Bicampeão de surfe promove cidadania e inclusão para crianças no Guarujá

Jojó de Olivença criou o Projeto Ondas após se deparar com crianças catando latinhas na praia

Conteúdo por Lupa do Bem
27/11/2024 08:55

Aline Louzano

Bicampeão de surfe promove cidadania e inclusão para crianças no Guarujá
Bicampeão de surfe promove cidadania e inclusão para crianças no Guarujá - Projeto Ondas

Nascido no interior da Bahia, Jocélio de Jesus, mais conhecido como Jojó de Olivença, se apaixonou pelo surfe na adolescência e rapidamente chamou atenção por seu talento. Superando o preconceito e a falta de recursos, foi campeão brasileiro de surfe em 1988, sendo o primeiro nordestino a vencer a competição, e bicampeão em 1992.

Com a carreira já consolidada, em 1998, Jojó abriu uma escolinha de surfe no Guarujá, litoral de São Paulo. Embora houvesse muita procura pelas aulas, uma cena o chocou e o fez mudar o rumo: crianças em situação de vulnerabilidade social catando latinhas na praia.

“Algumas crianças chegavam na nossa tenda, vasculhavam o lixo e perguntavam quanto custava uma aula de surfe. Naquele momento, me deu um ‘start’ e me fez olhar para o meu passado, quando eu era criança e pedia prancha emprestada para aprender o esporte”.

“Ali eu entendi que era uma ótima oportunidade de devolver à sociedade tudo o que o surfe me proporcionou”. Então, Jojó decidiu dar aulas de surfe gratuitamente para essas crianças. Em 2007, o bicampeão de surfe deu um passo a mais e fundou o Projeto Ondas, que atua nas áreas de esporte, educação e assistência de forma integrada.

Projeto, criado por Jojó de Olivença, trabalha com educação, esporte e ecologia no Guarujá, atendendo cerca de 80 alunos por ano
Projeto, criado por Jojó de Olivença, trabalha com educação, esporte e ecologia no Guarujá, atendendo cerca de 80 alunos por ano - Projeto Ondas

No projeto Onda do Saber, os alunos participam de atividades diversificadas voltadas para melhorar o rendimento escolar. São utilizados recursos audiovisuais e tecnológicos, desenvolvendo atividades de letramento, matemática e mundo digital, sempre relacionando o aprendizado à natureza e à prática esportiva.

As aulas do projeto seguem o calendário escolar. “Quando as crianças chegam ao Ondas, fazemos uma triagem para identificar fragilidades e dificuldades escolares. Alguns alunos chegam aqui sem saber ler ou escrever. Assim, passam a ter um atendimento personalizado com os educadores”.

A ONG também se preocupa em criar conexões com as famílias e as escolas para acompanhar o desempenho escolar e oferecer apoio em caso de dificuldades. Jojó destaca que, além da melhora no desempenho escolar, as mudanças também ocorrem na área comportamental e de saúde. “Eles aprendem a respeitar os limites dos outros, a ajudar nas dificuldades. Adquirem rotinas mais saudáveis, como dormir mais cedo e se alimentar melhor”.

“Nossa metodologia e valores são extraídos do surfe: respeito, amizade, superação, paciência e perseverança. Usamos essas virtudes como metáforas para a vida. Por exemplo, passar pela arrebentação requer paciência, aguardando o momento certo. Na vida, não é diferente. Temos que fazer escolhas que, muitas vezes, exigem paciência. O surfe reflete muito a realidade da vida”, diz Jojó.

Os alunos chegam ao projeto por meio de encaminhamentos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), do Conselho Tutelar e de escolas municipais. As crianças permanecem no projeto por até três anos.

São atendidos cerca de 80 a 100 alunos por ano, com idades entre 07 e 12 anos. As aulas acontecem às segundas, quartas e sextas, das 8h às 11h e das 14h às 17h. “Se o mar estiver agitado, remanejamos as atividades com aulas de skate e natação, além do reforço escolar”.

Hoje, o projeto atende nove comunidades do Guarujá. “Começamos com duas, e agora pessoas de áreas distantes nos procuram”, comemora.

Educação ambiental e fortalecimento do vínculo familiar

Em um esporte que depende da natureza, respeitá-la é fundamental. Por isso, o Projeto Ondas busca formar agentes transformadores, com consciência e respeito pela natureza, por meio das aulas de ecologia. “Em casa, eles se preocupam em separar resíduos para reciclagem. Além disso, participam de atividades práticas, como a confecção de brinquedos com embalagens reaproveitadas. É gratificante ver essa consciência se desenvolvendo nas crianças”.

Os alunos chegam ao projeto por meio de encaminhamentos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), do Conselho Tutelar e de escolas municipais.
Os alunos chegam ao projeto por meio de encaminhamentos do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), do Conselho Tutelar e de escolas municipais. - Projeto Ondas

Já as famílias são atendidas pelo projeto Ondas da Convivência, que busca fortalecer os vínculos entre os alunos, suas famílias e a organização. Palestras bimestrais são organizadas, abordando diversos temas para empoderar essas famílias e ajudá-las a desenvolver suas habilidades.

Jojó afirma que o principal objetivo do Projeto Ondas não é formar campeões de surfe, mas “campeões da vida, cidadãos melhores para o mundo. Esse é o nosso maior desafio”, conclui.

Quer apoiar a causa?

O Projeto Ondas aceita voluntários, tanto pontuais quanto fixos, e também recebe doações de pessoas físicas e empresas. Entre em contato com a ONG pelo site, Facebook ou Instagram e saiba como ajudar.

 

Aline Louzano – Lupa do Bem

Causadora de Educação