‘Cadê os Yanomami’: O que se sabe sobre o sumiço da aldeia indígena
O misterioso sumiço de uma comunidade inteira aconteceu após uma terrível denúncia de que uma criança de 12 anos teria sido estuprada por garimpeiros
No último dia 25 de abril, uma grave denúncia na Terra Indígena Yanomami iniciou uma série de questionamentos e apuração da Polícia Federal: o relato é o de que uma menina ianomâmi, de apenas 12 anos, morreu depois de ser estuprada por garimpeiros que exploravam ilegalmente o local.
A comunidade foi encontrada toda queimada e não havia ninguém. O caso se tornou assunto nacional e tem mobilizado lideranças indígenas, autoridades, políticos, artistas e influenciadores que demonstraram apoio à causa repercutindo o que aconteceu pelas redes sociais com a hashtag: “CADÊ OS YANOMAMI”.
Após a denúncia, realizada pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, a Polícia Federal foi até a comunidade Aracaçá, local onde a menina vivia, no entanto, não achou indícios de crime. O caso continua em investigação.
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Artistas como o comediante Whindersson Nunes, Anitta, o DJ Alok e a líder indígena Thyara Pataxó se mobilizaram com o movimento das redes sociais: “CADÊ OS YANOMAMI”.
https://twitter.com/Anitta/status/1521895869137801217
O que aconteceu?
Na noite de 25 de abril, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, divulgou através de uma gravação que uma menina de 12 anos tinha sido estuprada e morta durante um ataque de garimpeiros.
Segundo ele, uma tia, teria tentado salvar a garota. No meio de toda confusão, uma criança, filha dessa mulher, caiu no rio e sumiu. O relato dado por Hekurari, baseado em informações recebidas por ele via rádio, foi encaminhado para o Ministério Público Federal, Funai e Polícia Federal.
De acordo com Condisi-YY, a garota morava na comunidade Aracaçá, região de Waikás, onde há forte presença de garimpeiros e registrou o maior avanço de exploração ilegal, segundo o relatório “Yanomami sob ataque”, da Hutukara Associação Yanomami (HAY).
Em Aracaçá, moravam aproximadamente 30 indígenas. De difícil acesso, é necessário cerca de 1h15 de voo saindo da capital de Roraima, Boa Vista, até Waikás. Para chegar até Aracaçá, são mais 30 minutos de helicóptero ou cinco horas de barco no caminho do rio Uraricoera.
Andamento das investigações
A Polícia Federal e o MPF passaram a investigar o caso. Dois dias depois do relato divulgado por Condisi-YY, uma comitiva com representantes desses órgãos e também da Funai foi até Waikás e Aracaçá.
Em nota conjunta divulgada na tarde da última quinta-feira, 28 de abril, quando retornaram, eles disseram não ter achado nenhum vestígio de crime de homicídio e estupro. Também alegaram não existir indícios da morte de outra criança que teria desaparecido no rio.
No entanto, informaram que prosseguem com a apuração porque as “diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos”.
Hekurari, que também estava presente na comitiva, contou que, em Waikás, o helicóptero que os levava pousou em um espaço utilizado por garimpeiros. Por lá, encontraram alguns indígenas – aproximadamente 7 pessoas – que não quiseram falar muito sobre o ocorrido.
Em outro dia, já em Aracaçá, as equipes, conforme Hekurari, não acharam indígenas e uma das casas se encontrava queimada. Além disso, a comunidade estava vazia.
Existe uma suspeita que os garimpeiros estejam pressionando. Antes da chegada da Polícia em Aracaçá, circularam vídeos nas redes sociais que mostram um garimpeiro sem identificação perguntando a indígenas da comunidade sobre a veracidade das denúncias divulgadas pelo Condisi-YY.
Na mesma data em que a PF foi à região, um representante dos garimpeiros soltou um áudio dizendo que a “paciência acabou” e que “vão responder igual” a respeito de denúncias contra eles.
Quem incendiou o local?
Apesar dos garimpeiros sejam os principais suspeitos de ter realizado o ato, até o momento, não se sabe quem queimou a comunidade. Há suspeitas de que possam ter sido os próprios indígenas.
Em uma nota divulgada na manhã da última sexta-feira, 29, o Condisi-YY disse que é costume, “após a morte de um ente querido”, a comunidade onde ele vivia ser queimada e todos irem para outro lugar.
Na nota, o presidente do Condisi-YY reafirmou o que foi dito ao g1 sobre a suspeita de que os indígenas foram instruídos pelos garimpeiros a não abrir a boca sobre nada.
“Percebe-se, através dos vídeos que esses indígenas, foram coagidos e instruídos a não relatar qualquer ocorrência que tenha acontecido na Região, dificultando a investigação da Polícia Federal e Ministério Público Federal, que acabaram relatando não haver qualquer indício de estupro ou desaparecimento de criança”, diz a nota.
“Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 5 g de ouro dos garimpeiros para manter o silêncio”.
Com informações do G1.