Roça de Rua ergue canteiros com poemas em meio à aridez da cidade
Há vida em terras aparentemente inférteis. Tudo depende da predisposição do olhar – predisposição, e não preconceito. Muitos olham para ruínas apenas como se fossem um incômodo na paisagem. Outros, porém, não só enxergam como também plantam poesia em meio à destruição, construindo algo positivo a partir dela. Um exemplo é o coletivo Roça de Rua, que ergue canteiros com poemas em espaços áridos de São Paulo.
O Roça de Rua nasceu de uma iniciativa anterior de um coletivo maior de intervenções urbanas, o Transverso – que ainda está ligado ao “filho” a que deu origem.
Antes, entre 2014 e 2016, o projeto que unia plantação e poesia se chamava Casa Rodante e se incumbia de realizar uma série de atividades na região da Cracolândia, no centro da capital paulista.
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“Fazíamos às segundas o plantio de mudas nas calçadas”, descreve Cauê Maia, de 33 anos, um dos organizadores. Os canteiros, então, eram decorados com poemas nas estruturas que os delimitavam.
“Às sextas, eram promovidas interações com a população local por meio da produção de grafites, pôsteres lambe-lambe e estêncis”, diz. Também eram exibidos filmes para os moradores, usando uma lona adaptada na caçamba de uma caminhonete como tela.
Com o fim do Casa Rodante, em 2016, Cauê e mais três integrantes do Transverso resolveram dar continuidade à proposta e criaram o Roça de Rua.
As intervenções do grupo não ocorrem mais na Cracolândia. “Focamos agora o plantio de rua pela cidade toda, o que chamamos de jardinagem de guerrilha”, afirma Cauê Maia.
Os locais escolhidos para as plantações podem ser calçadas, praças, parques – ou “qualquer metro quadrado disponível de terra”, diz.
As mudas são cultivadas em um viveiro de cerca de 40 m² na sede do coletivo, na Vila Ipojuca, bairro do distrito da Lapa, zona oeste de São Paulo. A maioria das intervenções tem se dado nessa região, pela proximidade geográfica, mas já houve plantios no Butantã, também na zona oeste.
Para acomodar as espécies que não são colocadas diretamente no solo, são improvisados vasos a partir de caixas-d’água, televisores velhos e até manequins quebrados – objetos que em geral são doados para o coletivo ou encontrados em caçambas.
A prefeitura e parques como o Luís Carlos Prestes eventualmente ajudam cedendo terra de compostagem.
Os contêineres são enfeitados com poemas escritos pelos membros do Transverso, do Roça de Rua e de outro coletivo parceiro, o Paulestinos. O cultivo dos canteiros também inclui manifestações artísticas pontuais, como acontecia na Cracolândia.
E não são apenas plantas ornamentais as que são espalhadas pela cidade por esses ativistas: comestíveis como milho e feijão fazem parte da seara.
Afinal, alimento é vida. Palavra é vida. Poesia é vida. E a fertilidade, muitas vezes, está no olhar; e essa visão positiva – e produtiva – é abundante no coletivo Roça de Rua.
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Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, especialista em soluções sustentáveis.