Caso João de Deus: por que precisamos do feminismo

As acusações de abuso sexual crescem a cada dia, revelando o machismo praticado por anos pelo médium

Em parceria com Superela
14/12/2018 19:19

É normal para uma mulher ouvir, em pleno século XXI, que o feminismo é pura vitimização. “Estamos em uma geração mimimi. O machismo não existe”, muitos dizem. Porém, diversas situações provam o contrário. De menina a moça, sim, todas nós precisamos dele. A prova disso (mais uma) são as acusações contra o médium João de Deus.

Para quem não o conhece, João Teixeira de Faria é um dos médiuns mais famosos do Brasil. Nascido em Cachoeira da Fumaça, interior de Goiás, ele atualmente reside e trabalha em Abadiânia, no mesmo estado, na Casa Dom Inácio de Loyola, no qual é fundador . Para se ter ideia, João de Deus já recebeu em seu hospital espiritual milhares de celebridades. Dentre elas, Xuxa, Luciana Gimenez e Naomi Campbell. Já atendeu, inclusive, os ex-presidentes Dilma Roussef, Lula e Bill Clinton.

Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás, onde aconteciam os atendimentos e os abusos cometidos pelo médium.
Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás, onde aconteciam os atendimentos e os abusos cometidos pelo médium. - Divulgação/ Marcelo Camargo/Ag. Brasil

Com o tempo, ele foi ganhando fama devido aos seus dons sobrenaturais até que, como em um pulo, atingiu a fama internacional ao ser entrevistado por Oprah Winfrey em 2012. Muitas pessoas (e celebridades) procuravam-no (e ainda o fazem) em busca de curas para problemas de saúde, físicos e, claro, espirituais.

O machismo disfarçado de crença

Porém, no último sábado, 8, sua fama pareceu tomar outro rumo.  Durante o programa Conversa com Bial, da Rede Globo, 13 mulheres contaram suas experiências com João de Deus e, acredite, os relatos são terríveis.

Elas e milhares de outras pessoas, inclusive sua própria filha, tomaram coragem para denunciá-lo por abuso sexual. De crianças a adultas, muitas foram vítimas de um machismo velado e, pior que isso, de uma crença que deveria servir apenas para o bem.

O médium se aproveitava de suas consultas particulares para abusar dessas pessoas. O comportamento variava entre mandar uma paciente tirar suas calças e tocá-la, pois o centro só permitia o uso de roupas brancas. Até estuprá-la como fez, com sua própria filha, e ameaçá-la depois.

João de Deus atendia cerca de 1000 pessoas por dia na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás.
João de Deus atendia cerca de 1000 pessoas por dia na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás.

Mais uma celebridade “blindada”

As acusações estão sendo estudadas e, a cada dia, novas denúncias chegam ao Ministério Público. Para se ter ideia, até a última segunda-feira, 10, foram computados 40 relatos contra João de Deus. E como se isso não bastasse, sua filha conta que, durante toda a vida, foi ameaçada ‘pelos capangas de seu pai’ a não contar nada sobre o abuso. Aliás, não só ela, mas diversas outras vítimas. Ele usava argumentos como “eu sei onde sua família mora. Vou matar um a um”, e coisas do gênero.

Aí vai um dos depoimentos, dado pela coreógrafa Zahira Lieneke Mous. É só clicar aqui. Em um momento do vídeo, seu relato me tocou bastante. Ela desabafa:

“Você está sendo manipulada a acreditar (…) Isso está tão longe de ser uma cura. (…) Você é arrastada pra dentro disso. Não sei quanto tempo passou, ele me puxou para o banheiro de novo. (…) Ele me penetrou por trás, não consigo nem descrever.”

A defesa de João de Deus

Continue lendo aqui: Da série “por que precisamos do Feminismo”: caso João de Deus

Texto escrito por Mariah Rocha e publicado no Superela