Diversidade pode gerar valor para uma empresa?
De acordo com Ana Kelly Melo, da XP Investimentos,“quando uma pessoa é inteiramente aceita, respeitada e parte daquele ambiente, ela performa muito melhor"
O mercado de trabalho tem se transformado de uma forma muito mais dinâmica nos dias de hoje e falar em diversidade no meio empresarial se torna urgente e necessário.
Afinal, em um mundo cada vez mais aberto ao diálogo, a ruptura de antigos paradigmas é apenas uma questão de tempo. E não somente por uma necessidade comportamental, mas também porque gera valor para as corporações.
Dados divulgados pelo relatório Diversidade Importa, da consultoria McKinsey, mostra que empresas comprometidas a reverter disparidades de gênero e raça, ou que adotam políticas inclusivas em seus quadros de colaboradores, tendem a obter lucros até 35% acima do esperado.
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Para Ana Kelly Melo, Head de Diversidade da XP Investimentos, o conceito de diversidade corporativa é fator indispensável para a ascensão dos negócios de qualquer empresa. “Temos estudos que falam sobre como times diversos performam muito mais – e é o que toda empresa quer. Sem essa pluralidade de vozes, perdemos a chance de criar coisas novas.”
Somos todos CEO’s
Se até o início da última década, o estereótipo do homem branco e hétero, dominava o imaginário corporativo, hoje, a valorização às diferenças se tornou regra nos corredores das grandes empresas mundo afora. “Quando uma pessoa é inteiramente aceita, respeitada e parte daquele ambiente, ela performa muito melhor, se engaja muito mais”, explica a head de diversidade da XP. “O respeito às diferenças faz com que o indivíduo contribua para o coletivo.”
Não por acaso, o colaborativismo se tornou um dos pilares dentro da rotina da XP Investimentos, bem como o conceito de horizontalidade. Onde todos podem ser protagonistas. “Todos têm acesso a todos, todos podem falar com todos. O Guilherme (Benchimol, CEO da XP Inc.) repete muito uma frase que é ‘aqui temos 3.500 CEO’ s’. Então todo mundo é CEO da empresa, aquela coisa de hierarquia corporativa vertical não faz sentido para a XP.”
Ana, no entanto, adverte que o caminho para se pensar em diversidade envolve ao menos quatro pautas indispensáveis para o debate: equidade racial, de gênero, pessoas com deficiência e LGBTQI+. “Mas passa por muito mais que isso, né? No fundo é sobre as pessoas serem quem elas são. Sotaques variados, opiniões diferentes. Pra gente promover um ambiente de inovação, precisa acolher a diversidade.”
Virando a chave
A ausência de diversidade, inclusive, foi o que, há alguns anos, motivou um momento de autocrítica na empresa e abriu caminho para a renovação do quadro de colaboradores. Além disso, Ana também destaca que a transformação digital foi um grande marco para os primeiros passos da mudança em curso. “Um dia olhamos nossa foto e percebemos que não estava legal. Não refletíamos a diversidade do nosso país.”
Ana, que hoje atua em uma posição estratégica entre os colaboradores, recorda que, há alguns anos, quando a empresa disputava os melhores profissionais no mercado, a ausência de um posicionamento e iniciativas de diversidade tinha um grande peso na decisão dessas pessoas pela XP. “Isso acendeu um alerta e começamos a despertar para isso.”
“Fizemos aquele famoso teste do pescoço, de olhar para um lado, para o outro, e ver só pessoas iguais a você. Então, a gente refletiu sobre todos esses conceitos na hora da contratação: faculdade top de linha, geolocalização dos candidatos. Será que é essa XP que queremos olhar no futuro?”
A partir disso, a companhia passou a viver o que pode ser considerado uma verdadeira revolução interna. Com apoio dos Early Adopters, a companhia mergulhou de cabeça no desafio de ressignificar sua (re)existência, criando coletivos de debates para mulheres, LGBTQI+, negros e pessoas com deficiência.
“Com a institucionalização da diretoria ESG, a diversidade ganhou força. O ano de 2020, externamente, cobrou bastante esse posicionamento. As empresas tiveram esse papel importante na sociedade, e a gente assumiu o tema como uma grande prioridade. Sabemos, contudo, que temos muitos desafios pela frente. Não queremos olhar só para a foto, queremos ver também o filme. Não é uma corrida de 100 metros, estamos numa jornada de longo prazo e que exige da gente todos os dias, sem exceção.“
Hoje, a XP reúne quatro núcleos internos que discutem os impactos da diversidade na companhia e como isso pode render positivamente: MLHR3, Incluir, BLACKS e o Seja, espaços onde os colaboradores criam um ambiente seguro para movimentar o negócio. “Trata-se de um esforço coletivo para levar à diretoria quais são as metas que devemos alcançar, as casinhas que queremos andar, pra mexer nessa foto que um dia nos incomodou.”
Legado de 2020
Em um mundo pautado pelas consequências da pandemia, Ana lembra que 2020 será lembrado como o ano em que as pessoas passaram a olhar para si mesmas. E que isso, de alguma forma, contribui para a construção de uma sociedade mais empática.
“Não tivemos muita alternativa que não fosse olhar para o espelho. A gente se deparou com os nossos próprios preconceitos e sombras. Percebemos várias coisas que não podemos tolerar mais. Atitudes discriminatórias ou preconceituosas são algumas dessas coisas. E para as empresas, como a informação hoje circula muito rápido, não podemos mais ficar esperando.“
Ela lembra, por exemplo, da onda protestos que ganhou voz em todo o mundo após a morte de George Floyd: “Mesmo que seja uma pessoa que não vá a protestos, menos ativista possível, ainda assim, vai deixar de consumir empresas que não se posicionam ativamente em causas como, por exemplo, o Black Lives Matter. “
Para a head de diversidade da XP Investimentos, marcas e companhias que não responderem ao que a sociedade está pedindo, perderão espaço. “Quem não quiser cruzar essa fronteira da diversidade, vai ter dificuldade para prosperar, porque as pessoas vão parar de consumir seus produtos.”