Vaga Lume transforma a vida de crianças da Amazônia por meio da leitura
Associação começou com uma biblioteca comunitária em Soure e Alter do Chão, no Pará, em 2001 e hoje está presente em 22 municípios da região amazônica.
Maíra Carvalho
Toda criança adora uma boa história. Quando ela é contada com entusiasmo, então, fica guardada na memória até a vida adulta. As educadoras e fundadoras da Vaga Lume sabem bem disso. Não à toa, vêm implementando bibliotecas comunitárias e formando mediadores de leitura no interior da Amazônia desde 2001. O tamanho desse impacto é imensurável. Ao exercitar o gosto pela leitura em crianças, transforma jovens e adultos em voluntários prontos para conduzir as mediações no futuro.
O projeto, que começou com uma viagem de três amigas recém-formadas saindo de São Paulo rumo ao Pará, hoje está presente em 9 estados, somando 95 bibliotecas distribuídas em 22 municípios da região. Todos os livros são comprados por meio de leis de incentivo, entre outros tipos de financiamento, e doados para as comunidades.
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“Nós atendemos comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, assentamentos e comunidades de estradas, enfim, comunidades rurais com o propósito de empoderar as crianças a partir da promoção da leitura e da gestão das bibliotecas comunitárias. São espaços para compartilhar saberes”, conta Lohana Gomes, educadora da Vaga Lume.
O acervo das bibliotecas é escolhido a dedo e tem como foco a literatura. O número de obras varia, por conta dos patrocínios. Em 2023, por exemplo, foram 146 livros para cada biblioteca. Entre os livros, estavam “A Caminho da Escola”, de Rosemary McCarney, “Letras de carvão”, de Irene Vasco e “Malala, a menina que queria ir pra escola”, de Adriana Carranca.
Incentivando a leitura
Segundo Lohana, a ideia é que todos da comunidade tenham acesso ao acervo. “Buscamos o que tem de melhor no mercado editorial, pensando muito na diversidade e qualidade desses livros, trazendo uma representatividade para o acervo, com literatura negra, indígena, acessibilidade, autores estrangeiros e locais”, explica.
Como muitas vezes a biblioteca está alocada nas escolas, os mediadores fazem a leitura embaixo de árvores, na beira do rio e em outros espaços ao ar livre que contemplem todos os moradores. “Incentivamos a mediação de leitura enquanto ação cultural e, para que esses livros estejam acessíveis, utilizamos os diversos espaços da comunidade, proporcionando uma proximidade intergeracional que já existe, entre os mais velhos e os mais novos”, diz a educadora.
“Enviamos livros com temática LGBTQIAP+, livros da bell hooks, Conceição Evaristo… Abrimos uma biblioteca comunitária em 2023, por exemplo, onde os voluntários solicitaram um acervo focado em literatura negra. A comunidade havia acabado de se reconhecer como quilombola e estava buscando se empoderar através dos livros”, continua.
Formando mediadores
Para manter as bibliotecas comunitárias fortalecidas e ativas, a Vaga Lume promove a formação dos mediadores de leitura. Essa formação é feita por uma equipe técnica própria, composta por dois ou três educadores, que vão até as comunidades falar sobre os conceitos e práticas. “É um processo bem construtivo. Depois fazemos os encontros regionais com os mediadores de praticamente todas as comunidades para fazer uma troca de experiências.”
O fortalecimento da cultura dos territórios também faz parte do trabalho ligado às bibliotecas comunitárias. “Às vezes, as crianças não conhecem a história local, por isso valorizamos a conexão intergeracional e fazemos rodas com os mais velhos, que falam sobre como a comunidade foi construída, as lendas e as histórias locais”, conta Lohana.
Algumas rodas de história acabam rendendo livros artesanais feitos pelos próprios moradores. As pessoas que contam a história da comunidade são as autoras do livro, e fazem tanto o texto quanto as ilustrações. Em algumas comunidades indígenas, o livro é escrito na língua nativa. Depois, os livros são impressos e distribuídos nos outros territórios apoiados pela Vaga Lume, para que haja uma troca de saberes.
Vaga Lume
A Vaga Lume já ganhou diversos prêmios, nacionais e internacionais, incluindo três vezes o de Melhor ONG de educação do Brasil e o prêmio Jabuti de fomento à leitura. Além de contar com leis de incentivo, a associação também faz parcerias com empresas, por meio de ESG, garantindo dessa forma a constância das suas ações. Com isso, as bibliotecas comunitárias movimentam cada vez mais uma rede de conhecimento, interesse e respeito. “A biblioteca não é da Vaga Lume, são das pessoas que estão no território”, orgulha-se Lohana.
Quer apoiar essa causa?
Nesses 22 anos, a Associação Vaga Lume já enviou mais de 160 mil livros para as comunidades rurais da Amazônia e formou cerca de 5 mil mediadores de leitura. Doações e voluntariado são sempre bem-vindos! Quer saber mais? Visite o site ou siga as redes sociais no Instagram e Facebook.
Maíra Carvalho – Lupa do Bem
Causadora de Educação