Mães relatam diferentes experiências ao voltarem de licença-maternidade
57% das mulheres já foram demitidas após retornar da licença-maternidade
Pesquisa realizada pela Empregos.com, em 2023, revelou que 57% das mulheres entrevistadas já foram demitidas ao voltar da licença-maternidade. Dessa forma, esse ainda é um problema comum e que traz insegurança para o futuro das mulheres.
Paula Moreira, 37, foi uma das pessoas que passou por isso. Ela era Head na área de RH e, após ter o segundo filho, foi demitida, porém usou isso para realizar um sonho. “Eu já estava totalmente estruturada ao longo da minha licença, pensei sobre isso, estruturei o que eu precisava e hoje tenho a minha empresa, que é a NINA, uma consultoria focada em projetos relacionados à carreira e desenvolvimento para mulheres”, conta.
“No final, pra mim, foi até uma coisa boa porque se eu voltasse e continuasse com meu emprego, eu ia continuar porque eu tinha uma boa posição, um bom salário, bons benefícios e, provavelmente, não teria dado o passo que eu dei de focar no meu negócio e em algo que era um sonho pra mim”, relata Paula.
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Nem sempre é assim
Apesar das estatísticas não serem favoráveis às mulheres que têm filhos e retornam ao trabalho, muitas empresas têm um olhar diferente. Vanessa Martins, 34, teve uma experiência totalmente diferente ao retornar ao trabalho após o nascimento de sua segunda filha, Helena, de 4 meses.
Vanessa trabalha em uma startup de contabilidade e conta que teve todo o suporte necessário nesse novo momento da sua vida. “A empresa que eu estou se mostrou muito humana. Durante a minha gestação eu recebi uma promoção, um mérito de salário, o que já foi uma surpresa, foi gratificante eles valorizaram e reconheceram o meu trabalho mesmo nesse período que a gente sabe que é mais complicado”, relembra.
“A minha empresa tem a opção de trabalho remoto, híbrido e presencial, então eu trabalho em um formato híbrido e vou duas vezes por semana pro escritório. Durante o meu período de gestação, os meus gestores me autorizaram ficar em casa. Eu trabalhei 100% remoto durante o período da gestação, então foi super tranquilo, eu não tive nenhuma intercorrência e tive 120 dias de licença maternidade”, relata Vane.
Ao retornar ao trabalho ela teve mais uma surpresa, a empresa oferece ainda mais dois meses de trabalho 100% remoto. “Minha insegurança seria voltar e ter que ir pro escritório duas vezes por semana, por mais que seja pouco, ainda não ficaria com o meu bebê. Ainda tem a questão da amamentação”, destaca.
Trabalho mais tranquilo
Vanessa também é mãe do Heitor, de 6 anos, e relata que sua primeira vez no mercado de trabalho como mãe foi mais complicada. “Minha empresa anterior era no formato tradicional, então eu trabalhava 100% presencial. Nessa empresa anterior eu fiquei dois anos e meio também, então o Heitor estava com dois aninhos. Eu tinha que deixar na escola de manhã e pegar a noite. Quando ele ficava doente, tinha que ir até a sala do gestor para me liberar para poder ir e isso não é agradável”, relembra.
“O remoto para mim, para uma mãe, não tenho palavras para falar o quanto é excelente. O quanto eu tenho de produtividade estando em um trabalho remoto. A minha tranquilidade de poder estar aqui, de repente ele está com febre, poder ficar, mesmo que em outro cômodo da casa, cuidando da febre dele, enquanto eu estou aqui trabalhando, é muito maior do que deixar ele em algum lugar ou com outra pessoa”, explica Vanessa.
“Não é a realidade de todas, mas eu gostaria muito que fosse nas empresas que existe a possibilidade. Os gestores que puderem oferecer isso, oferecer porque a produtividade de uma mãe é muito maior quando ela tem a possibilidade de trabalhar híbrido ou remoto”, pontua. “Às vezes as pessoas acabam confundindo também o remoto com estar em casa, quando eu estou no trabalho, eu estou comprometida 100% do tempo. Nas pausas que eu faria em um trabalho presencial, são os momentos que eu uso para olhar minha filha”, acrescenta.
Mudanças ainda são necessárias
Paula destaca que já houve uma evolução em relação às mulheres que são mães no mercado de trabalho, mas ainda há um longo caminho a percorrer. “Eu acho que a gente ainda tá longe de ter um ambiente que, de fato, é acolhedor e eu não sei se isso será possível algum dia”, lamenta.
“Nossa luta é para que a gente tenha o nosso espaço e para que a gente tenha cada vez mais mulheres na liderança. Com lideranças femininas fica muito mais fácil a empresa entender o que é sair de licença, voltar e a necessidade de estruturar a organização de forma que a posição da pessoa esteja esperando por ela”, ressalta Paula.
“Precisamos de políticas públicas porque as empresas sozinhas não vão dar apoio à equidade e à parentalidade. Tem alguns movimentos, inclusive, que pedem uma extensão da licença paternidade. Se os homens começarem a ficar mais tempo afastados, as empresas vão ser obrigadas a pensar em ações para esse retorno. Precisamos de políticas públicas de apoio à parentalidade e maior representatividade de mulheres e mães, principalmente, em posições de tomada de decisão”, finaliza a executiva.