Bolsonaro prova que ele mesmo é a personificação da velha política

Bolsonaro é viciado em vigarice. Na vigarice de falar o que lhe convém, independentemente do que for e contradizê-las quando julga favorável

28/04/2020 20:49

Todo contexto envolvendo a saída de Sergio Moro do governo, as indicações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a Polícia Federal, seus discursos e mensagens divulgadas sobre estas situações, mostram que Bolsonaro é o maior exemplo do que é a velha política, tão criticada por ele.

Bolsonaro mostra que ele é o maior exemplo do que é a velha política
Bolsonaro mostra que ele é o maior exemplo do que é a velha política - Alan Santos/PR

Mas dizer que Bolsonaro é o mais atual exemplo da velha política nos exige explicar o que ela é. Ela se refere à forma mais nefasta como um político pode se posicionar.

A velha política é a política da conveniência, seja nos discursos, seja em ações práticas. É quando a política serve a benefício próprio e não ao povo. Acontece quando o interesse individual se sobressai ao interesse coletivo. É quando os interesses das grandes corporações, bancos e multinacionais são colocados acima dos interesses dos trabalhadores.

Bolsonaro é viciado em vigarice. Na vigarice de falar o que lhe convém, independentemente do que for e contradizê-las quando julga favorável. Mudar os valores, princípios estabelecidos em uma fala anterior, não é um problema, contanto que isso lhe traga alguma benesse.

Sergio Moro abandonou o governo Bolsonaro, porque o presidente interferiu na escolha do diretor geral da Polícia Federal.

Em novembro de 2018, logo após se eleger presidente, Bolsonaro afirmou: “Eu não vou interferir em absolutamente nada que venha a ocorrer dentro da Justiça no tocante a esse combate à corrupção. Mesmo que viesse a mexer com alguém da minha família no futuro. Não importa. Eu disse a ele. É liberdade total para trabalhar pelo Brasil”.

Passados 17 meses, o discurso mudou, não é mesmo? Bolsonaro rifou a figura mais popular de seu governo, na tentativa de barrar investigações de deputados do PSL, como divulgou Moro ao Jornal Nacional, as mensagens que trocou com o presidente nas vésperas de sua demissão.

Se fosse apenas isso, Bolsonaro já estaria no clã da velha política, mas ele vai além.

Com a nomeação de André Mendonça para o ministério da Justiça e Alexandre Ramagem para a Polícia Federal, Bolsonaro está tentando proteger seus filhos, políticos como ele, de investigações em curso.

Não por acaso, Ramagem é amigo de Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e filho do presidente. Bolsonaro, quando questionado sobre essa relação, em uma rede social, respondeu: “E daí?”.

E daí, que Carlos Bolsonaro (Republicanos), e o filho deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL), são investigados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News. Depoimentos à comissão denunciaram a participação dos dois em campanhas na internet para atacar adversários políticos, com uso de mentiras e notícias falsas.

Fruto da CPMI, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de uma investigação sobre ataques a membros da corte e do Congresso Nacional.

A investigação tramita em sigilo. Bolsonaro afirmou, logo após a saída de Moro, que: “Nunca pedi para ele (Moro) que a PF me blindasse onde quer que fosse”. Mas também disse, no entanto, que pediu informações sobre as atividades da PF a Moro para “bem decidir o futuro dessa nação”.

Moro também denunciou, em sua demissão, a intenção de Bolsonaro de mudar a superintendência da PF no Rio de Janeiro. Outra prática da velha política se evidência neste caso. O filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido) é investigado por seu envolvimento com as milícias. Ele teria lucrado com a construção ilegal de prédios erguidos pela milícia, no Rio de Janeiro, usando dinheiro público desviado a partir do esquema de ‘rachadinha’ (quando funcionários de gabinetes de parlamentares são obrigados pelos políticos a devolverem parte de seus salários) no seu gabinete enquanto era deputado estadual no RJ.

Flávio Bolsonaro tem esse evolvimento com a política nada honroso. Ele já homenageou milicianos, inclusive os que estão ligados ao esquema descrito acima, e fez afirmações como: “A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.

Bolsonaro prova, por mais que esperneie, que a velha política está enraizada na sua forma de governar, assim como seus filhos provam que fazer má política parece vir de berço. É nojento.