Eu Amo Minha Quebrada, fundado por Júlio Fessô, promove inclusão social no Morro do Papagaio

Depois de idas e vindas do sistema prisional, Fessô tornou-se uma liderança local influente, alterando a dinâmica social comunitária

Conteúdo por Lupa do Bem
25/11/2024 11:59

Maíra Carvalho

Depois de idas e vindas do sistema prisional, Fessô tornou-se uma liderança local influente, alterando a dinâmica social comunitária
Depois de idas e vindas do sistema prisional, Fessô tornou-se uma liderança local influente, alterando a dinâmica social comunitária - Eu Amo Minha Quebrada

Júlio Fessô é uma referência no Morro do Papagaio, uma das favelas mais antigas de Belo Horizonte (MG), cercada por bairros ricos na zona sul da cidade. Ali ele nasceu e se criou. Dependente químico, também passou pela prisão e após cumprir sua condenação, tornou-se um líder social local. Foi essa trajetória de vida que o levou a criar o Projeto “Eu Amo Minha Quebrada”, em 2013. 

Segundo Fessô, “problemas existem em todo lugar, mas os da favela dão muito ibope”. O projeto surgiu para quebrar esse paradigma. A primeira ação foi oferecer uma oficina de fotografia na comunidade. O objetivo era estimular crianças e adolescentes a registrarem lugares legais da favela e depois divulgar nas redes sociais. 

“Muitos telejornais contribuem com a visão negativa da favela, alguns colocam até trilha sonora de suspense, recortam a matéria várias vezes para prender o público e é muito triste”, diz. Com o tempo, sua ideia foi crescendo e se diversificou para outras áreas: empreendedorismo, esporte, cultura, lazer, assistência social e saúde.

As novas ações geraram visibilidade da mídia, fazendo com que alcançasse seu grande objetivo: “queria mostrar a favela como ela é e com isso, mudar a realidade da comunidade. E nós acabamos virando referência na mídia nacional e internacional”, recorda-se. 

Palestrante motivacional

Fessô foi e voltou do presídio algumas vezes durante o período de quase nove anos. Na última vez em que esteve preso, saiu de lá com um propósito: transformar a comunidade. Ele começou participando como educador social em programas governamentais e como palestrante motivacional no Tio Flávio Cultural, uma rede que agrega cerca de 70 instituições parceiras com uma equipe de mais de mil pessoas voluntárias.

Fessô foi e voltou do presídio algumas vezes durante o período de quase nove anos. Na última vez em que esteve preso, saiu de lá com um propósito: transformar a comunidade.
Fessô foi e voltou do presídio algumas vezes durante o período de quase nove anos. Na última vez em que esteve preso, saiu de lá com um propósito: transformar a comunidade. - Eu Amo Minha Quebrada

“Comecei dando palestras em presídios e espaços educativos, contando minha história e minha trajetória. Então eu gosto de dizer que foi a questão da religião e também o amor pela família que me fez virar a chave”, conta. Ao mesmo tempo, ele ia desenvolvendo seus próprios projetos de impacto social. 

Crianças e adolescentes

Os projetos do Eu Amo Minha Quebrada focam sobretudo nas crianças e adolescentes. “Dizem que as oportunidades estão aí para todos, mas para a criança ou o adolescente da periferia é preciso ultrapassar um buraco para alcançar essas oportunidades. Nossos projetos são como uma ponte entre o sonho e a realidade”, explica Fessô.

Se antes o objetivo inicial era mostrar como a favela é, com o tempo esse propósito se transformou e se multiplicou. Hoje, o Eu Amo Minha Quebrada faz diversas ações como o Projeto Pontapé Inicial, que promove inclusão social através do futebol; há as ações ligadas às datas festivas, como Páscoa, Natal, Dia das Crianças, Dia das Mães, Festa Junina e outros. 

Há ainda a Rua do Livro Morro do Papagaio, um projeto que incentiva a leitura e o Voa, Papagaio!, um cursinho preparatório para as provas do ENEM e ENCCEJA, entre outras, que visa incluir os estudantes em vulnerabilidade social nas universidades. “Eu costumo dizer que aqui nós consertamos o avião com ele no alto”, alerta Júlio. 

Voluntariado

Todos os projetos realizados pelo Eu Amo Minha Quebrada são facilitados através de voluntariado. As redes sociais são os principais meios para saber o que está acontecendo na comunidade, conferir as vagas de voluntários e também para colaborar financeiramente. 

Júlio Fessô é uma referência no Morro do Papagaio, uma das favelas mais antigas de Belo Horizonte.
Júlio Fessô é uma referência no Morro do Papagaio, uma das favelas mais antigas de Belo Horizonte. - Eu Amo Minha Quebrada

“Nós não fazemos nada sozinhos. E é bom que as pessoas de fora da comunidade possam contribuir. Além de trazerem recursos, equipamentos, experiências, etc. elas também retornam para seus locais de origem com tudo que viram aqui dentro. Com isso, elas acabam ajudando a quebrar esse paradigma de que a favela é perigosa. Nós só queremos deixar um futuro digno para as nossas crianças e adolescentes”, conclui Fessô.

Quer apoiar essa causa?

O Eu Amo Minha Quebrada é um projeto de impacto social que funciona através de parcerias e doações. Para apoiar e saber mais sobre o projeto, siga as redes sociais no Twitter, Facebook, Instagram e Linkedin.

 

Maíra Carvalho – Lupa do Bem

Causadora de Educação