Ateísmo militante: em que acreditam os ateus das redes sociais?
Ateus formam o grupo que mais atrai ódio, repulsa ou antipatia no Brasil
Você não vai vê-los batendo de porta em porta para pregar a “palavra” (ou a falta dela), mas existem ateus e agnósticos militantes nas redes sociais -e eles não querem convencer os outros de que Deus não existe.
Mesmo sem pregar a violência e a intolerância ou agir para doutrinar as pessoas, ateus e agnósticos fazem parte do grupo com maior rejeição no Brasil.
Segundo pesquisa do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisa e Estudos (Noppe/FPA), 15% da população sente ódio ou repulsa e 24% têm antipatia a quem revela não acreditar em Deus. As regiões Norte e Nordeste são as que mais rejeitam os descrentes: 51% e 48%, respectivamente.
O movimento ateísta no Brasil procura divulgar excessos e preconceitos, se proteger de violências e agir judicialmente no sentido de manter o estado laico, evitando que as religiões tomem posse do espaço público.
“A militância não existe no sentido de criar mais ateus, apenas de promover nossos objetivos comuns”, informa a Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos), a maior organização do gênero na América Latina.
A Atea foi criada pela necessidade de realizar atuações concretas em torno da luta pela laicidade do Estado e contra a discriminação que os ateus estão sujeitos no Brasil.
Essa associação reúne ateus, aqueles que não acreditam em Deus, e agnósticos, que negam a possibilidade de conhecer o divino ou afirmar a certeza da existência de Deus, como faz boa parte das religiões.
A luta solitária dos ateus
Muitas vezes o ateu se sente em uma luta solitária. Foi pensando em agregar os descrentes que a página Boteco Ateísta foi criada. “O motivo foi por interação com outros ateus espalhados pelo Brasil, uma vez que ateus sofrem muito preconceito religioso nesse país”, conta o administrador da página.
“Por causa desse preconceito, os ateus vivem no anonimato. A página, na verdade, é para mostrar que você não está sozinho.”
O responsável pela página nasceu e foi criado em uma família evangélica tradicional, e educado segundo os ensinamentos bíblicos e dogmas religiosos.
“É muito difícil se assumir neste país, pois o ateu é demonizado pela Igreja Católica e pela evangélica”, afirma.
A Atea expõe que o preconceito se manifesta desde relações de trabalho, sociais e familiares cortadas até ameaças de morte. O site da organização reúne diversos relatos de pessoas que enfrentam dificuldades por admitirem publicamente não crer em Deus.
Como denunciar:
A Atea oferece um canal de comunicação no qual ateus e agnósticos podem relatar situações de hostilidade, discriminação ou preconceito que sofrem e conseguir apoio.
Apesar de não haver uma legislação específica para quem não segue uma religião ou não tem fé em uma divindade, o artigo 5º da Constituição Federal afirma que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”
A depender da gravidade, se o caso for, por exemplo, uma acusação de crime pelo fato de o indivíduo ser ateu, há possibilidade de acionar a Justiça por calúnia, difamação e injúria.