eventos de degustação de cervejas artesanais nos bares por onde eu passaria. E com o tempo, conforme o site e o projeto vão ficando mais conhecidos, vou criando outras fontes de renda como apoio de empresas interessadas em aliar sua marca a um projeto inédito no Brasil e até conto também com a contribuição das pessoas que me acompanham e querem que eu continue trazendo dicas de bares cervejeiros.

E assim tenho feito. Montei uma apresentação, estudei, treinei em frente ao espelho e fui controlando o tempo até me sentir apto para passar esse conteúdo da maneira mais informal e divertida para as pessoas. Como eu disse logo no início, não é fácil, tem meses que não consigo agendar eventos e então preciso me virar com o que tenho. Mas como dizem por aí, é só relaxar, continuar trabalhando, que no final tudo dá certo.

Eu não tenho rotina. Uma terça feira e um domingo para mim são basicamente dias iguais, por isso prefiro pensar que minha vida é um fim de semana eterno. Como não estou na minha casa, sempre procuro acordar cedo (mas não muiiiito cedo). Gosto de socializar, as pessoas querem ouvir minhas histórias, então não dá pra eu acordar, tomar um café e falar:“Olha, vou sentar ali e trabalhar. Me chamem assim que o almoço estiver pronto!”. Não é assim. Estou na casa delas e compartilhar histórias é o que eu mais gosto de fazer. Me preocupo primeiro com as pessoas e depois encontro tempo para trabalhar, nem se for preciso dormir poucas horas e trabalhar de madrugada (geralmente é o que eu faço). São as pessoas que fazem a viagem acontecer.

Nesse tempo em que consigo estar em frente ao computador, faço várias coisas. Organizo o roteiro dos lugares por onde vou passar, respondo emails, defino os bares a visitar, entro em contato com eles apresentando meu projeto e oferecendo os eventos de degustação, procuro hospedagem nas próximas cidades, verifico no google maps os melhores lugares para pegar a próxima carona, rabisco novas ideias para o projeto, edito as fotos dos bares que visitei, escrevo e publico os posts e tento me atualizar sobre o mundo.

Nas minhas visitas aos bares procuro sempre o responsável pela casa para que me conte a história do lugar e assim conseguir traduzir para meus leitores essa experiência. Quando é possível (e geralmente é) tomo uma(s) cerveja(s) e assim consigo vivenciar melhor todo o ambiente. A grande maioria dos lugares acaba me oferecendo essas cervejas como uma forma de ajuda para o projeto ou até mesmo como uma troca pelo trabalho de divulgação. Mas isso vai de cada lugar. Eu não cobro por esse trabalho, mas também não dispenso contribuições.

Com o tempo eu montei duas formas de apoio para a continuidade do projeto Viajante Cervejeiro pelo Brasil. A primeira delas é voltada para empresas. Se tiver interesse em saber como apoiar, clique aqui. A segunda é para os seguidores e leitores do Viajante Cervejeiro através de um sistema de compra de cotas bem divertido. Quer comprar uma das cotas? Clique aqui e saiba como.

E assim vou seguindo viagem, fazendo novos amigos, vivendo experiências únicas a cada dia, conhecendo lugares incríveis e sempre aprendendo a cada minuto da vida. Tem uma frase do José Saramago que gosto muito onde ele diz, “Não tenhas pressa, mas não percas tempo”.

E assim eu continuo a viagem. Sempre rumo ao próximo bar!!! Acompanhe essa viagem cervejeira pelo Facebook e Instagram.

À nossa saúde!