Gustavo Gomes, de 11 anos mostra que há esperança quando o assunto é intolerância racial

Por: Mayara Penina
Gustavo Gomes da Silva, de 11 anos.
Gustavo Gomes da Silva, de 11 anos.

Gustavo Gomes Silva dos Santos de 11 anos é aluno da sexta série do CEU Vila Curuçá, extremo leste de São Paulo. Você provavelmente já o conhece das redes sociais. Ele ficou famoso após ter dado em uma entrevista um dos depoimentos mais didáticos e contundentes sobre o racismo ea importância da educação e da história de seus antepassados.

Como reconhecimento de que Gustavo é uma criança que faz a diferença na cidade de São Paulo ele é o homenageado na categoria infantil/Catraquinha do Prêmio Cidadão São Paulo deste ano.

As declarações de Gustavo foram captadas pela reportagem da Rede TVT, durante uma matéria sobre o Projeto Leituraço, realizado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo em 2014.

O depoimento de Gustavo rodou o Brasil e ele foi convidado por muitos lugares para falar sobre racismo na infância. Toda essa clareza adquirida pelo garoto tem muito a ver com o contexto social que o cerca. A escola e a família incentivam a autonomia e o contato com a arte. Gustavo integra o Clubinho Poético, projeto criado pela professora Maria Gorete de Jesus, a “Tia Gorete”. “Todo mundo vinha para a biblioteca usar o computador e só tinha quatro, então era uma briga. Aí, a tia Gorete criou o Clubinho Poético para aprendermos a recitar e escrever poesia.”

Gorete é uma das mais entusiasmadas com a repercussão da história do Gustavo. Fã de carteirinha desde seus primeiros textos, ela sempre acreditou que ele publicaria um livro. E publicou!

A obra“Meu Universo” foi publicado pela editora Essencial em outubro e é motivo de muito orgulho para Gorete. “Eu sempre quis escrever um livro só que eu não achava que ia ser tão cedo. Se um ano atrás alguém falasse pra mim que eu publicaria um livro de poemas, jamais acreditaria”. Os poemas falam sobre assuntos diversos do cotidiano de uma criança desta idade.

A popularidade

Em entrevista ao Catraquinha, o pequeno poeta contou que ficou muito espantado com a repercussão de suas falas na época. “Eu estou um pouco assustado com tudo isso. Gente, eu sou só uma criança, né? Quando me disseram que já tinha milhões de visualizações eu achei que era mentira. Eu nem queria ir para a escola aquele dia, foi minha mãe que obrigou (obrigada, mãe, te amo). De um garoto participante do Clubinho Poético fui parar no estúdio do programa da Fátima Bernardes”, relembra.

São muitos vídeos sobre racismo que circulam na web, porque será que este fez tanto sucesso? “Eu acho que as pessoas não se admiraram simplesmente por eu ter falado de racismo. Eu acho que as pessoas ficaram surpresas quando viram tudo isso sendo dito por alguém de 10 anos. O racismo é um problema sério e se está atingindo até as crianças é sério de verdade. Acredito que isso que impulsionou o vídeo a ter tantas visualizações”,

Quando crescer, Gustavo quer ser psicólogo, ou escritor ou arquiteto. “Quando eu tiver 14 anos, já quero que esteja decidido”.