Assassinato de adolescente transforma periferia de SP em Minneapolis

Violência policial na zona sul de São Paulo gera onda de protestos com incêndios de ônibus e confrontos

A execução de mais um jovem negro transformou as ruas da zona sul de São Paulo em Minneapolis na noite da última segunda-feira, 15.

Em meio aos incontáveis casos de violência policial denunciados nas últimas semanas, Guilherme Silva Guedes, 15 anos, se torna símbolo da arbitrariedade homicida que há décadas interrompe a vida de milhares de jovens (em sua maioria negros) na periferia de todo o Brasil.

Família acusa policial de matar Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, na zona sul de São Paulo – Mídia Ninja/Reprodução

Guilherme foi sequestrado na madrugada do último domingo, 14, em frente à casa de sua avó, na Vila Clara, e encontrado por familiares no Instituto Médico Legal um dia depois. Com tiros nas mãos e na cabeça, familiares acusam um policial que trabalha como segurança em um galpão da região de confundir o jovem com um assaltante e assassiná-lo.

Parentes da vítima alegam ter encontrado um crachá de um policial militar de São Bernardo do Campo, que não teve o nome divulgado. Desde a última sexta-feira, 12, esse é o terceiro episódio de violência policial em diferentes pontos da periferia de São Paulo. Ao todo, 14 policiais foram afastados de suas funções pelas agressões cometidas no Jaçanã e em Barueri, na região metropolitana.

Vidas Negras Importam. Ou deveriam

O assassinato de Guilherme foi, então, o estopim para uma forte reação nas ruas da zona sul de São Paulo na noite da última segunda-feira, 15. As primeiras manifestações, no entanto, tiveram início na cidade de Diadema, onde Guilherme morava.

Amigos da vítima e populares indignados com o caso saíram às ruas da cidade para protestar e entraram em confronto com soldados do patrulhamento da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Bombas de gás foram utilizadas pela GCM para dispersar os manifestantes que respondiam atacando peras contra as viaturas, segundo versão da prefeitura de Diadema.

Zona sul de São Paulo vive noite de revolta popular após novo episódio de violência policial – Reprodução/@shabazzakin

“Na noite desta segunda-feira, durante patrulhamento na região da Vila Élida, uma viatura da GCM de Diadema foi surpreendida por manifestação que se aproximava do município vinda da Av. Eng Armando de Arruda Pereira, na região de Americanópolis, bairro da capital paulista. Ao avistarem a viatura, participantes da manifestação atiraram pedras contra a equipe da ROMU, que acionou reforço ao local. Foi necessário o uso de bombas de gás para dispersar a aglomeração e restabelecer a ordem, garantindo a integridade da população de bem”, disse a Prefeitura de Diadema.

A revolta popular chegou ao bairro da Vila Clara, zona sul paulistana, onde Guilherme foi sequestrado. Lá, ao menos cinco ônibus foram incendiados ou depredados por moradores da região.

Ao menos cinco ônibus foram incendiados durante protesto pela morte de adolescente na zona sul – Foto: Bruno Souza

Polícia Militar apura o caso

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que “o caso envolvendo o adolescente, de 15 anos, foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para investigações. A Polícia Militar também acompanha a apuração. Se for comprovada participação policial, as medidas cabíveis serão adotadas.”

Duas equipes do Corpo de Bombeiros foram encaminhadas à região para conter as chamas. E, de acordo com a PM, ao menos uma pessoa foi presa durante a manifestação.  O suspeito foi encaminhado para 26º DP, no bairro do Sacomã.

Protesto também foi marcado por violência policial

Nas redes sociais, uma série de vídeos gravados por moradores da região denunciaram novos episódios de violência policial. Em diferentes ocasiões, jovens negros aparecem sendo agredidos por policiais arbitrariamente.