2,3 milhões de pessoas apoiam fim de festival de carne de cachorro
Assinaturas contra o evento foram recolhidas em petição e entregues por ativistas à Embaixada da China no Brasil e ao Senado Federal
Ativistas pelos direitos dos animais de todo o país realizaram um ato, nesta quarta-feira, 12, em frente à Embaixada da República Popular da China no Brasil, em Brasília, para impedir a realização do Festival Yulin de Carne de Cachorro. Todos os anos, o evento, que acontece na cidade de Yulin, mata de 10 a 15 mil cães e gatos para que o público consuma a carne dos animais. O protesto reuniu seis organizações e possibilitou a entrega de um abaixo-assinado pelo fim do festival a uma representante da embaixada chinesa e ao Senado Federal.
O abaixo-assinado que se manifesta contra o festival está aberto na plataforma Change.org e já ultrapassou a marca de 2,3 milhões de assinaturas. A petição foi criada pela ativista Raquel J. Sabino, conhecida como Kaz, em conjunto com a Nação Vegana Brasil e recebeu apoio de mais nove países — Estados Unidos, Espanha, México, Rússia, Alemanha, Turquia, Canadá, Chile e França. Kaz explicou que a luta que os ativistas e protetores dos animais se propõem a travar é contra toda e qualquer forma de exploração.
“Toda essa mobilização em torno da luta pelo fim do Festival de Yulin traz para o campo de atuação aqueles e aquelas que já são sensíveis à dor e ao sofrimento dos animais”, destaca. “A nossa luta é abolicionista porque visa o fim de toda e qualquer prática de exploração da vida animal. O nosso ativismo abolicionista vem crescendo justamente por isso, porque nós estamos nos fortalecendo a partir daqueles e daquelas que chegam e percebem que a luta é anti-especista, independente de qualquer espécie”, acrescenta Kaz.
A ativista foi recebida por Vanessa Lopes, que faz parte do setor de comunicação da Embaixada da China. A representante agradeceu aos ativistas pelo “ato de bondade e de amor pelos animais” e disse que fará o abaixo-assinado chegar às mãos embaixador Yang Wanming, comprometendo-se a dar uma resposta o mais rápido possível. Em seguida, os integrantes das seis organizações foram ao Congresso Nacional, onde receberam apoio de parlamentares.
“Fomos recebidos pelo presidente da Casa, senador Davi Alcolumbre, e pelo senador Marcos Rogério, que ouviram tudo o que nós pudemos falar sobre o Festival de Yulin, as práticas que envolve e todo o horror que é”, conta Kaz. “Nossos esforços são vistos como acolhidos, bem recebidos e encaminhados. O nosso clamor por todos esses animais cruelmente abatidos e o clamor desses animais são ouvidos pelo Brasil, pelo nosso país. Isso é muito importante. A causa animal, de fato, vem recebendo a importância que lhe é devida”, completa.
O presidente do Senado recebeu um DVD com as mais de 2,3 milhões de assinaturas e se prontificou a protocolar junto à embaixada chinesa um pedido pelo fim do festival. O deputado federal Fred Costa também demonstrou apoio ao grupo.
A ação foi organizada pela Nação Vegana Brasil e contou com o apoio da ProAnima (Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal), FALA (Frente de Ações pela Libertação Animal), Castração Solidária, Mensageiros dos Animais e Veganos de Rondônia.
A causa animal
Kaz, que é servidora pública do Estado de São Paulo, acredita que o engajamento de milhões em torno da causa revela que as pessoas vêm despertando para a sensibilidade e a consciência de que os animais merecem consideração, respeito e dignidade. “Essa petição reflete esse momento de transformação e de percepção de que o ser humano, como ser responsável por tantas transformações, que seja também responsável pela transformação da libertação de outras espécies da exploração”, ressalta.
Prestes a completar 10 anos, o Festival de Yulin, também chamado de Lychee, surgiu da crença de que a carne de cachorro, quando consumida durante o verão chinês, traz boa saúde e sorte. Todos os anos, comerciantes espalham suas barracas pela cidade de Yulin e oferecem a carne dos cães e gatos aos visitantes. Neste ano, o evento está previsto para acontecer de 21 a 30 de junho, porém, Kaz espera que as mobilizações impeçam sua realização.
“Esse festival foi proposto por comerciantes e temos informações de que moradores de Yulin são contrários a esse festival, protetores locais e ativistas estão combatendo. Não somos somente nós aqui do Brasil lutando, há ativistas de outros países, moradores e moradoras de Yulin que lutam contra esse festival. Então não é uma questão de cultura, há muita crueldade envolvida, é um costume bárbaro. Não é cultura, é violência”, enfatiza a ativista.
Kaz lembra que o evento causa uma matança de cerca de 15 mil cães e gatos num intervalo de apenas 10 dias e que muitos animais são sequestrados de seus donos para serem mortos no festival, além de serem envenenados e passarem por práticas cruéis e extremas de abate. “Não se justifica tanto sofrimento, tanta dor”, desabafa a integrante da Nação Vegana Brasil.
O coletivo do qual a servidora pública faz parte surgiu no início do ano passado, a partir de uma mobilização contra a exportação de bois do porto de Santos (SP) a países do Oriente Médio. Na ocasião, ativistas realizaram vigílias e bloqueios em frente ao Ecoporto de Santos como forma de protesto e passaram a se conectar, criando a Nação Vegana Brasil.
Desde então, os defensores dos animais desenvolvem diversas ações pelo país, como atos contra a farra do boi, em Santa Catarina, pelo fim do comércio de animais e de proteção ao meio ambiente. “A nossa força só vem crescendo, os apoios vêm surgindo de inúmeros Estados e a nossa iniciativa de uma nação vegana vem se materializando”, conclui Kaz.