“Vocês têm que deixar suas casas em cinco minutos”. Este foi o alerta que a Defesa Civil deu à população de Paracatu de Baixo logo depois que o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, havia atingido Bento Rodrigues. Os dois distritos ficam em Mariana, Minas Gerais, e foram destruídos pela lama naquele dia 5 de novembro de 2015, uma data que jamais será esquecida.
A professora Elizete Tavares, que vivia em Paracatu há 36 anos, ficou sem reação em um primeiro momento. Ela abriu o armário, pegou uma pastinha com documentos, e entrou na caminhonete de seu marido. Por sorte, seus filhos estavam estudando em uma área afastada.
Memórias de Paracatu: fotos de antes e depois da casa de Elizete
Todos os moradores foram à parte mais alta da região, onde não havia riscos. Quando anoiteceu, duas horas após as pessoas deixarem suas casas, a lama destruiu Paracatu, levando casas, móveis, objetos e histórias de muitas vidas. Elizete só conseguiu retornar ao distrito depois de um mês. Chegando lá, não reconhecia mais o espaço que ela e o marido construíram com tanto esforço para a família.
Em busca de alguma recordação, a professora encontrou um baú de madeira soterrado. Dentro, estava seu álbum de formatura da faculdade, embalado em um plástico e sem qualquer dano, além de outras fotos de família, já danificadas pela umidade. “O momento que encontrei minhas coisas foi mágico”, relata Elizete. “A lama não levou apenas tudo que eu tinha, mas também a nossa identidade”, completa.
O Catraca Livre esteve em Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira, três dos distritos de Mariana atingidos pelo desastre, para reunir as fotos de antes e depois de famílias que viviam lá. Confira abaixo o álbum de memórias de Elizete e de outros moradores da região:
- Elizete (Paracatu de Baixo)
Fotos encontradas por Elizete um mês depois do rompimento da barragem
Fotos encontradas por Elizete um mês depois do rompimento da barragem
Fotos encontradas por Elizete um mês depois do rompimento da barragem
Fotos encontradas por Elizete um mês depois do rompimento da barragem
Fotos encontradas por Elizete um mês depois do rompimento da barragem
Terreno em que estava localizada a casa da moradora de Paracatu
- Quintão (Bento Rodrigues)
Ao ouvir a notícia de que a barragem da Samarco havia rompido, Antonio Martins Quintão não se preocupou com os bens materiais. Largou três mil reais na cama e saiu de casa com a família dentro de sua caminhonete, todos apenas com a roupa do corpo. Antes de subir para a parte alta, o homem de 48 anos saiu com seu veículo para resgatar os moradores do distrito. No total, 15 pessoas foram salvas por ele.
As únicas três fotos encontradas por Quintão após a lama
As únicas três fotos encontradas por Quintão após a lama
As únicas três fotos encontradas por Quintão após a lama
Neste local, o morador construiu a casa em que vivia com toda a família
Aos 78 anos, Dona Geralda é uma mulher de força. Criou os 8 filhos, 17 netos e 12 bisnetos, e fez a vida em Gesteira, um distrito em Mariana de apenas 9 casas, uma igreja, um mercado e uma escola, localizado próximo à Barra Longa. Os moradores de lá só foram salvos porque uma parente de Geralda dirigiu até o local para resgatá-los. Hoje, tudo o que havia na pequena região não existe mais.
Memórias dos momentos em família na casa de Dona Geralda
Memórias dos momentos em família na casa de Dona Geralda
Memórias dos momentos em família na casa de Dona Geralda
Memórias dos momentos em família na casa de Dona Geralda
A casa de Dona Geralda atualmente
A casa de Dona Geralda atualmente
Casa do irmão de Dona Geralda antes da lama
Casa do irmão de Dona Geralda depois da lama
A escola de Gesteira antes da lama
A escola de Gesteira depois da lama
- Carlos e família (Paracatu de Baixo)
Aquela quinta-feira, 5 de novembro, era um dia especial para o comerciante Carlos Alberto Barbosa, de 50 anos, e sua família. Seu bar, passado de pai para filho, seria reinaugurado após uma reforma — o local estava há 40 anos sem qualquer modificação. Os pastéis feitos por sua mãe, Laura, de 81 anos, já estavam prontos e a cerveja trincando quando eles receberam a notícia de que precisariam deixar tudo para trás, por volta das 18h.
A rua da casa de Carlos antes do rompimento da barragem
A casa de Carlos antes do rompimento da barragem
O bar de Carlos antes do rompimento da barragem
Após o desastre, veja como ficou a região em que estava a casa da família
Após o desastre, veja como ficou a região em que estava a casa da família
O comerciante Mauro Marcos da Silva, de 47 anos, nasceu em Bento Rodrigues, mas saiu de lá em busca de um emprego. Mesmo vivendo e trabalhando na cidade de Mariana, aquele lugar sempre foi a sua referência, onde se sentia feliz. Em 2011, após muito trabalho, conseguiu comprar uma casa antiga no distrito e, aos poucos, a restaurou.
Antes: foto da casa em que o pai de Mauro vivia no distritoHeloisa
Depois: foto da casa em que o pai de Mauro vivia no distritoHeloisa
A cada do comerciantes antes do mar de lamaHeloisa
Antes: foto tirada da porta da casa de Mauro em Bento RodriguesHeloisa
Depois: foto tirada da porta da casa de Mauro em Bento RodriguesHeloisa
- Angélica (Paracatu de Baixo)
No dia do rompimento da barragem, a professora Angélica Peixoto, de 51 anos, estava em casa, em Paracatu de Baixo, quando recebeu uma ligação de amigos que a avisaram sobre o que havia acontecido. Ela e a família tiveram poucos minutos para procurar o local mais alto do distrito. Da sua casa, não restou nada. A única coisa que recuperou, algum tempo depois, foi um pedaço de madeira esculpido com a palavra “mãe”, presente de um de seus filhos na infância.
Sobrinhos de Angélica na piscina de sua casa antes da tragédia
O local onde antes ficava a piscina da casa de Angélica