Brasileiros lutam para deixar África do Sul e pedem apoio do governo: ‘dependemos 100% deles’
"Tem várias pessoas sem hospedagem e com dificuldade financeira porque não planejaram ficar tanto tempo", denuncia intercambista brasileira
Em meio à crise da pandemia do novo coronavírus, um grupo formado por centenas de brasileiros que viajou à África do Sul cobra resposta do governo para voltar ao país.
Desde que as autoridades sul-africanas adotaram medidas enérgicas para enfrentar a doença_como o fechamento dos aeroportos e cancelamento de todos os voos_a embaixada brasileira e consulados regionais são acusados de não acolher as cerca de 500 pessoas que se encontram, principalmente, nas duas maiores cidades: Johanesburgo e Cidade do Cabo.
A falta de apoio da embaixada, que está com portas fechadas para atendimento, foi denunciada por brasileiros reunidos em um grupo de WhatsApp.
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Sem respostas concretas sobre o retorno, e com o fechamento de hotéis, eles justificam que muitos turistas enfrentam grande dificuldade para permanecer no país que vive sob estado de desastre nacional desde o último dia 16.
Voo para o Brasil
Na próxima quarta-feira, 1, um voo da companhia aérea Latam Airlines está programado para sair de Johanesburgo com destino ao Brasil. A repatriação, no entanto, envolve uma série de percalços logísticos para quem está em outra região do país.
Como a intercambista Laís Fernanda de Souza, que viajou à Cidade do Cabo há quase um mês, é uma dos 118 brasileiros que estão na capital legislativa sul-africana.
Com passagem em mãos, remarcada pela terceira vez, a bancária luta contra o tempo (e a burocracia estatal) para finalmente voltar para casa: isso porque as duas cidades estão separadas por cerca de 1.400 km, ou aproximadamente 14 horas de viagem terrestre.
Omissão
Mesmo com a proibição de voos internos, o governo se negou a disponibilizar transporte de ônibus ou carro até o aeroporto de Johanesburgo. “Antes de fecharem as fronteiras , nós pedimos ajuda [à embaixada] e eles diziam que, enquanto houvesse voos comerciais, não iriam ajudar. Agora dependemos 100% deles. Tem várias pessoas sem hospedagem e com dificuldade financeira porque não planejaram ficar tanto tempo.”
Para a brasileira, o cenário de incertezas e a falta de apoio do governo brasileiro são os fatores que mais pesam neste momento. “Eu não consigo chegar lá sozinha, não tem ônibus e nem outro jeito de viajar para Johanesburgo. Eles não sabem quanto tempo levará para ter outro voo e nem quando poderão nos buscar em Cape Town. Acredito que eles estão trabalhando, mas a ausência de previsão segura é o que mata.”
O que diz a Embaixada ?
Em nota, a Embaixada do Brasil em Pretória se manifestou sobre o assunto e ressaltou não medir esforços para assegurar o retorno dos cidadãos. “A Embaixada do Brasil em Pretória segue em tratativas com o governo sul-africano para confirmar a realização de voo da Latam programado para 1/4 com o objetivo de levar brasileiros não-residentes retidos na África do Sul de volta ao Brasil. Com relação aos passageiros que estavam programados para embarcar neste voo, mas que se encontram na Cidade de Cabo e região, a Embaixada também negocia a realização de um segundo voo, fretado, com escala na Cidade do Cabo. Embora as negociações estejam progredindo, não é possível ainda estimar uma data para a realização do voo. Novas informações a respeito de ambos os voos serão transmitidas assim que confirmadas, por meio dos grupos de WhatsApp e das mídias sociais da Embaixada e do Consulado-Geral na Cidade do Cabo. Estamos trabalhando ininterruptamente com o objetivo de assegurar o retorno dos cidadãos brasileiros não-residentes no mais curto prazo possível.”
O que diz o Itamaraty ?
Em busca de novas informações sobre o assunto, a redação da Catraca Livre entrou em contato com o Itamaraty por meio de sua assessoria de imprensa. Confira a resposta na íntegra:
“Todos os brasileiros retidos no exterior estão sendo considerados pelo Itamaraty e continuamos trabalhando, sem interrupção, para que aqueles que ainda estão enfrentando problemas em seu retorno possam se juntar aos 8.600 nacionais que foram repatriados desde o início da crise.
A prioridade continua a ser dada para que os brasileiros possam ser acomodados nos voos comerciais que ainda estejam em operação. Casos específicos de fechamento de espaço aéreo são analisados individualmente para viabilização da outra solução que permita lograr o objetivo da repatriação.
Informamos que os brasileiros que se encontrarem em situação de dificuldade podem solicitar ajuda ao consulado ou a embaixada em sua região, os quais buscarão, de acordo com as limitações legais existentes, dar apoio aos nacionais em situação de hipossuficiência financeira.”