Professor de 91 anos traduz ‘Dom Quixote’ para o quíchua
A obra-prima do espanhol Miguel de Cervantes ganhou mais uma tradução, a 70ª. Graças a Demetrio Túpac Yupanqui, 91 anos, agora também é possível ler “Dom Quixote” em quíchua ou quéchua, língua dos incas e, ainda hoje, falada por mais de 10 milhões de pessoas na Argentina, na Bolívia, no Chile, na Colômbia, no Equador e no Peru.
Demetrio é descendente de inca, jornalista e professor de quíchua e programou a entrega de suas versões: a primeira parte foi publicada em 2005, quando se completaram os 400 anos da publicação do primeiro volume por Cervantes. Agora, para comemorar os 400 anos do segundo, foi a vez de entregar os capítulos finais do livro na língua indígena.
O professor levou dois anos para fazer a versão de cada um dos volumes e disse à “Agência Efe” que não foi uma missão simples: “Cervantes usou algumas palavras em espanhol que são difíceis de traduzir para o quíchua”.
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E o que o motivou a fazer o trabalho? “Levar ao mundo quíchua o monumento linguístico do castelhano. Disponibilizar no idioma de origem americana mais falado no mundo, que é o quíchua, a genial criação do idioma espanhol. A função do tradutor é levar para outro idioma a obra que lhe pedem para traduzir”, afirmou Demetrio à revista on-line de tradução “Tusaaji”.
A primeira vez que Demetrio leu “Dom Quixote” foi aos 15 anos, no ensino médio. Releu a obra depois, na faculdade. À “Tusaaji” ele afirmou que suas impressões sobre o livro, que antes se voltavam mais à beleza literária do texto, mudaram. “Depois de traduzi-lo, considero dom Miguel de Cervantes um filósofo, historiador e excepcional conhecedor de sua época. Dom Quixote, para mim, constitui a inquietude espiritual de alcançar a perfeição da natureza humana. Sancho Pança representa as necessidades materiais que temos e enfrentamos para sustentar as aspirações espirituais.”
Após a tradução do primeiro volume da obra, ele recebeu o título de “Apuc Capac Amauta”, ou grande professor e mestre, em quíchua, pela associação Conselho dos Quatro Incas, que reúne descendentes reais daquele povo em Cusco, a antiga capital do Império Inca.
Para quem ficou curioso, eis como ficou a primeira frase do livro (“Em uma aldeia de La Mancha, cujo nome não me lembro…”), que se tornou célebre: “Huh Kiti, La Mancha llahta sutiyuhpin, mana yuyarina markapi…”