Após atender menina estuprada, médico diz que nunca foi tão hostilizado
“Se nós não fizéssemos nada, o Estado brasileiro estaria conivente com a dor e a violência", afirmou Olímpio Barbosa de Morais Filho
O médico Olímpio Barbosa de Morais Filho, diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE), afirmou nesta segunda-feira, 17, que nunca foi tão hostilizado como agora, após realizar o aborto para interromper a gravidez da menina, de 10 anos, estuprada pelo tio no Espírito Santo.
URGENTE: tio suspeito de estuprar e engravidar menina de 10 anos é preso em MG
O médico criticou as manifestações contra a realização do aborto, durante entrevista à rádio Bandeirantes FM. “Foi de tristeza, pessoas que defendem a vida chamando a criança de assassina, querendo fazer justiça dessa forma, logo em uma maternidade que acolhe mulheres em risco, fazendo barulho em um hospital com 104 mulheres internadas. Nunca passei por nada parecido”, disse o médico.
- Descubra como aumentar o colesterol bom e proteger seu coração
- Entenda os sintomas da pressão alta e evite problemas cardíacos
- USP abre vagas em 16 cursos gratuitos de ‘intercâmbio’
- Psoríase: estudo revela novo possível fator causal da doença de pele
A menina estuprada foi transferida de São Mateus, no norte do Espírito Santo, para o Recife, após decisão do juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde ela mora, que autorizou a realização do aborto.
“Se nós não fizéssemos nada, o Estado brasileiro estaria conivente com a dor e a violência. O mais importante é que ela não queria, foi torturada, obrigar uma criança a ter uma gravidez forçada é um absurdo. Ela já foi violentada por vários anos. Não colocaria novamente essa criança em outro estado de violência”, disse o médico à rádio Bandeirantes.
A diferença entre Sara Winter e Felipe Neto no caso da menina estuprada
Sara Winter divulga dados de menina estuprada que espera por aborto
“A classe alta procura o aborto com maior frequência do que a classe desfavorecida. O Brasil é o país da hipocrisia. A defesa da vida é uma falácia. Se consideram que o embrião tem vida, deveriam estar nas portas das clínicas de reprodução humana, que descartam milhares de embriões”, disparou.
Olímpio ainda destacou, em entrevista à GloboNews, que se a gestação não fosse interrompida, provavelmente a menina, de 10 anos, teria complicações por não ter o completo desenvolvimento de seu corpo.
“A menina está bem, aliviada. O sofrimento nesses últimos dias foi terrível para ela, as ameaças que sofreu. Eu espero que esse sofrimento daqui para a frente seja atenuado, e vai depender muito de como o caso vai ser conduzido, respeitando o sigilo, para que ela possa recuperar a sua vida”, ressaltou o médico.
“Infelizmente, o estupro é muito comum no Brasil, e, mais triste ainda, com crianças. Lamento muito que muitas pessoas não têm acesso à informação. Então tem crianças sendo violentadas, engravidando e levando a gravidez até o termo. Muitas vezes só ficamos sabendo [por causa] de complicações. É sabido também que a principal causa de suicídio em adolescentes é a gravidez indesejada”, afirmou o médico, na GloboNews.
Como denunciar casos de abuso infantil e como orientar a criança
Casos como o desta menina de 10 anos, abusada pelo próprio tio, infelizmente não são raros no Brasil. O Disque 100 recebe milhares de denúncias por ano, mas sabemos que esses dados não estão nem perto da realidade, uma vez que ainda é difícil ter estatísticas que realmente abranjam o problema de forma real.
Isso se dá por inúmeros fatores como, por exemplo, pelo preconceito e pelo silêncio das vítimas (que às vezes não entendem o que está acontecendo com elas) e pela “vergonha” e falta de informação sobre o assunto de familiares.
Reconhecer os tipos de abusos e saber orientar as crianças é fundamental. Veja aqui como fazer isso.