Encenada por crianças e adultos, ‘Nego Fugido’ narra a abolição
O “Nego Fugido” acontece todos os domingos de julho na comunidade de Acupe, um subdistrito do município de Santo Amaro da Purificação no Recôncavo Baiano. O Acupe se transforma em um imenso palco, com uma encenação rica da cultura popular. O projeto Território do Brincar esteve na Bahia para registrar o envolvimento das crianças na manifestação popular
Confira!
Não é fácil explicar o Nego Fugido: brincadeira, teatro, ritual? Mas é fácil sentir a intensidade da energia que pulsa, misturando o som dos atabaques, o barulho da palha de bananeira da saia dos caçadores e a imagem dos rostos pintados de preto com a boca vermelho sangue. As “negas” cantam e dançam, respondendo o coro da cantiga entoada pelo puxador.
A roda começa a ser assustadoramente cercada e logo invadida pelos caçadores que, com olhar ameaçador, rodam as saias e apontam as espingardas. Até que um deles atire. Aí os escravos – crianças e jovens – atiram-se no chão e começam a tremer. Não há lama, pedra ou chão de areia que diminua o ímpeto com que os escravos tremem e rolam no chão. Aos poucos a lama e a anilina da boca vermelha como sangue dos escravos e caçadores vão colorindo os corpos, os trajes e a cidade.
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