Pesquisadores mineiros fazem casa com lama de rejeitos

Projeto de moradia que utiliza resíduos da mineração como materiais de construção civil foi desenvolvido por professores da UFMG

Danos. Perdas. Pessoas sem lar. Esses conceitos tão negativos são os mais associados aos resíduos da mineração de ferro. Sobretudo por conta das tragédias ocorridas em Mariana e Brumadinho. Mas existe uma forma positiva de enxergar esse material. E ela também está localizada em Minas Gerais. Trata-se de uma casa com lama de rejeitos.

A obra foi realizada por pesquisadores da Escola de Engenharia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). São eles que possuem a tecnologia de transformação de rejeitos e estéreis da mineração – não só a de ferro, mas também as de bauxita, fosfato e calcário – em matéria-prima para a construção civil.

Estéreis são minérios ou rochas inevitavelmente extraídos no processo, mas que não têm utilidade ou valor comercial.

O termo rejeito, por sua vez, se aplica ao material resultante das atividades extrativas da mineração, que envolvem o beneficiamento do minério. Argilas, metais pesados e reagentes químicos fazem parte dos rejeitos.

Finalidade útil

Pois foi no Laboratório de Geotecnologias e Geomateriais do Centro de Produção Sustentável da UFMG, em Pedro Leopoldo (MG), que os pesquisadores conseguiram dar um fim útil a essas substâncias.

A casa com lama de rejeitos foi desenvolvida por pesquisadores da UFMG
Créditos: Reprodução/Arquivo de pesquisa da UFMG
A casa com lama de rejeitos foi desenvolvida por pesquisadores da UFMG

O segredo dessa fórmula está em uma tecnologia chamada de calcinação ultrarrápida. É essa reação química de decomposição térmica a altas temperaturas que transforma estéreis e rejeitos em ligantes de alta resistência, como o ecocimento, e também em areia e pigmentos para a produção de tintas.

De acordo com o professor Evandro Moraes da Gama, do Departamento de Engenharia de Minas da UFMG, as características dos solos do Hemisfério Sul favorecem essa transformação.

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Gama foi um dos construtores da casa com lama de rejeitos e estéreis que foi erguida no laboratório de Pedro Leopoldo.

O professor afirma que seu custo é 30% menor na comparação com uma similar feita de materiais e com a metodologia de construção convencionais.

“E não há resíduos de metais pesados em sua composição”, afirma o professor. “O ferro, por sinal, não se caracteriza como tal.”

A lama proveniente da mineração também pode ser usada para pavimentar vias. E pode ser armazenada em pelotas, sem o uso de água, com 100% de segurança e eliminando a estocagem em barragens.

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Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, presidente da GranBio e especialista em soluções sustentáveis.

Em parceria com qsocial