UniFavela, criado no Complexo da Maré, traz nova perspectiva para a comunidade
Repassando saberes, Laerte Breno e Daniele Oliveira estão transformando as vidas de jovens e adultos da favela Vila do João
Neuza Nascimento
Repassando saberes, Laerte Breno e Daniele Oliveira estão transformando as vidas de jovens e adultos através do projeto UniFavela, na favela Vila do João, localizada no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro.
O caminho dos dois se cruzou quando se encontraram pela primeira vez em um curso pré-vestibular, oferecido pelo Redes da Maré. Anos depois, dentro do UniFavela, ambos compartilham o conhecimento que estão adquirindo na universidade e dão aulas de Língua Portuguesa e História para outros adolescentes da favela.
O UniFavela é um projeto sócio educativo que trabalha a educação como movimento principal, tendo como um de seus lemas “favelizar” espaços de produção de conhecimentos. “Entendemos que é importantíssimo colocar em debate a ideia da produção favelada. Por isso, quando recebemos os alunos, falamos da importância de conhecer o território da Maré como algo importante, não só pela produção cultural mas também pelo engajamento em diversas situações”, Laerte defende.
Mesmo com o objetivo principal de colocar jovens e adultos do Complexo da Maré dentro das universidades públicas ou capacitá-los para o ENEM, o UniFavela também realiza ações fora da sala de aula. Em 2021, no dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho, por exemplo, foram distribuídos 60 livros “Quarto de Despejo”, de Maria Carolina de Jesus, para as mulheres da Maré.
O projeto começou em 2018 a partir de uma iniciativa de Laerte de ajudar uma estudante. “Como eu ingressei na universidade através de um pré-vestibular aqui da Maré, eu sempre quis dar um retorno pra favela onde eu moro. Uso o que adquiro na academia para tirar as dúvidas daqueles que estão trilhando o mesmo caminho que trilhei um dia”, relata.
“Essa estudante estava se preparando na Lona Cultural Herbert Vianna, localizada na Nova Holanda, favela vizinha à Vila do João, quando dei uma passada lá, por acaso. Como eu não tinha nenhum compromisso, dei uma ajuda a ela e pedi que voltasse no dia seguinte naquele mesmo espaço que eu ia chamar uma amiga minha, Daniele, pra dar aula junto comigo. Ela chamou mais cinco colegas. Eu fiquei com a área de linguagem e a Dani, que já havia ingressado na faculdade também, ficou com as aulas de História. Um dia fizemos uma longa aula de História e Língua Portuguesa, voltadas para o ENEM, e o retorno foi sensacional, eles adoraram. A coisa começou a se repetir e os alunos, que haviam nos transformado em educadores, começaram a pedir mais voluntários e eu comecei a procurar. Fui na universidade, acionei meus contatos e o número da equipe foi crescendo”, explica.
A distribuição das vagas se dá através de sorteio separando em porcentagem pela identificação racial. Mais de 50% delas é destinada para pessoas que se autodeclaram pretas, pardas ou indígenas. O restante fica para as pessoas que se autodeclaram brancas ou amarelas.
Quer apoiar essa causa?
Para apoiar, entre em contato: contato@unifavela.com.br.
Neuza Nascimento – Lupa do Bem
Causadora de Educação