Assassinato de transexual brasileira revolucionou luta contra transfobia em Portugal

Aos 45 anos, Gisberta Salce foi torturada e agredida por adolescentes em um edifício abandonado na cidade do Porto. Vítima do preconceito e intolerância, a brasileira se tornou símbolo da luta contra a transfobia no país

Faz 10 anos que o assassinato de uma transexual brasileira revolucionou o debate sobre intolerância e ódio contra homossexuais em Portugal. Imigrante ilegal, trans, prostituta, sem-teto e soropositiva, Gisberta Salce Junior, 45 anos, foi agredida durante dias por 14 adolescentes e encontrada no fundo de um poço de 15 metros na cidade do Porto.

Enquanto o Brasil segue como o país que mais mata transexuais no mundo, Portugal abriu o diálogo para a transfobia. Se reinventou para questões da igualdade de gênero e provocou transformações fundamentais para a comunidade LGBTT.

Corpo de Gisberta está enterrado em São Paulo, onde viveu até os 18 anos

Anos após a morte de Gisberta, o legislativo português decidiu arregaçar as mangas, criando leis que discutiam temas sobre igualdade de gênero, em busca de maior acesso à Justiça, educação e inclusão profissional. Na mesma época foi criada a concessão de asilo a transexuais estrangeiros em risco de perseguição.

Em entrevista ao site da BBC, o investigador do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) destaca o impacto que a morte de Gisberta provocou no país. “Portugal transformou-se em um dos países mais avançados do mundo no tratamento à igualdade de gênero. As leis criadas nos últimos dez anos possibilitaram que um número grande de homens e mulheres trans conseguissem se integrar à sociedade”.

Com a repercussão inédita na mídia e na sociedade portuguesa meses depois do crime, associações ligadas aos direitos dos homossexuais organizaram série de manifestações em todo país que resultaram na criação de uma série de leis que envolvem o tema. Desde 2011, uma pessoa que queira mudar o nome e gênero em seus documentos, precisa apenas de um parecer médico para promover a mudança.

O legado de Gisberta

Dez anos depois da morte de Gisberta, sua história foi transformada em peça de teatro, virou documentário e a canção “Balada de Gisberta”, escrita pelo português Pedro Abrunhosa e interpretada na voz de Maria Bethânia. Confira a matéria na íntegra no site da BBC Brasil.