Música que conecta gerações: crianças, adolescentes e idosos no mesmo compasso

Orquestra Locomotiva João Ramalho iniciou as atividades em 2008 e é referência na área cultural em Santo André

Conteúdo por Lupa do Bem
20/12/2024 11:59

Aline Louzano

Música que conecta gerações: crianças, adolescentes e idosos no mesmo compasso
Música que conecta gerações: crianças, adolescentes e idosos no mesmo compasso - Associação Locomotiva João Ramalho

Ao aprender a tocar um instrumento musical, áreas do cérebro responsáveis pelas ações motoras e pela automatização de movimentos são ativadas. Sabendo desses benefícios e motivado pelo desejo de criar um projeto social para crianças, o maestro Rogério Schuindt uniu-se ao irmão Sérgio e fundou a Orquestra Locomotiva João Ramalho, em Santo André.  

A iniciativa teve início com nove alunos no dia 2 de setembro de 2008, no bairro Parque João Ramalho. Atualmente, porém, são atendidas 650 crianças e adolescentes, divididos em três polos, com idades entre 7 e 17 anos, no contraturno escolar, de segunda a sexta-feira, com duração de 2 horas. “Algumas vezes na semana, essa carga horária é um pouco maior, porque eles saem para se apresentar”, explica Matheus Schuindt, gestor de patrocínios.  

Com uma metodologia diferenciada, os estudantes, em aulas coletivas, têm contato com os instrumentos desde o primeiro dia. “Há um professor conduzindo e auxiliares ajudando na postura, como segurar um instrumento. Isso é muito motivador, porque, quando se trata de crianças e adolescentes, algo muito teórico pode levá-los a desistir rapidamente”.  

Orquestra Locomotiva João Ramalho iniciou as atividades em 2008 e é referência na área cultural em Santo André.
Orquestra Locomotiva João Ramalho iniciou as atividades em 2008 e é referência na área cultural em Santo André. - Associação Locomotiva João Ramalho

Outro diferencial é que, a cada 15 dias, os alunos saem para se apresentar em lugares como escolas, teatros, empresas e festivais. “O tripé da nossa metodologia é formado pela intensidade, pela praticidade e pelas apresentações quinzenais”, explica Matheus.  

Os benefícios de participar da orquestra vão além do aprendizado musical. “Tiramos as crianças da ociosidade no contraturno escolar, que é, normalmente, o período em que elas estão mais expostas a influências negativas da sociedade”. 

Outro aspecto positivo é o desenvolvimento das habilidades interpessoais. “O trabalho em equipe torna os alunos mais sociáveis, e isso influencia o ambiente familiar. Aqueles que costumavam se envolver em confusões tornam-se mais dóceis”, relata.  

Pensando na inclusão, também são aceitas pessoas com deficiência física, motora ou intelectual, e adaptações são feitas conforme a necessidade.  

Para participar da orquestra, é necessário estar matriculado na escola, o que já contribui para evitar a evasão escolar. O projeto também acompanha de perto o desempenho escolar dos alunos e observa melhorias significativas.

Os participantes chegam de diversas formas, mas a mais comum é pelo boca a boca. Divulgações no Instagram também são realizadas, e novas turmas são abertas quatro vezes por ano (duas vezes por semestre).  

A participação dos pais e responsáveis ajuda para a continuidade dos adolescentes, pois, devido à alta carga horária, alguns acabam desistindo. Para criar um laço de confiança, os pais têm livre acesso ao local. “Muitos participam na vivência, no sentido de observar e acompanhar as aulas. A partir disso, muitos se tornam voluntários do projeto”. Também há uma equipe de assistentes sociais para atender as famílias.  

Matheus ainda explica que a orquestra não se limita a músicas clássicas. “Somos uma orquestra bem eclética, com um repertório bastante variado”. 

Formando músicos e maestros profissionais 

Formar profissionais para o setor musical é outro pilar da orquestra. Assim, aqueles que começam a se destacar são estimulados a ajudar os outros colegas. “Conforme ele vai se destacando e surge uma vaga, ele pode começar a trabalhar conosco”.  

Ele também passa a fazer parte de um grupo seleto de músicos mais desenvolvidos, tendo aulas de regência, composição e teclado. “Essa educação musical os estimula. Hoje, alguns não estão mais conosco, pois foram para fora do país tocar em orquestras profissionais”.  

Ao aprender a tocar um instrumento musical, áreas do cérebro responsáveis pelas ações motoras e pela automatização de movimentos são ativadas.
Ao aprender a tocar um instrumento musical, áreas do cérebro responsáveis pelas ações motoras e pela automatização de movimentos são ativadas. - Associação Locomotiva João Ramalho

Outra frente do projeto, inaugurado em 2018, é a luteria, uma pequena fábrica especializada em confeccionar e reparar instrumentos musicais utilizando PVC.  

“A luteria tem três objetivos principais: transformar PVC em instrumentos musicais, realizar reparos e formar luthiers. Os alunos que se destacam e têm interesse podem trabalhar lá, aprendendo uma nova profissão”. 

Orquestra com idosos  

Este ano, as atividades se expandiram  com a Orquestra Master, que, na aula inaugural, contou com 32 idosos. “De um lado, você tem as crianças e os adolescentes, o futuro do nosso país, e, do outro lado, os idosos, que são frequentemente esquecidos pela sociedade. Com a música, eles fazem parte de um círculo de amigos, voltam a conversar e aprendem a tocar um instrumento novo. São muitos os benefícios”. 

A ideia nasceu de uma provocação de um dos patrocinadores, que sugeriu: com a estrutura e o conhecimento já disponíveis, por que não trabalhar com idosos? O projeto, então, buscou recursos e conseguiu ser habilitado pelo Fundo do Idoso de Santo André. 

Para esse público, a metodologia é um pouco diferente: as aulas acontecem 3 vezes por semana, com duração de 1h30. Ainda é oferecido o transporte e há um cuidado especial com a preparação física antes das aulas, com a presença de uma fisioterapeuta para exercícios de alongamento. Outros profissionais de saúde também avaliam os participantes periodicamente.

Despertando talentos, transformando realidades 

Matheus foi um dos alunos da orquestra e conta como uma professora, que acreditou no seu potencial, o mudou. “Eu achava que não tinha capacidade, mas um dia consegui fazer algo que antes achava impossível. Ela elogiou meu talento, e isso marcou minha vida. Não me tornei músico, mas aquilo ficou no meu coração”. 

“Aqui, vemos muitas pessoas com talento, mas que, por causa do contexto, não acreditam em si mesmas. O projeto também trabalha para despertar esses talentos e fazê-las sonhar”, finaliza.

Quer apoiar essa causa? 

A Orquestra Locomotiva João Ramalho aceita patrocínios de empresas e doações de pessoas físicas. Também é possível doar através da Nota Fiscal Paulista. Para isso, basta fazer login no site, escolher a opção “doação automática com CPF”, selecionar a instituição e o período da doação. Para mais informações, acesse o site, o Instagram, o Youtube e o Facebook.  

 

Aline Louzano – Lupa do Bem

Causadora de Educação