Alvaro Dias: “Meu maior adversário é o descrédito do brasileiro”
Candidato à Presidência da República pelo Podemos, o senador participou do “O Brasil visto de Baixo”, organizado pela Casa do Baixo Augusta e Catraca Livre
O senador e candidato à Presidência da República Alvaro Dias (Podemos), foi o segundo participante do “O Brasil visto de Baixo”, ciclo de entrevistas com presidenciáveis organizado pela Casa do Baixo Augusta em parceria com a Catraca Livre. Dias foi entrevistado por Gilberto Dimenstein, Alê Youssef, Paula Lago e Daniela Christovão.
Dias respondeu a perguntas dos quatro entrevistadores e também a outras enviadas por leitores da Catraca antes e durante a transmissão ao vivo do encontro. Entre os temas abordados na noite desta quinta-feira, 23, os participantes debateram a renovação da política brasileira, reforma da Previdência, política de drogas, legislação do porte de armas e uso de agrotóxicos.
Se fosse eleito, o que faria de imediato pelo país ?
Alvaro Dias: “Dizer ao país: nos iniciamos a refundação da República. Aquele sistema corrupto de governo está sepultado. Esse balcão de negócio, fábrica de escândalo está encerrada. Vamos buscar os melhores para cada área do governo. Uma equipe reduzida, claro.
A reforma constitucional é o primeiro ponto para refundação da República. Substituir o atual sistema, que permite promiscuidade dos poderes, para promover as reformas necessárias: se hoje existe desigualdade é porque não somos todos iguais perante a lei.
Fim do auxílio moradia, fim dos penduricalhos todos. Pra chegar lá no cidadão, essa reforma de sistema se dá pela reforma econômica, ajuste fiscal, liberar crédito para o pequeno, médio e micro empresário. Aplicar como fez Angela Merkel, na Aleamanha, um limitador emergencial de despesas. E no segundo ano, aí sim, o reajuste estrutural, em que você vai começar com orçamento base zero, avaliando as despedas de cada área, justificando as despesas e eliminando os desperdícios. Nós temos seguramente mais de 10% de desperdício, despesas desnecessárias em todas as áreas do governo”.
Como promover as mudanças com um índice de renovação tão baixa dos políticos ?
Alvaro Dias: Pela experiência vivida. Enquanto a maioria vai para a sombra do poder, sempre fui um contestado. Por isso acho que tenho autoridade para propor essa renovação do sistema. Como fazer? Será um governo suprapartidário, não de conluio, coalização de siglas, mas convocando as pessoas de bem da política. Elas existem, em todos os partidos.
Indo além da política, para as universidades, instituições, associações, religiões, sindicatos, federações, forças vivas do país num verdadeiro mutirão de mudanças. O presidente precisa ser 50% capacidade de mudança e 50% comunicação. Pra convencê-los que só temos este caminho a seguir. Aí o Congresso não reage, não rema contra a maré. Quem resistir será atropelado e substituído. Quando vi o povo nas ruas, na Paulista, em todo o país, eu vi a força que tem o povo. O Congresso dança a música que toca a Presidência.
Qual seu modelo de reforma da Previdência ?
Estamos discutindo muito a respeito. Ela não coloca a mão no bolso do aposentado, do trabalhador. Ser sincero com a população sobre o déficit da previdência. Temos que conversar. Eliminar privilégios. Não vamos chamar o pobre pra tapar os buracos abertos pelos poderosos. Cada cidadão terá a conta para a aposentadoria futura. Vamos instituir um fundão que será constituído pelos ativos das empresas estatais, que são do povo brasileiro. Esse fundo será a gerar recursos, recursos vivos a disposição da sociedade, que financiará obras para uso público.
Se eleito, uma mudança na legislação do acesso à arma viria do poder Executivo?
Alvaro Dias: Exageram na importância desse tema, colocando como se fosse política de segurança pública para o Brasil. Como se resolvesse a questão da insegurança. Nós não tratamos dessa maneira. Tratamos no campo do livre arbítrio, a liberdade que deve ter o cidadão. O direito à legítima defesa. O Estado não oferece a proteção que lhe cabe oferecer. As localidades longínquas desprotegidas, especialmente na área rural. Houve um plebiscito, nós temos que respeitar a soberania popular. É evidente que vamos flexibilizar a legislação do porte de arma, impondo responsabilidades. Mas sabemos que não é solução. Não exime a responsabilidade do Estado brasileiro de fazer segurança.
Quem fuma maconha deveria ser preso?
Álvaro Dias: O consumidor não. Ele tem que ter a oportunidade da reabilitação. Mas temos que ser implacáveis contra a produção e tráfico de drogas, numa frente latina vinculada aos estados americanos. O Brasil pode liderar isso. Porque temos uma faixa de fronteira enorme, mais de 17 mil quilômetros aberta ao tráfico e contrabando de armas. Se você reduzir a produção e o tráfico, diminui o consumo. E se oferecer mecanismos de recuperação dos dependentes, também reduz o consumo. Milagre não existe. Precisamos agir com competência e autoridade.
Qual sua visão sobre agrotóxicos no Brasil ? Devemos liberar mais ?
Álvaro Dias: “a questão do agrotóxico é evidente que não se utilizarmos o agrotóxico como os Estados Unidos, a Alemanha, Canadá, Japão, Inglaterra, a França, nós não plantaremos, nem produziremos. Mas é evidente que nós temos que compatibilizar os interesses da produção, produtividade, do progresso, com a necessidade imprescindível da preservação ambiental.
É óbvio que na área rural existe uma produção que carrega o país nas costas, que precisa utilizar o agrotóxico pra continuar produzindo. Não podemos interromper esse processo de produção, a não ser que a ciência nos ofereça outros instrumentos que permita abandonar o agrotóxico”.
Não te parece um pouco eleitoreiro, ou marketing, dizer que seu Ministro da Justiça seria o Sérgio Moro ?
Álvaro Dias: “é simbólico, eu diria emblemático. Se eu assumir a Presidência da República, pego o telefone e ligo: ‘Sérgio Moro, aceita o convite ?’. Se ele disser não, procuro alguém que tenha o perfil dele. Nós sabemos que a maioria do povo brasileiro tem como prioridade a operação Lava Jato. E eu tenho também. Acho que é fundamental para o Brasil.
Até em relação ao nosso desenvolvimento econômico, geração de empregos, benefício do cidadão. Porque se a Lava Jato se tornar política de estado, tropa de elite do combate à corrupção, nós melhoraremos a imagem do brasil no exterior.
O Brasil voltará a ser sério para o mundo. A corrupção expulsa o investimento, que gera renda, emprego, receita pública e desenvolvimento. Se tivéssemos índices de corrupção semelhante ao da Dinamarca, teríamos uma renda per capita 70% maior do que é hoje. Então é evidente que o combate à corrupção é cabo eleitoral do desenvolvimento.
Assista na íntegra: