Bolsonaro mandou trocar ‘Golpe de 1964’ por ‘revolução’ no Enem

De acordo com a Folha de São Paulo, servidores confirmam pressão para interferir no conteúdo da prova

Nessa sexta-feira (19), o jornal Folha de São Paulo fez uma importante denúncia: Jair Bolsonaro teria mandado o ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, que usasse o termo revolução ao se referir ao golpe militar de 1964 no Enem.

Governo enfrenta denúncia de interferência no Enem
Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Governo enfrenta denúncia de interferência no Enem

De acordo com a publicação, o pedido de Bolsonaro ao ministro teria ocorrido no primeiro semestre, segundo relatos de integrantes do governo.

Muito se falou nesta semana sobre a declaração de Jair Bolsonaro em Dubai de que as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) “começam a ter a cara do governo“.

Embora Bolsonaro tenha negado ter visto as questões do exame, às vésperas da realização da primeira etapa do maior e principal exame brasileiro – que acontece no próximo domingo (21), o governo tem se envolvido em denúncias que apontam possíveis interferências no conteúdo da prova e servidores têm denunciado assédio moral.

De acordo com a Folha, por causa da pressão por uma prova com a “cara do governo”, servidores envolvidos com o Enem classificam o clima atual como desesperador com temor com relação a possíveis perseguições e punições caso o exame desagrade Bolsonaro.

Bolsonaro – que é capitão reformado – é publicamente um defensor da ditadura militar (1964-1985) com elogios a torturadores, anulação de anistias e suspenção de busca por desaparecidos políticos. Se referir à época como uma ‘revolução’ contraria os fatos e a historiografia, que apontam o movimento de 1964 como um golpe militar ou civil-militar.

O político sempre fez críticas ao Enem afirmando que a prova reflete ativismo político voltado à esquerda. Desde o início de seu governo há pressão para que a prova não aborde temas considerados inadequados pelo presidente e apoiadores conservadores , tais como: ditadura, questões de gênero, desigualdade social e até racismo.