Bailarina de 9 anos é aprovada na seletiva regional do Bolshoi

Filha de diarista, a pequena Lígia fez uma vaquinha online e já atingiu seis vezes a meta inicial; veja como ajudar

Liginha mora com a mãe em um bairro popular de Salvador
Créditos: Reprodução / Instagram
Liginha mora com a mãe em um bairro popular de Salvador

A pequena Lígia Pires, de 9 anos, moradora do Engenho Velho da Federação, bairro popular de Salvador, Bahia, foi aprovada na seletiva regional do balé Bolshoi — uma das maiores companhias do mundo — e sua família se viu em uma difícil situação: como viabilizar a ida da garota para a competição, que acontecerá em Joinville, Santa Catarina, no mês de outubro?

Sua mãe, a diarista Daniela Pires, de 41 anos, decidiu criar uma vaquinha online para arrecadar o dinheiro necessário e financiar a viagem da criança. Em poucos dias, a campanha juntou mais de seis vezes o valor estipulado inicialmente, que era de R$ 3 mil.

Segundo Daniela, embora Lígia já tenha conseguido o dinheiro, há uma grande possibilidade da criança passar nessa primeira etapa e morar em Santa Catarina. “Assim, eu precisaria ter condições de me mudar para lá com a Lígia até conseguir um novo trabalho”, afirma. “A vaquinha não é só para a seletiva. Também quero pagar os anos de escola dela que não pude pagar, de 2017, 2018 e 2019.”

“Para Lígia, tudo é sonho, tudo é novo. Ela tem a oportunidade agora de socializar com outras pessoas do mundo da dança. Ela quer ir ao Bolshoi, se Deus permitir. Paralelo com a dança, ela pensa em estudar e fazer faculdade. Ela quer ir além. O sonho dela agora é ir pra Santa Catarina e, então, para a Rússia. Quem sabe, né?”, completa a mãe.

A bailarina postou um vídeo de agradecimento a todos que apoiaram o financiamento coletivo. Assista:

Liginha e a paixão pelo balé

Liginha, como é conhecida entre pessoas próximas, mora em Salvador apenas com a mãe e um cachorrinho de quatro anos, que “é a alegria da casa”. Ela estuda pela manhã em uma escola particular e, às segundas e quartas, na parte da tarde, faz aulas de dança.

Daniela conta que a filha entrou no balé aos três anos de idade, porém, ficou somente um ano. “A aula era particular, na escola dela, e eu não tive condições de pagar por mais tempo”, diz.

Depois, a menina começou a capoeira, mas em seis meses de aula não se interessava em aprender os movimentos. Ao avisar o mestre que tiraria a filha das aulas, Daniela recebeu um pedido. “Ele disse para deixá-la mais tempo, sem pagar a mensalidade”, relata.

Dito e feito: seis meses depois, Lígia já estava com muita desenvoltura e conquistando sua primeira corda. “Toda vez que eu a via nas rodas de capoeira me emocionava, como me emociono até hoje vendo o que minha filha faz, porque ela faz com amor e dedicação”, afirma a mãe.

Com dois anos de capoeira, em 2015, o mestre chamou Daniela para conversar e recomendou que inscrevesse a criança na ginástica rítmica, já que seu corpo é muito flexível.

“Eu resolvi seguir o conselho, mas aqui em Salvador é tudo caro, fora o transporte e alimentação. Eu não consegui arcar com mais essa despesa. Conversando com um pessoal do meu bairro, uma vizinha me contou que as netas faziam balé no Núcleo do Nordeste, da Funceb. Então levei Liginha lá, e ela pegou a última vaga”, diz a mãe.

Por causa de seu desenvolvimento, Lígia foi transferida, em 2017, para a Funceb do Pelourinho, que é a escola central e com crianças mais velhas. No ano seguinte, ao ter contato com professores de várias outras escolas, a menina e outros alunos da Funceb foram convidados a fazer aulas de dança contemporânea com adultos na companhia Koru.

A partir desse momento, o professor e a professora de Liginha se empenharam em colocá-la no Bolshoi. “Então, a inscrevemos na seleção e ela passou. Na hora que recebeu o certificado de ‘parabéns’, ela não entendeu o que estava acontecendo. Todos se emocionaram, choraram e a abraçaram naquele momento”, lembra a diarista.

A primeira medalha que a bailarina ganhou também foi em 2019, no dia 14 de junho. “Ela ficou em primeiro lugar. Foi emocionante e muito gratificante. Eu nunca imaginei vendo minha filha dançando assim.”