‘Ataque a protesto foi covardia do governo’, diz poeta indígena

Uma manifestação dos povos indígenas em frente ao Congresso Nacional foi reprimida pela polícia com bombas de efeito moral e gás

26/04/2017 15:03

Um protesto pacífico de mais de três mil indígenas foi atacado com bombas de efeito moral e gás pela polícia na frente do Congresso Nacional, em Brasília (DF), na tarde desta terça-feira, dia 25.

Os manifestantes foram dispersados após tentar deixar quase 200 caixões no espelho de água do Congresso. No local, havia centenas de crianças, idosos e mulheres, e muitas pessoas passaram mal por causa da substância.

  • Chico César, Arnaldo Antunes, Criolo, Elza Soares, Gilberto Gil, Letícia Sabatella, entre outros artistas, lançaram a música “Demarcação Já” em luta pelos direitos indígenas. O clipe da canção será lançado nesta quinta-feira, 27, em Brasília. Veja aqui.
Os manifestantes tentaram deixar quase 200 caixões no espelho de água do Congresso
Os manifestantes tentaram deixar quase 200 caixões no espelho de água do Congresso

Por volta das 15h, um cortejo fúnebre tomou conta da Esplanada dos Ministérios. Os manifestantes saíram do acampamento onde estão, ao lado do Teatro Nacional de Brasília, levando os caixões e um banner com a expressão “Demarcação Já”. Eles seguiram tranquilamente até o Congresso.

Os caixões representavam líderes indígenas assassinados por causa dos conflitos de terra em todo o país – 54 foram mortos por causa de conflitos de Terra, só em 2015, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

“São nossos parentes assassinados pelas políticas retrógradas de parlamentares que não respeitam a Constituição Federal”, explica a líder Sônia Guajajara, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Os indígenas participam do Acampamento Terra Livre 2017, a maior mobilização indígena dos últimos anos.

O evento vai até esta sexta, dia 28, e protesta contra a paralisação das demarcações de Terras Indígenas, a nomeação do deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR) como ministro da Justiça, o enfraquecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e as várias propostas em tramitação no Congresso contra os direitos indígenas.

No fim da tarde, os indígenas retornaram ao acampamento. Não houve presos e ninguém ficou ferido.

‘Ato de covardia’

De acordo com a geógrafa e poeta Márcia Wayna Kambeba, da etnia Omágua Kambeba, a violência que ocorreu em Brasília foi um “ato de covardia por parte do governo”. Ela esteve em Brasília nos últimos dias para o evento “Abril Indígena”.

O governo colocou soldados para jogar gás de efeito moral ou lacrimogênio nos parentes [forma como ela chama os indígenas] que estão lá na luta por todos nós. Eles deveriam buscar dialogar e negociar, pois estamos abertos e a articulação por nossos direitos é feita diariamente”, afirma ao Catraca Livre.

“Mulheres indígenas estão passando mal com o gás que eles lançam. Onde estão os que defendem nossos direitos?”, finaliza a geógrafa.

Assista ao vídeo da manifestação:

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