Aracruz: como o adolescente conseguiu a arma e aprendeu a atirar?
"Ele nunca demonstrou interesse nenhum nas minhas armas", disse o pai, que é tenente da Polícia Militar no Espírito Santo
O adolescente de 16 anos que promoveu ataques a tiros em escolas de Aracruz, no Espírito Santo, aprendeu a atirar no YouTube. A informação é relatada pelo próprio pai do jovem, que concedeu entrevista exclusiva ao jornal Estado de S.Paulo sobre o assunto. Segundo o pai do atirador, ele passava muito temo no YouTube assistindo vídeos de jogos e de armas.
“Ele nunca demonstrou interesse nenhum nas minhas armas. Ele sempre gostou de ver armas e entendia muito de armas, com vídeos do YouTube. Gostava muito de ver vídeo no YouTube, gostava de ver vídeos de armas e de jogos. Se você me pedir uma prova eu não tenho como te dar, mas eu acredito e tenho forte intuição de que meu filho foi manipulado, foi induzido por bandidos, por pessoas realmente malignas, satânicas, que estão nas redes sociais pescando um jovem ou outro que tenha a mente um pouco fraca. Fisgam esses jovens, trabalham na mente deles e levam eles a cometer esse tipo de atitude. Eu acredito que foi manipulado por pessoas assim, mas eu não posso provar ainda. O celular dele já está com a polícia, o computador dele também”, disse o pai na entrevista.
Para o pai, foi uma surpresa se deparar com a informação de que o filho teria usado sua arma e que ele sabia como usá-la.
“Nas redes sociais realmente estão falando que fui eu que ensinei ele a atirar. Teve uma declaração aqui do secretário de Segurança do Estado dizendo que ele atira bem, que tem uma técnica, algo assim. Aí as pessoas começam a fazer correlação. Se ele é treinado, o pai é policial militar, então o pai ensinou o filho. Essa lógica é sem sentido. Ele aprendeu a atirar – e ele falou isso para o delegado – com vídeo no YouTube. Hoje na internet o cara aprende tudo”, relatou.
Como o adolescente teve acesso à arma?
O pai ainda falou que não sabe exatamente como o filho descobriu onde estava a chave para abrir tambor que estava com as armas e diz que tomava todo o cuidado quando chegava em casa para não mostrar a arma para ele.
“Usava um cadeado no revólver. O revólver era minha arma particular. Eu abria o tambor e travava com um cadeado, aí a arma ficava inoperante. De alguma forma ele descobriu onde estava a chave e abriu. A outra arma não estava no cadeado, era a arma da polícia. Estava escondida. Eu sempre coloco em locais diferentes, mas ele descobriu. Eu tinha sempre o cuidado quando chegava em casa de nem mostrar minha arma. Eu entrava no quarto e lá dentro eu tirava do coldre e escondia. Ele nunca demonstrou interesse pelas minhas armas”, disse.
Apologia ao nazismo?
Perguntado sobre a suástica estampada no braço do jovem no momento dos ataques, o pai alegou, que apesar das acusações de que ele apoia o nazismo, não conseguiu achar vestígios de materiais nazistas com o filho.
“Eu acompanhei tudo, da minha casa até a saída dele para a unidade em que ele foi apreendido. Não vi nos materiais nada referente a nazismo. Apenas o que ele usou no dia do atentado, uma suástica nazista que ele falou que desenhou e colou com fita crepe no braço”, disse.
“Pelo que eu vi, não. A polícia recolheu bastante coisa, até coisas que eram objetos meus. Mas não tem problema. Eu quero contribuir o máximo possível para que a justiça seja feita. Eu não quero nenhum tipo de impunidade. Eu não quero que o meu filho fique impune não. Quero que a justiça seja feita. Não quero que seja feita vingança, quero que a justiça seja feita. Então eu contribuí completamente. Até com materiais que estavam deixando passar e eu achava importante eu falava: ‘Leva, esse computador é o que ele usa para jogar, pode tirar aquilo, leva, por favor, e procurem investigar’. Tenho tanta intuição que é uma quadrilha que tem pessoas malignas nas redes sociais que pegam jovens como meu filho e manipulam eles para tragédias como essa. Vai acontecer mais se a polícia não fizer um trabalho e descobrir quem são eles”, contou.
Sobre a publicação que ele fez com um livro sobre Hliter e o nazismo, o pai alega que as acusações são falsas e que ele apenas tinha lido o livro para autoconhecimento. Segundo ele, o filho chegou a ler o livro também, mas assim como ele, não gostou da obra.
“Ele pegou para ler, mas também não gostou, assim como eu. O livro foi uma decepção, um desperdício de dinheiro. O meu filho começou a ler, vi ele com o livro algumas vezes. Mas o livro ficou abandonado lá. Essa foto que pegaram na internet é bem antiga (o post é de 18 de junho). No Instagram, as pessoas fizeram montagem da minha foto com o livro e escreveram um monte de coisas. Estão inflamando a sociedade contra mim. Eu sou o oposto de tudo o que estão falando de mim. Sou uma pessoa do bem, uma pessoa que toda vida defendeu a vida, defendeu a saúde das pessoas, que trabalha com bem-estar, com a minha psicoterapia nos projetos sociais gratuitos. Recebi muitas ameaças de pessoas estranhas. Jogaram meu número na internet. Mas a gente está na presença do Senhor e não cai fácil”, falou.